terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um poema de 2006

     Revirando meu computador no fim de semana, encontrei um poema que escrevi quando você tinha um ano de vida, em 2006. Para meu azar, dei-lhe o título de “O filho eterno”, expressão recorrente no meu texto e que pouco tempo depois apareceria como título de um excelente romance de Cristóvão Tezza sobre a relação de um pai com um filho com síndrome de Down. Nele eu trato de nossa relação, de sua liberdade e sua pureza, arrematando-o com uma expressão que dialoga com o final de um poema de Drummond sobre um filho que ele não chegou a ter. Aí vai o meu texto, cuja leitura me emocionou nesta longa distância em que sou obrigado a manter de você, consciente que estou de tudo o que estamos perdendo:

     Passeando nos meus ombros
     o filho eterno olha para frente
     – a vida inteira diante de si.

     Sobre Deus e o mundo conversa
     o filho eterno, distribuindo por quês
     para cada pequeno mistério.

     Os olhos encantados, a vida plena
     o filho eterno atira pedras na água
     arrebatado pelas ondulações.

     Corre o filho eterno pelos campos
     pelas ruas, pelo tempo, pelos sonhos
     – atravessa horizontes, fura o céu.

     Brinca nos meus pensamentos
     Ri seu riso solto no meu coração
     O filho eterno faz-se por si mesmo.

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