segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Da crueldade contra as crianças

    Para mim, há alguns escritores essenciais. Um deles é o russo Dostoiévski, que toca sempre algo de muito profundo na condição humana, mesmo que para isso – ou por isso mesmo – tenha de lançar mão de explorar nosso lado mais cruel e mais sombrio. Me lembro de que, em outra ocasião, escrevi aqui sobre a relação dele com as crianças, reproduzindo uma passagem de seu diário em que o escritor trata da visão de mundo dos pequenos e sua forma ativa de se relacionar com a realidade. O próprio escritor era alguém que costumava, ao andar pelas ruas de São Petersburgo, parar para conversar com os meninos que encontrava pelo caminho.
     Relendo Os Irmãos Karamázov neste período de férias no Brasil e de reencontro com minha biblioteca, me reencontrei hoje com esta reflexão do personagem Ivan Karamázov, que, após contar algumas histórias chocantes, trata da crueldade daqueles que infligem tormentos às crianças:

...é precisamente o lado indefeso dessas criaturas que seduz os torturadores, e a credulidade angelical da criança, que não tem onde se meter nem a quem recorrer, é o que inflama o sangue abjeto do torturador. Em todo homem, é claro, esconde-se uma fera, a fera da cólera, a fera da excitabilidade lasciva com os gritos da vítima supliciada, a fera que desconhece freios, desacorrentada, a fera das doenças, da pobreza e dos fígados adoecidos na devassidão.

    Busquei sempre ter uma postura firme e estabelecer uma noção muito clara de seus limites. Cheguei inclusive a castigá-lo uma vez, em Belo Horizonte, quando desrespeitou uma interdição de não jogar uma série de pedrinhas que cobriam a terra de uma planta no piso do apartamento onde morávamos. Foram cinco minutos trancado em seu quarto. Você devia ter quatro anos na época. Chorou, mas nunca voltou a fazer aquilo. No entanto, jamais me passou pela cabeça a prática de qualquer ato cruel, humilhante ou desumano por causa de qualquer incidente entre nós. Acho até que tenho sido um pai generoso e protetor, apesar de também instigá-lo a correr pequenos riscos.
     Sempre fico muito indignado ao saber de crianças que sofrem violências por parte de adultos cruéis. Esta é uma de minhas preocupações em virtude da distância em que nos mantemos já por longo tempo. Que as garras da besta-fera que habita todo homem jamais o atinjam, pois isso me atingirá de forma muito intensa. Na minha impulsividade, nem sei do que eu mesmo seria capaz de fazer contra o ofensor.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Um Natal e uma praça

     Cheguei a Divinópolis na véspera do Natal. Aí está a Praça da Catedral, na vizinhança da casa de minha mãe. Muitas vezes o levei para brincar neste lugar, que possui toda a atmosfera acolhedora do meio provinciano. Quando você era bem pequeno, gostava de subir escadas, descer rampas correndo, empoleirar-se em árvores, brincar na areia com seu baldinho e sua pá. Eu me mantinha sempre a seu lado, brincando com você e protegendo-o de pequenos perigos.
     Há dois dias, na noite de Natal propriamente, trocamos mensagens pelo telefone. Você me disse que gostaria de estar comigo em Divinópolis, na "casa da Vovó". Eu lhe mandei meu abraço e meus votos de que possamos estar juntos mais vezes e por mais tempo em 2014. Apesar de tudo o que temos perdido, nos últimos tempos tenho estado mais sereno. Sei que nossos laços de afeto nunca foram rompidos e que, dentro de mais alguns anos, quando você for mais independente, passaremos outros Natais juntos, faremos outras viagens juntos, assistiremos a outros jogos juntos e nós mesmos jogaremos juntos. O tempo sempre ajusta as coisas em nossas vidas. Portanto, este impaciente vem tendo, há alguns anos, boas lições de espera e de esperança.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Bola pra frente!

     Reencontrei-o hoje. Almoçamos juntos e passamos a tarde numa longa conversação sobre o que anda acontecendo em nossas vidas. Acabo de lhe enviar algumas fotos que tirei de nós na seção infanto-juvenil da livraria Saraiva, onde ficamos por algum tempo.
     Estes são os presentinhos de Natal que lhe dei: uma fantasia de leão para lutarmos sobre a cama, uma camisa do Galo, uma camisa amarela de mangas compridas (para você jogar futebol em dias frios), um caneco com o tema de bichos da fazenda (para você tomar seu café pela manhã), um desses telefones chamados "inteligentes" (para estarmos em contato através de um programa de envio e recebimento de mensagens instantâneas), o livrinho A Arca de Noé, de Vinicius de Moraes. Desde que retornei para casa, já recebi muitas mensagens suas dizendo que me ama "muuuuuuuuuuuuito". Respondi-lhe à altura e lhe enviei as fotos tiradas hoje.
     O Galo perdeu hoje na semifinal do Mundial Interclubes e não estará na decisão. Mas, como lhe expliquei numa mensagem pelo telefone, a derrota faz parte da vida. Temos de levantar a cabeça e partir para outra.
    Iríamos nos encontrar novamente no sábado, para jogar bola, mas há pouco você me comunicou que isso não será possível, pois vai viajar. Fiquei triste, mas tudo bem. Ao menos agora poderemos estar em contato através da tecnologia moderna. Bola pra frente!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um coraçãozinho feliz

     Andando vagamente pelas ruas de São Paulo, me deparei hoje com este coraçãozinho feliz desenhado sobre uma pedra do calçamento de uma rua do Butantã. Houve uma identificação imediata, pois é assim que o meu está se sentindo diante da iminência de encontrá-lo e passar o dia com você. Telefonei-lhe muitas vezes, mas seu celular estava sempre desligado. Liguei para a empregada de sua casa, mas o aparelho dela também estava indisponível. Até que consegui falar com sua ex-babá, que mais uma vez intermediou nosso encontro, que deve acontecer depois de amanhã. Tenho muita coisa para conversar, muitas histórias para lhe contar e muito a ouvir de você.
     No próximo domingo, o Galo deve disputar a final do mundial interclubes contra o Bayern de Munique. Minha intenção era ir para Minas no sábado, mas considero seriamente a possibilidade de ficar em São Paulo até domingo, a fim de que possamos assistir ao jogo juntos. Será algo marcante vermos juntos o Galo sendo campeão mundial. Se é que nos será possível fazer isso. A experiência pregressa não é nada auspiciosa nesse tipo de ocasião.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Outro retorno provisório

     Acabei de chegar a São Paulo, após uma viagem muito longa a partir de Londres, com conexão em Madri. Estou cansado, mas ainda assim fui resolver algumas questões bancárias e também fui visitar a feira de livros da USP. Ainda no aeroporto telefonei para você, mas seu celular estava desligado. Não vejo a hora de reencontrá-lo.
     É sempre uma felicidade estar novamente no Brasil. No caminho do aeroporto para casa, já pude sentir de novo os nossos cheiros, a nossa conversa, o nosso jeito de ser. Saí de uma temperatura de 2°C para quase 30°C. Vi também muitos dos nossos problemas pelo caminho: caos urbano, poluição dos rios, transporte público de péssima qualidade, muitas pessoas vivendo mal.
     No avião, vários de nossos patrícios viajavam com a camisa da Seleção Brasileira como uma espécie de senha para o resto do mundo. De minha parte, apesar de amar o futebol e a Seleção, não sou desses patriotas de Copa do Mundo.
     Mas o que importa é que estou novamente no Brasil, para as festas de fim de ano e principalmente para revê-lo após aguardar por isso durante alguns meses em que minha cabeça não saiu daqui. Espero poder falar com você mais tarde e marcar mais um desses poucos mas intensos encontros que temos tido por ano.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Velhos da minha infância

     Minha infância em Divinópolis foi povoada por velhos, e eu era muito próximo de alguns deles. Me lembro de meu avô materno, que era um homem de forte personalidade, sempre fumando um cigarro de palha e próximo de um fogão a lenha que havia em sua casa. Originário de regiões rurais nas proximidades de São João del Rey, ele encarnava a riqueza da cultura caipira, com todo o seu acervo de histórias, músicas e trejeitos originais. Ainda no campo da cultura caipira, me recordo de Carrico, um velhinho de 1,50m de altura, sempre com seu chapéu na cabeça, fumando um cachimbo. Morava de frente a minha casa, numa ruazinha sem calçamento significativamente chamada de Passa Tempo. Com uma fala arrastada e voz fina, vivia contando, para os meninos da vizinhança, histórias de seus encontros com onças pintadas, lobisomens e sacis.
     Três casas para cima da nossa, vivia uma senhora chamada Maria Vilela. Devia ter perto de 80 anos e não se cuidava muito bem, pois tinha uma aparência de bruxa de contos de fadas, com vestidos remendados, cabelo em desalinho, dentes com falhas, uma grande verruga no nariz e voz rouca. Corria que era feiticeira, e todos temiam seus possíveis poderes sobrenaturais. Vivia com seu filho Zé Vilela, já um quarentão lá pelo começo da década de 1980, de quem me lembro gabando-se para as mulheres de que se parecia com o príncipe Charles!
    D. Deolinda era uma benzedeira a quem minha mãe costumava me mandar sempre que me surgia alguma erupção de pele por passar o dia jogado futebol na rua ou em campinhos de terra, ou em virtude de contatos com sapos e outros bichos não muito limpos. Aparentemente suas benzeduras funcionavam muito bem.
   Havia Nilo da Peroba, um misterioso andarilho, permanentemente cruzando a cidade de um lugar para outro, em silêncio. Era altíssimo, e ninguém nunca ouviu sua voz.
     E havia os velhos que ficavam furiosos quando alguém aludia a seus defeitos físicos ou psicológicos. Boneca era uma senhora que sempre passava pela rua Passa Tempo acompanhada por um séquito de uns trinta cachorros. Se alguém lhe gritava o apelido, ela jogava pedras na direção do atrevido, e seus cachorros disparavam a latir em coro. Mazzaropi, um velho que realmente se parecia com o personagem do cinema, também perdia as estribeiras ao ser chamado pelo apelido, prometendo, aos gritos, capar o ofensor. Venerando e Lúcia eram dois velhos irmãos mudos, que só emitiam sons inarticulados. Possuíam gatos, que eram tratados como filhos, e também ficavam fera se alguém aludia a sua mudez ou assustasse seus vários felinos.
     De minha parte, sempre me senti bem na companhia dos velhos e tenho admirado bastante alguns deles. Ainda vivi um tempo em que envelhecer não era um crime, em que os velhos não eram descartados em asilos ou quartinhos no fundo das casas, mas participavam plenamente da vida comunitária. Minhas duas avós mesmas, que morreram recentemente, ambas com quase cem anos, foram pessoas com vida ativa e voz na família.
     Crescendo num apartamento em São Paulo, frequentando uma escola de professores jovens, transitando o tempo todo por entre uma fauna juvenil, você tem tido pouco contato com pessoas mais velhas. No entanto, sempre que puder, aproxime-se dos velhos. Eles têm sempre um tesouro de lembranças, experiências e episódios imaginários que vale a pena compartilhar. Esse modo adolescente de estar no mundo que está hoje em voga não passa de uma moda que haverá de passar sem deixar muitos vestígios.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Trabalho e sucesso

     Neste fim de ano, por estar tendo de me haver com dois empregos, me sinto meio irritado com a absorção de meu tempo de ler, escrever, ouvir música e praticar esportes. Felizmente entraremos num período de férias, que passarei no Brasil. Estou sentindo falta de você, das pessoas queridas e de nossas coisas.
     Essa dedicação a dois trabalhos vai terminar em breve. Dentro de alguns meses, quando terminar um de meus contratos, não vou renová-lo. Preciso de mais dinheiro por agora e acabei me sujeitando a ficar me desdobrando entre um emprego e outro, uma cidade e outra, em diferentes dias da semana. Sou radicalmente antipático ao atual culto do chamado "sucesso profissional" como parâmetro para a avaliação das pessoas, em especial como aspecto determinante da boa vontade alheia em relação a nós.
     Sempre que vou ao Brasil, sou incensado por alguns amigos me consideram um bem-sucedido por trabalhar em duas universidade importantes da Europa, publicar alguma coisa aqui e ali e ter meu nome em jornais de vez em quando. Não partilho de seu entusiasmo, apesar de saber que tenho tido uma trajetória pouco convencional. Tenho fracassado muito mais que obtido sucesso em meus empreendimentos. E minhas realizações tem sido muito pequenas. Gostaria de realizar algo bem mais significativo, possivelmente no campo da literatura. Se tenho tido algum mérito, este tem sido o da coragem de percorrer um caminho de perspectivas bastante limitadas, buscando seguir minha vocação e fazer com paixão o que gosto de fazer.
     Recentemente assisti, no teatro, a uma montagem da peça The Glass Menagerie, de Tennessee Williams, uma das minhas favoritas em toda dramaturgia mundial. Desde o primeiro contato, me apaixonei pela personagem Laura Wingfield, que passa a vida cuidando de uma coleção de bichos de cristal e cuja existência se realiza através da mais pura poesia.
     Talvez eu esteja escrevendo isto para lhe dizer que não há nada de errado com alguém que escolhe passar a vida criando os filhos, ou viajando pelo mundo, ou tocando um instrumento musical, ou escrevendo poemas. Tenho conhecido pessoas maravilhosas que vivem à margem dos costumes hoje dominantes. Jamais tenha medo de seguir contra a corrente ou de enxergar a vida de um ponto de vista diferente.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Do exotismo



      Gosto de sair em Londres à noite e observar a cidade e as pessoas. A cidade parece ficar ainda mais bonita com as luzes acesas, tantas coisas acontecendo por todo lado e muita vida nas ruas. As pessoas são sempre uma surpresa. As tribos urbanas parecem preferir a noite para se mostrarem. Os mais exóticos, muitas vezes os mais espantosos visuais se mostram por todo lado. Apesar de não ter interesse em fazer nada semelhante no plano da aparência física, tenho simpatia por essas pessoas que confrontam as convenções, o óbvio e o consagrado como “normal” ou “de bom gosto”.
     Na noite de ontem, fui ao National Theatre para assistir a uma montagem da peça Da Manhã à Meia-noite, do expressionista alemão Georg Kaiser. Logo depois, fui ao encontro de alguns amigos num bar à margem sul do Tâmisa, onde fiquei até relativamente tarde. Quando voltava para casa, encontrei muitas daquelas criaturas da noite pelo caminho. Acho curiosa a naturalidade como todos por aqui convivem com elas. Ninguém sequer as olha, só eu, que serei para sempre este mineiro do interior. 
   Dentro de mais alguns anos, você entrará na adolescência. Pode ser que venha a ter alguma atração por algumas bizarrices visuais, apesar de eu achar que isso não deve acontecer com intensidade, pois sua personalidade parece tender a certa seriedade e contensão. Mas a rebeldia natural dessa fase pode até encontrar alguma vazão nesse tipo de atitude. Quero estar lá para ver e acompanhar isso.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Uma referência identitária

Hoje, na universidade, conduzi uma atividade em que meus alunos fizeram uma excelente apresentação sobre Clarice Lispector, centrada no romance A Hora da Estrela e no conto “Laços de família”. Fiquei feliz com o resultado, pois percebi que eles foram tocados pela obra da grande escritora brasileira. Muito se falou na questão da identidade, que é um tema constante de Clarice. Ela mesma, como seus personagens, foi alguém que se perguntou o tempo todo quem era, nunca tendo encontrado resposta satisfatória.
De minha parte, vivendo no exterior e tendo passado por diversos recomeços na vida, sempre preciso encontrar uma ancoragem identitária, me afirmando como brasileiro, homem, pai, filho, professor, escritor, amante da literatura, do teatro e do futebol e tantos outros papéis, tantas outras máscaras que são assumidas às vezes ao longo de um único dia.
Se nesta altura da vida, apesar de meus marcos identitários, não possuo uma identidade monolítica nem estritamente coerente, imagine-se você na exuberância de seus oito anos! De todo modo, como o que somos é algo construído com os outros, quero estar presente em sua vida e ser uma referência para a construção de sua personalidade, inclusive no que se refere a coisas que você haverá de negar e não aceitar.

sábado, 23 de novembro de 2013

Dos seus valores

    Acabo de ler no jornal uma série de números impressionantes relacionados ao suicídio. Por ano, mais de um milhão de pessoas se suicidam em todo o mundo. No Brasil, a despeito de nosso estereótipo de povo otimista e feliz, ocorrem, em média, 25 suicídios por dia. Em nossa família mesma houve um suicídio nos anos 1970, quando eu tinha seis ou sete anos. Desde que esse meu tio por parte de mãe pôs termo à vida, o assunto se tornou um tabu nas conversas entre meus parentes. E na adolescência também perdi assim um amigo, ficando muito chocado por muito tempo após receber a notícia.
     Sem dúvida que a principal causa do número elevado de suicídios no mundo atual é a desvalorização da vida e a desumanização das pessoas em prol da supervalorização das mercadorias, do dinheiro e do chamado "sucesso". Os deserdados desse paraíso do mercado são considerados "fracassados", "vagabundos", "indesejáveis", "gente que não vale nada". Quantas vezes na vida eu mesmo fui considerado assim por certa gentalha pequeno-burguesa que um dia foi próxima de mim e - ainda pior - quantas vezes eu mesmo me senti de fato assim! 
     Se levei algum tempo para entender que não havia nada de errado comigo e que eu apenas possuía valores diferentes, a meu ver mais sólidos, gostaria que você não tivesse de passar pelos conflitos que passei para entender o que hoje entendo. Por coisas assim é que considero muito importante que eu seja sempre próximo de você. 
   Viva sempre sem medo da opinião dos outros. Especialmente não participe dos valores desses eunucos morais da classe média paulistana. Cultive sempre o conhecimento, a amizade de pessoas não convencionais, uma experiência de vida qualificada em que você se arrisque em coisas novas, em relações apaixonadas e vitais. Jamais trate as pessoas como coisas nem acredite que exista alguém que nada valha ou nada tenha a dizer.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um outono invernal

     Estamos avançados no outono, mas já com temperaturas de inverno. Nos parques e praças, o chão está coberto de folhas que caíram para que as árvores possam se proteger e reservar energia para as épocas mais amenas do ano. Neste momento, faz 3°C lá fora. Ainda bem que passarei um mês no Brasil entre dezembro e janeiro! 
     Já não vejo a hora de reencontrá-lo. Estou sentindo muita saudade de você, a ponto de, noite passada, haver sonhando que o carregava nos ombros pelas ruas enquanto conversávamos sobre diversos assuntos, como costumávamos fazer há alguns anos, quando você era ainda bem pequeno.
     Amanhã é aniversário de minha mãe, sua avó. Telefonarei para casa e lhe darei minhas congratulações. Ela tem sido alguém muito importante em minha vida. Se tenho tido as oportunidades que tenho tido, devo-lhe muito disso. Além da educação para a integridade que me proporcionou, me recordo sempre do quanto ela trabalhou duro - chegando a lavar roupas de famílias de classe média alta e a fazer duras faxinas em suas casas - para que seus filhos pudessem ter um mínimo, pois meu pai andava sempre desempregado no decurso dos anos 1980 e 90. No meu caso, a despeito de tantas privações, pude não ter de começar a trabalhar muito cedo e me dedicar intensamente aos estudos. Se hoje estou aqui, devo isso em boa parte a minha mãe, que sempre se lembra de você e lamenta o longo tempo em que fica sem contato com sua conversação, seu abraço e seu beijo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Rumo ao fim do ano

     Estou hoje em Cambridge, onde tenho passado as noites de segunda para terça-feira. Me lembro de que meio subitamente faltam pouco mais de três semanas para que eu embarque para o Brasil. Nos dias que passarei em São Paulo, desejo que façamos várias coisas juntos. Gostaria inclusive de lhe dar uma pequena câmera fotográfica que tenho aqui e que possamos sair para um passeio pela área central da cidade, a fim de fotografá-la em todo o esplendor de sua história, todas as suas contradições e sua miséria. Pode ser algo muito interessante com que ambos aprendamos bastante. E muito conversaremos sobre essa experiência.
     Outra coisa que gostaria de fazer com você é assistir ao mundial de clubes, em que o Galo estará presente, sendo provável que faça uma final com o Bayern de Munique, um time poderoso. Inclusive lhe darei outra camisa de nosso time. Espero ainda que possamos também jogar futebol juntos, ambos com a camisa do Galo.
     Enfim, estes são meus pequenos grandes planos para o tempo restrito que teremos para nos encontrar, já que não nos será permitido passar, por exemplo, Natal ou Ano Novo juntos. Mas seremos felizes e faremos nossas festas em dois ou três dias comuns de dezembro.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

No fim de uma aula

    Como  parte  do  curso  de  literatura  brasileira contemporânea que estou conduzindo neste semestre, tenho tratado, nesta semana, de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. Acabo de chegar a meu escritório, vindo de uma aula em que falei sobre essa obra com brilho nos olhos, pois é um livro inesgotável, que está entre o que de melhor se tem publicado no Brasil, nas últimas décadas. À parte o âmbito estético - o que importa essencialmente - para mim a narrativa de Nassar tem um significado ainda mais forte, pois centra-se na relação de um patriarca autoritário com um filho que se rebelou e fugiu de casa, retornando após algum tempo para presenciar a destruição da família. Ao finalizar minha análise de Lavoura Arcaica em sala de aula, levanto para mim mesmo uma série de questões, algumas delas relacionadas a como não ser pai.
     Meu  próprio  pai  foi  uma  pessoa  distante,  um  homem estranho e pouco afetivo a quem nunca me senti vinculado e a quem nunca compreendi. No entanto, quero algo bem diferente com você. A despeito desta distância obrigatória em que tenho de me manter, quero ser um pai que participe de seu desenvolvimento e de sua formação para a liberdade. Muito especialmente desejo ser um companheiro em quem você confia, com quem possa partilhar seus momentos de felicidade e a quem possa recorrer nos momentos de dificuldade, medo e aflição.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Para não esquecer

     Neste meu último dia em Budapeste, visitei um museu chamado Casa do Terror, que conta a história das muitas infâmias que a Hungria teve de enfrentar ao longo do século XX, praticadas pelos regimes totalitários do nazismo e do comunismo soviético. Apesar de antagônicos politicamente, tais regimes foram parecidíssimos na sua essência e deixaram um legado de horrores que não pode ser esquecido. Por isso, apesar das histórias chocantes que vemos contadas nesses museus, eles são fundamentais e devem ser visitados. Como escreveu George Santayana: "Os que esquecem o passado estão condenados a repeti-lo". 
   Como nossa espécie pôde ser capaz de tanta monstruosidade! Na própria história do Brasil, pontuada por várias ditaduras, a tortura, o assassinato e toda sorte de horrores foram cometidos por fanáticos que se apossaram do Estado e eliminaram toda contestação através do crime. O pior é que não é difícil encontrar imbecis que defendem o autoritarismo como solução para nossos problemas. E ainda pior é não termos até hoje acertado as contas com os fascínoras de nossa última de ditadura, vários ainda vivos e em liberdade.
     Jamais se torne escravo de nenhuma ideologia, seja ela política, religiosa ou de qualquer âmbito. Jamais se fanatize por nada. Muito cuidado com lideranças muito fortes e muito carismáticas. Jamais siga a multidão. Questione sempre seus professores, seus colegas, a mim mesmo. A realidade e a verdade são construções sociais que precisam sempre ser reformuladas. Seja você mesmo, pense por você. Isso não quer dizer que não deva ter nenhuma ideologia. Eu mesmo sou claramente um homem de esquerda, que deseja ver a riqueza que o homem produz ser utilizada para promover a felicidade de todos. No entanto, jamais me identiquei com o jeito grosseiro e acéfalo de ser de esquerda nem jamais vou aceitar que a busca de igualdade seja feita ao custo da liberdade das pessoas, de sua massificação e sua desumanização, como infelizmente ocorreu no que um dia se chamou de "socialismo real".

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Duas surpresas em Budapeste

     Há alguns dias declarei uma paixão súbita por Viena. Não imaginava que pouco tempo depois gostaria ainda mais de Budapeste. Nestes quatro dias que estou passando na Hungria, tenho ficado muito impressionado com a beleza da cidade, sua cultura e sua gente. Espero que você também possa conhecê-la um dia. 
    Agora há pouco saí para jantar num restaurante nas proximidades do hotel onde estou hospedado. Ao entrar no salão onde ficam as mesas, subitamente fui transportado ao Brasil por uma dupla de músicos húngaros que tocam bossa nova a noite inteira. Tocaram (e bem) muito Tom Jobim, muito João Gilberto, muito Carlos Lyra. Cantavam algumas canções em português com sotaque, sem entender o que estavam dizendo, mas com boa pronúncia. Pela primeira vez na vida, ouvi "Garota de Ipanema" numa versão para o húngaro. Foi a minha vez de não entender nada, mas de me divertir com algo tão familiar tornado tão exótico para nós. Quando o garçom soube que eu era brasileiro, foi avisar aos músicos para capricharem. Sem dúvida, a trindade bossa-novista (Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto) fez muito pelo Brasil, que deve a eles uma parte da popularidade de que desfrutamos no exterior.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Uma algazarra

     Andando hoje por uma praça no centro de Viena, me deparei com este grupo de crianças perseguindo e estourando bolas de sabão feitas por uma senhora que transportou para lá todo um equipamento para fazê-las. Aí está uma típica brincadeira que o diverte. Adoro esse júbilo gratuito que se vê expresso no rosto desses meninos e que estaria também no seu, caso estivesse aqui comigo. Felizmente ainda há muita coisa boa que não está na dependência do dinheiro nem das atitudes pragmáticas para se realizarem. A alegria de viver é uma delas.

sábado, 2 de novembro de 2013

Uma paixão à primeira vista pela Áustria

     Depois de uma semana em que estive envolvido com uma variedade de compromissos nas duas instituições em que estou trabalhando, começou hoje para mim uma semana de folga. Assim, resolvi partir para Viena, onde cheguei hoje pela manhã. Estou impressionado com a beleza da cidade e sua efervescência cultural, especialmente no campo da música. Não por acaso, a Áustria é a terra de tantos grandes mestres da música erudita. Uma de minhas primeiras visitas aqui foi ao Hofburgtheater, que fica na área central, próximo ao rio Danúbio. Você que, para minha surpresa e minha alegria, tem revelado grande interesse e aparentemente talento musical, estaria muito bem aqui. 
     Amanhã, que será um domingo com um chuvisco indo e vindo, visitarei o palácio Schönbrunn, que foi a residência de verão dos Habsburgos, família imperial da Áustria dos séculos XIII a XVIII, mas cuja completa dissolução só ocorreu em 1918. Será uma boa aula de história.
     Ainda estarei aqui mais alguns dias. Há ainda muito o que fazer. Somente na quarta-feira partirei para Bratislava, na Eslováquia, numa viagem de barco pelo Danúbio, cujas águas são tema de uma valsa eterna de Strauss. Na quinta pela manhã, irei para Budapeste, cidade pela qual tenho grande interesse.
     Hoje comprei um cartão para lhe enviar. Se não posso tê-lo aqui, ao meu lado, ao menos tentarei partilhar com você um pouco das coisas que tenho encontrado pelo caminho.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dos sentimentos

     Relendo algumas passagens das coisas que lhe escrevo por aqui, me dou conta de que às vezes o sentimento transborda. Mas não me importa. A esta altura da vida, depois de tudo o que já passei, não tenho nenhum medo de parecer ou mesmo de verdadeiramente ser sentimental. Se num ensaio sobre algum tema literário, escrito em conexão com meu trabalho, tenho de tentar manter certo distanciamento, com você mantenho toda a proximidade possível. Jamais serei contido nem buscarei uma frieza sofisticada quando o assunto for meu filho. Aliás, para ser sincero, não faço isso em nenhuma outra situação. Pertencemos a um povo incandescente de paixão, que costuma viver de paroxismo em paroxismo. Isso tem sido nosso céu e nosso inferno. Mas antes ser assim a representar um refreamento afetado de bom-tom.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um resfriado

     Um tanto de repente, diante das mudanças do tempo e principalmente pelo fato de pegar metrô bastante cheio todas as manhãs, peguei um forte resfriado que está me chateando muito. Quando chega a noite, as coisas pioram e o mal-estar aumenta. Nessas horas, sinto ainda mais saudade do Brasil, onde estão minha família e meus amigos; onde está você. Quando não nos sentimos bem vivendo no estrangeiro, passamos a ter uma consciência ainda maior de nossa solidão e de nossa precariedade neste mundo. Porém já estou me tratando, e o ciclo do vírus que adquiri haverá de se completar em breve.

domingo, 20 de outubro de 2013

No primeiro dia

     Não me lembro se é de Millôr Fernandes esta frase: "Só há uma coisa mais indefesa que um recém-nascido: um recém-pai". Ela me veio à memória agora há pouco, quando repassava algumas fotografias na tela de meu telefone e vi uma do dia de seu nascimento, tirada por mim. Você está deitado numa balança, em seu primeiro minuto neste mundo, chorando fortemente e se debatendo com braços e pernas. O painel do aparelho mostra 3,625 kg. Me recordo de que, após limparem-no e cobrirem-no com um manto verde, peguei-o no colo, ainda meio sem jeito. 
     Há também uma foto daquele dia em que estou recostado na cama, com você, pequenino, aninhado sobre meu peito. Em geral sou visto como uma pessoa forte (e tenho tido de sê-lo realmente). Mas naquela manhã de domingo ensolarada em Belo Horizonte, num momento crucial de minha vida, com meu bebê ali dormindo sobre mim, eu me sentia tão indefeso quanto você, ou mais. Porém feliz.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uma reviravolta da vida

     Ontem recebi um telefonema da chefia do Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Cambridge, que é uma das melhores e mais prestigiosas do mundo, me convidando para trabalhar lá dois dias na semana. Hoje fui visitar a instituição e me reunir com as pessoas responsáveis pelos Estudos Brasileiros. Assinei um contrato por apenas um ano acadêmico e darei poucas aulas, apenas nas segundas e terças-feiras. De todo modo, jamais imaginei que um dia seria professor em Cambridge.
     Como sempre dormirei por lá de segunda para terça daqui para frente, aproveitarei os fins de tarde para correr às margens desse riacho que passa pelo campus. E sempre nos imaginarei jogando bola por esses amplos espaços abertos, com gramado muito bem cuidado.
     Obviamente estou feliz por estar bem aqui e por ver meu trabalho valorizado e respeitado, ainda mais depois de tudo o que passei no Brasil, muito especialmente entre os anos de 2006 e 2010, quando fui muito achacado, tendo, de quebra, de enfrentar a falta de perspectivas e uma situação financeira muito precária. Mas o pior não foi isso. Eu sabia que me reergueria. O pior foi ter sido obrigado a me manter a distância de você. Esta foi (e ainda tem sido) a minha grande perda.

sábado, 12 de outubro de 2013

Individuum

     Relendo Nietzsche agora há pouco, em Aurora, pensei nas muitas vezes em que o tenho aconselhado a ser você mesmo, a preservar sua individualidade e a jamais fazer parte de qualquer tipo de rebanho humano. No caso, o grande pensador tratava da ideologia do trabalho como algo desumanizador. Escreve ele:

     Na glorificação do “trabalho”, nos infatigáveis discursos sobre a “bênção do trabalho” vejo o mesmo pensamento secreto que nos louvores dirigidos aos atos impessoais e úteis a todos: a saber, o medo de tudo o que é individual. No fundo, sentimos hoje, perante o trabalho – queremos sempre significar com esta palavra o duro labor do nascer ao pôr do sol –, que ele constitui o melhor dos polícias, que segura os homens pelas rédeas e se dedica a entravar poderosamente o desenvolvimento da razão, dos desejos, do gosto da independência. Justamente porque consome uma quantidade extraordinária de energia nervosa e a subtrai à reflexão, à meditação, ao sonho, aos desejos, ao amor e ao ódio, apresenta à vista um objetivo mesquinho e assegura satisfações fáceis e regulares. Assim, uma sociedade em que se trabalha contínua e duramente, terá maior segurança: hoje em dia adora-se a segurança como se fosse a suprema divindade. – E depois! Horror! O próprio “trabalhador” tornou-se perigoso! O mundo formiga de “indivíduos perigosos”! E atrás deles o perigo dos perigos – o individuum!

     Espero vê-lo, ao longo da vida, a se dedicar àquilo de que gosta, honrando seu tempo com aquilo que lhe dá prazer e que faz com amor, mesmo se o que estiver fazendo não for algo muito popular, muito útil nem muito rentável. Que inclusive não abra mão do honorável tempo de não fazer nada. Quase sempre é na lentidão, no silêncio, no intervalo de grandes agitações que as coisas mais significativas da vida acontecem. Portanto, nunca tenha medo de ser uma pessoa autêntica, o indivíduo a que se refere o filósofo.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um poema de 2006

     Revirando meu computador no fim de semana, encontrei um poema que escrevi quando você tinha um ano de vida, em 2006. Para meu azar, dei-lhe o título de “O filho eterno”, expressão recorrente no meu texto e que pouco tempo depois apareceria como título de um excelente romance de Cristóvão Tezza sobre a relação de um pai com um filho com síndrome de Down. Nele eu trato de nossa relação, de sua liberdade e sua pureza, arrematando-o com uma expressão que dialoga com o final de um poema de Drummond sobre um filho que ele não chegou a ter. Aí vai o meu texto, cuja leitura me emocionou nesta longa distância em que sou obrigado a manter de você, consciente que estou de tudo o que estamos perdendo:

     Passeando nos meus ombros
     o filho eterno olha para frente
     – a vida inteira diante de si.

     Sobre Deus e o mundo conversa
     o filho eterno, distribuindo por quês
     para cada pequeno mistério.

     Os olhos encantados, a vida plena
     o filho eterno atira pedras na água
     arrebatado pelas ondulações.

     Corre o filho eterno pelos campos
     pelas ruas, pelo tempo, pelos sonhos
     – atravessa horizontes, fura o céu.

     Brinca nos meus pensamentos
     Ri seu riso solto no meu coração
     O filho eterno faz-se por si mesmo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Flores, cores, odores

     Aqui, estamos já no outono, em transição para o inverno. Tivemos uma primavera e um verão muito agradáveis e muito bonitos. Desde março ou abril, a cidade se povoou de muitas cores e muitos perfumes. Eu sempre passava diante dessas janelas em Euston, na área central, onde morava até recentemente. Muitos jardins por toda a cidade estavam exuberantes. Mas o tempo corre, e as estações vêm e vão. Outra vez recomeçará uma longa temporada de frio.
     Sempre que passo por lugares assim, penso em você e gostaria de tê-lo a meu lado numa longa e folgada conversa em que pudéssemos borboletear por assuntos diversos na alegria de estarmos juntos. Que a crueldade e o prosaísmo da vida nunca matem em você o lirismo, a paixão e a simplicidade.

domingo, 29 de setembro de 2013

Outra mudança

     Outra vez tive de me mudar, desta vez contra a minha vontade. Há cinco dias deixei a área central da cidade e vim para Wandsworth, bem pertinho do bairro de Tooting Bec, onde ficava meu primeiro endereço por aqui. É uma área cheia de parques e áreas verdes onde espero continuar bem, apesar de novamente ter de pegar metrô e fazer uma viagem de 40 minutos todos os dias. Ao menos terei muitos lugares propícios para o futebol, as corridas e os exercícios físicos.
     Bem ao lado da casa que aluguei fica um clube onde sempre vejo meninos de sua idade, aparentemente escolares, disputando alguns jogos de futebol em uniformes um tanto coloridos demais. Correspondendo à tradição inglesa, sempre vejo muitos chutões e muita correria. Se você estivesse lá, colocaria a bola no chão e faria um jogo de classe, com dribles na hora certa e passes certeiros.
     Saí pela região hoje à tarde, numa longa caminhada. Estou me sentindo um tanto triste nestes dias. Talvez meu coração tenha ficado no Brasil por ocasião de minha última viagem, não tendo retornado ainda para cá. Amanhã mesmo, porém, estarei novamente muito envolvido na rotina de aulas, exames e pesquisas. Isso me ajudará a não ficar cultivando esse sentimento e, ao mesmo tempo, a aproveitar as coisas boas que tenho aqui.

sábado, 28 de setembro de 2013

Seu violão, meu engajamento

     Quando nos encontramos em São Paulo, no mês passado, você me contou que possui um violão e que já sabe tocar “Yellow submarine”. Prometeu até trazer o instrumento na próxima vez em que nos encontrarmos, em dezembro, para tocar para mim. Veremos isso. Estou ansioso por esse momento.
     Por aqui o frio começa a chegar. Os clássicos dias cinzentos e úmidos já se fazem presentes, e isso é apenas o início de uma longa temporada. Felizmente poderei escapar disso por um mês, já durante o alto inverno.
     Tenho trabalhado muito e tenho estado muito engajado nas atividades do início do ano acadêmico europeu, mas estou sempre pensando em você. Nestes últimos dias, a saudade está forte. Nesta semana, por exemplo, meu pensamento voou até São Paulo ao organizar as coisas em meu novo escritório na universidade e colocar lá, num porta-retratos, duas fotos de nós dois jogando futebol.
     Estou bem aqui, mas hoje me passou pela cabeça, pela primeira vez desde que vim para cá, o momento de retornar ao Brasil. Não posso fazer isso agora e tenho dois anos de contrato de trabalho pela frente. Mas ao final desse tempo não pretendo continuar em Londres e considerarei minha missão cumprida. Tenho muitas compensações por estar num lugar como este, mas minhas perdas têm sido muito maiores. Ficar longe de você e encontrá-lo apenas uma ou duas vezes por ano tem sido a maior delas. Será uma felicidade retornar, ainda que eu saiba que terei de enfrentar muita sordidez em São Paulo para tê-lo a meu lado.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Lendo com meus alunos e com você

     Estamos em início de ano letivo na Europa. Por isso, desde que retornei do Brasil tenho trabalhado bastante na introdução de meus cursos, muito especialmente aqueles voltados para a literatura brasileira. Hoje mesmo, quando dava uma aula sobre A Hora da Estrela, pude testemunhar a comoção provocada por nossa Clarice Lispector nos alunos ingleses. Talvez uma pequena parte disso se deva a minha própria abordagem do livro, que foi feita com paixão.
     Lembro que passamos algumas horas numa livraria de São Paulo, quando nos encontramos pela última vez. Você me contou dos livrinhos que tem lido, e rimos juntos ao ler um deles, intitulado Piadas para Rachar o Bico, uma coleção de tiradas de humor e adivinhas ao gosto das crianças. Me alegro ao vê-lo próximo dos livros. Não tenho dúvida de que eles o ajudarão a se transformar numa pessoa melhor e muito mais interessante.

sábado, 14 de setembro de 2013

Retornos

    Novamente distante de você e do Brasil, após uma semana muito agitada, me levanto nesta manhã chuvosa de sábado e penso nos poucos mas intensos momentos que passamos juntos durante minha última estadia em São Paulo. Foi uma felicidade reencontrá-lo bem, ouvi-lo dizer que sente minha falta e que sempre pensa em mim.
     Me lembro de que, quando estava em viagem de retorno a Londres, no avião, vim imaginando a possibilidade de você estar aqui comigo. Eu o levaria aos parques, ao teatro, às livrarias; andaríamos de barco pelo Tâmisa, visitaríamos as atrações para crianças, jogaríamos muita bola...
     Em meu último dia em São Paulo, fui convidado a almoçar na casa de meu amigo Ricardo, na região de Aricanduva e Sapopemba, na zona leste. Na ocasião, vi como ele se relaciona com seus dois filhos pequenos, especialmente o menor, de quatro anos, que está sempre a seu lado. Fiquei feliz por ele, mas ao mesmo tempo aquilo me fez avaliar a dimensão da perda que temos tido com nosso afastamento forçado por todos estes anos. Mas não pretendo ficar cultivando a minha dor por aqui. Já me sinto reanimado ante a perspectiva de retornar ao Brasil em meados de dezembro, para as festas de Natal e, muito especialmente, para reencontrá-lo, ainda que brevemente, como é usual. 

sábado, 7 de setembro de 2013

Uma casa desaparecida

    Recentemente, durante os dias passados na casa de minha mãe, em Divinópolis, pude revirar pastas, álbuns e caixas que continham alguns objetos biográficos. Numa delas, encontrei este desenho que fiz há muito tempo. Eu devia ter meus doze ou treze anos quando um dia revolvi me colocar - lápis e papel na mão - diante da casa onde passei a infância e onde ainda morava. Uma casa pequena num bairro pobre de uma cidade provinciana dos confins do interior de Minas. Situava-se ela numa ruazinha significativamente chamada rua Passa Tempo, que, nos meus tempos de menino, nem calçada era, estando em consonância com nossa precaridade institucional, nosso atraso e nossa falta de política para os pobres. No entanto, ali me formei com muitas dificuldades, mas também muita liberdade. Ali adquiri os valores que sigo mantenho comigo.
     Hoje essa casa não existe mais, substituída que foi por outra melhor e mais moderna. A própria rua de minha infância está muito mudada, com sua paisagem completamente transformada, além de haver mantido poucas pessoas daquela época, em virtude de várias mortes e muitas mudanças para outros lugares. De minha parte, não tenho saudade daquele tempo nem olho para o passado com uma atitude sentimental. Mas haverei sempre de reconhecer o valor da experiência que tive ali e jamais renegarei minhas origens, sob pena de vagar à deriva neste mundo em que tudo é tão volátil.
     Talvez eu esteja escrevendo essas coisas para chamar sua atenção para a necessidade de que você sempre busque visualizar um sentido na sua história, não se perdendo nos modismos, na fluidez dos valores contemporâneos nem no complexo de vira-latas que ainda costuma nos assolar de tempos em tempos.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Espelho

     Durante os dias passados em Divinópolis, nestas férias, li muito, pois não tinha muitos compromissos fora de casa e estava feliz por passar muitas horas em minha biblioteca, que fica na casa de minha mãe. Entre leituras extensas, uma passagem do filósofo Søren Kierkegaard no livro Estágios no Caminho da Vida, num texto expressivamente intitulado "Tranquilo desespero",  me chamou a atenção: "Um filho é como um espelho em que o pai se vê, e para o filho o pai é, por sua vez, como um espelho em que ele se vê no futuro."
     Relembrando o pouco tempo que passei com você, há alguns dias, posso ter uma dimensão da profundidade do que escreveu o pensador dinamarquês. Não somente me surpreendi com o quanto sua aparência física se aproximou da minha como pude sentir o quanto temos afinidades de gosto e idiossincrasias comuns. Obviamente também possuímos necessárias e bem-vindas diferenças, mas temos uma essência comum. Mais importante que tudo isso, porém, é o amor que tem sobrevivido às muitas intempéries que a vida vem nos apresentando.
     Que você possa, ao longo de sua trajetória, ser mais feliz que eu tenho sido e consiga realizar coisas mais significativas. Esteja certo de que estarei sempre a seu lado.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Duas mãos em dois tempos

     Aqui mesmo já coloquei uma foto de nossas mãos quando você era um bebê. No sábado passado, quando nos encontramos, me veio a ideia de tirar outra foto como aquela. Sua mão triplicou de tamanho e já caminha para ser talvez maior que a minha, com a qual está muito parecida. Aliás, meus amigos de futebol, que não o viam havia cerca de três anos, comentaram que você está muito parecido comigo. No plano psicológico, no entanto, temos diferenças consideráveis, aparentemente a maioria delas em seu favor. Sou mais impulsivo, mais conflituoso e mais impaciente. Você é mais sereno, mais diplomático e sabe esperar. Com tais qualidades, pode ser que você seja mais mineiro que eu. Mas somos ambos emocionais, curiosos, ruminantes.
     É interessante observar a passagem do tempo e as mudanças que ela provoca. Como tenho passado longas temporadas sem vê-lo, sempre me surpreendo com a qualidade e a quantidade de mudanças por que você passa num intervalo de um ano. Talvez, a seu ver, ocorra o mesmo comigo. Mas em meio à inconstância do mundo, algo permanece: o amor que nos une e que se manifesta de forma tão sofrida na distância e de forma tão espontânea quando nos vemos. Só espero que nosso destino nos reserve um tempo em que ainda possamos estar juntos, recompensando-nos destes anos todos apartados em nome da ignomínia.

domingo, 25 de agosto de 2013

Movimento

     Passamos o dia de ontem juntos, com o objetivo de jogarmos futebol, o que não fazíamos havia muito tempo. Mas fizemos muito mais. Revivemos nossas lutas sobre a cama, brincamos de esconde-esconde, fantasiamo-nos com roupas velhas, almoçamos juntos num restaurante de que você gosta, brincamos de joguinhos eletrônicos, conversamos sobre variados assuntos, tiramos muitas fotografias. Quanto ao futebol especificamente, me surpreendi com sua qualidade como jogador. Está chutando muito bem, controlando bem a bola e já sabe cabecear. Sofri como goleiro diante de seus chutes de curta e média distância. Antes de você nascer, imaginei muitas vezes esses momentos. É uma lástima que os tenhamos vivido tão raramente. Mas termos tido um intenso momento de felicidade ontem nos resgata provisoriamente da infâmia que nos tem sido imposta. Mas tudo é movimento. Esse estado de coisas não permanecerá assim para sempre.
     Voltarei para Londres de coração mais leve e disposição mais forte para enfrentar meu exílio por lá.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A literatura entre nós dois

     Em nossa conversa, há dois dias, você me contou das coisas que tem lido. Entre outras, disse ter sido marcado pela "História triste de tuim", uma crônica de Rubem Braga que tematiza o amor, a dedicação, a perda e a dor de um menino em sua relação com um passarinho. Fiquei feliz ao ver o brilho em seus olhos e o encanto com que falou desse pequeno texto. Pude ver que você já é um leitor atento e sensível. Será para mim uma grande alegria se, durante sua travessia pela vida, a literatura fizer parte importante do seu dia a dia. Ela nos manterá próximos, ainda que continuemos apartados um do outro, como agora.
     Enquanto me sento aqui para escrever, me passa pela cabeça um leitura alegórica da crônica de Rubem Braga, que, em tal leitura, nos diz tanto sobre nossa própria relação de pai e filho. Mas possivelmente estou fazendo uma superinterpretação da crônica.
     Sempre que o encontro, lhe dou livros e conversamos sobre eles. Desta vez não só lhe dei alguns livrinhos como também ganhei um de presente, com sua dedicatória. Trata-se de uma obra de culinária, com uma coletânea de receitas com ovos. Adorei-a, pois nunca havia ganhado nada parecido. Farei algumas daquelas iguarias em minha casa e guardarei esse livro para sempre.
     Eu, que tenho sido um profissional da literatura, atividade que é parte essencial da minha vida, só posso sentir orgulho ao ver a continuidade dela em você.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um sentido na vida

     Acabo de retornar do dia que passei com você. Me sinto um tanto exaurido emocionalmente, com o coração carregado de um misto de felicidade, tristeza, esperança e revolta. Ao encontrá-lo e abraçá-lo após tanto tempo distantes um do outro, aconteceu outra vez de chorarmos. 
     Foi bom conversar longamente com você, saber do que tem feito e como está sua vida. Me surpreendi quando me disse que tem jogado como zagueiro no time da escola e que salvou, de cabeça, um gol decisivo do adversário em seu último jogo. Sempre fui centroavante e goleador. Nunca imaginei meu filho zagueiro ou goleiro. De todo modo, meu pai também foi zagueiro. Talvez seja eu quem possui, na família, o gene recessivo.
     Viajarei no domingo, mas, se possível, gostaria de encontrá-lo ainda uma vez no sábado, para que possamos jogar juntos na USP. Quero ver como andam as suas habilidades com a bola ou mesmo suas habilidades para tomar a bola do adversário.
     Desta vez lhe passei meu e-mail, meu nome no Skype, o endereço deste blog, meu número de telefone em Londres e meu endereço lá. Espero que daqui por diante nada se interponha entre nós, impedindo o mínimo que podemos ter: nossa comunicação.
     Estou em São Paulo nesta semana em virtude de um compromisso na USP, além da necessidade de reencontrá-lo. No entanto, de agora em diante, sempre que vier à cidade será fundamentalmente para revê-lo. Não me importo de ficar em hotel nem de enfrentar os tormentos do trânsito paulistano para estar a seu lado, ainda que por pouco tempo, ainda que tenha de colher, por agora, essas migalhas da vida que estamos perdendo. Tais inconvenientes não são nada diante de meu amor por você.
     Não tenho fé nem acredito que haja alguma justiça ou alguma lógica no universo. Mas talvez muito precariamente possamos construir um sentido para nossas vidas. Ser seu pai, ter esperança de um dia estarmos juntos, acompanhar seu desenvolvimento e poder contribuir para que você seja uma pessoa autêntica, consciente e feliz é uma parte importante do sentido que venho buscando construir para a minha vida.

sábado, 17 de agosto de 2013

Vagando pelo Rio de Janeiro

     Após viajar por 12 horas, cheguei ao Rio de Janeiro, onde vim colher material para uma pesquisa que iniciarei neste segundo semestre. Hoje caminhei pelas praias de Ipanema e Copacabana, tão justamente celebradas em nosso cancioneiro popular. Neste dia nublado, houve este pôr do sol neste recanto do Oceano Atlântico. Como havia muito tempo que não vinha do Rio, também revisitei o Corcovado e o Pão de Açúcar, de onde se vê toda a exuberante beleza natural da cidade.
     Em certo momento, na praia de Ipanema, vi alguns meninos mais ou menos de sua idade, todos com camisas de times variados, num acirrado jogo de futebol, com três de cada lado. Naturalmente minha imaginação voou e pensei em você jogando com eles e mostrando sua raça e sua técnica. Há muito tempo não jogamos juntos... Pensei também num jogo muito especial de que participamos com alguns meninos do condomínio onde eu morava, em São Paulo, quando você tinha pouco menos de cinco anos. Tal jogo foi especial porque nele você fez o primeiro gol de sua vida. Eu driblei três adversários fiquei cara a cara com o goleiro e lhe passei a bola de lado, para que concluísse o lance. Durante um ano inteiro tive de lhe ouvir falar nesse gol. E com justiça!
     Amanhã partirei para São Paulo, onde espero reencontrá-lo em algum dia no meio da semana. Estou ansioso por esse momento e tenho algumas surpresas a lhe fazer.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Uma expectativa

     Acabo de fazer as malas para viajar para o Brasil na próxima sexta-feira. Sei que vou estar apreensivo no decorrer da semana, pensando na minha chegada, na oportunidade de reencontrá-lo, na minha família e em meus amigos. Como sempre, vou levar-lhe alguns livros, juntamente com um brinquedo. Quero conversar muito com você, saber de sua vida e do que tem feito. E também quero lhe contar sobre a minha vida. Neste mundo em que há tantas invenções brilhantes para as pessoas se comunicarem, tenho de passar longos meses sem conversar com meu próprio filho, a despeito do computador e do telefone celular que já lhe dei com essa finalidade. Mas tudo bem. O que importa é que já se aproxima o momento de estarmos juntos novamente por algum tempo, ainda que breve. Se possível, quero jogar futebol com você e ver como andam as suas habilidades. Ainda nesta semana, telefonarei para sua babá e tentarei estabelecer ao menos um dia para estarmos juntos.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Nossa popularidade no exterior

    Neste verão, que está bastante quente em Londres, tenho visto, pelas ruas e pelos parques, muitos britânicos com camisa da Seleção Brasileira e chinelos Havaianas. Aliás, sempre me surpreendo com a popularidade do Brasil por aqui. Nossas coisas são, em geral, consideradas cool e somos vistos como um povo que preserva a alegria de viver. Eventos relacionados ao Brasil em Londres costumam ser bastante concorridos, e muita gente nos vê como um país que já está muito próximo se tornar uma potência econômica, política e cultural. Mesmo os mais bem informados, que sabem que no Brasil imperam também a corrupção, a violência e a burrice de nossas elites, costumam fazer um balanço positivo do país.
     De minha parte, costumo alimentar a simpatia pelo Brasil em minhas aulas, em minhas palestras e em minhas esporádicas conversas com jornalistas. Sempre demonstro um amor autêntico a nosso país e orgulho do que somos, mas naturalmente trato também dos aspectos negativos, tentando exercer uma visão crítica. Mas no fundo parece que sempre ansiamos pelo que não temos, pois há muitas coisas que admiro na cultura britânica e gostaria que possuíssemos. Mas esta é outra discussão.
     Espero que um dia seja possível tê-lo aqui comigo, para vivenciarmos juntos todas essas coisas e conversarmos sobre elas. É um assunto que rende sempre uma interessante discussão.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Uma cartão na bagagem

     Na semana que vem, partirei para o Brasil, ficando algumas semanas entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Divinópolis. Começando a olhar as coisas que levarei na bagagem, me deparei com este cartão que comprei para você em Paris, no dia de seu aniversário. Infelizmente não tive como enviá-lo, pois até mesmo o seu novo endereço me foi negado, após sua mudança. De todo modo, espero entregá-lo quando nos encontrarmos em São Paulo, provavelmente para passarmos apenas uma tarde juntos.
     Atrás do cartão, além das congratulações pelo dia do seu nascimento, escrevi algo como estímulo para que perca muito tempo com as coisas que ama e que são importantes para você, tal como fez o Pequeno Príncipe com sua rosa. Assim procederam - na contramão do pragmatismo capitalista - todas as pessoas que fizeram algo significativo neste mundo.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Água que passarinho não bebe

     Hoje me lembrei de um momento, por volta dos seus quatro ou cinco anos, quando queria saber as razões de tudo o que há neste mundo e me questionava sobre tudo o que via pelo caminho. De certa feita, estávamos passeando sem rumo por um bairro pouco povoado de Divinópolis - você sentado no meu ombro -, quando nos deparamos com um grande despacho. Havia, entre outras coisas, muitas velas vermelhas queimadas e algumas garrafas de cachaça. Fascinado com aquele festival de cores e artigos estranhos, você apontou para as garrafas e me perguntou: "O que é aquilo, papai?" E eu: "Aquilo é água que passarinho não bebe". E você, ardendo de curiosidade: "Não bebe por quê?!". 
     E lá fui eu lhe dar mais uma explicação mirabolante.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Homesickness e wanderlust

     Incrivelmente estamos tendo várias semanas de tempo bom em Londres. A cidade está agitada e colorida, com muita gente nas ruas e uma grande efervescência cultural. Tenho visto muitos espetáculos de teatro e dança. Alguns deles são extraordinários.
     De todo modo, minha cabeça já está no Brasil, onde espero reencontrá-lo. Após resolver um problema com minha autorização de trabalho no Reino Unido no dia 13 de agosto, viajarei para o Rio de Janeiro, onde passarei dois dias colhendo material para minha próxima pesquisa no Arquivo Nacional, e depois irei para São Paulo e Divinópolis.
     Estou bem aqui, mas de vez em quando me sinto um tanto homesick e com certo wanderlust. É nesse estado de espírito que me lembro de você e me sento para escrever estas linhas.