quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Uma tarde, um reencontro

     Cheguei há pouco da região sul de São Paulo, próximo de sua casa, onde fui encontrá-lo. Angustiado com o atraso de 20 minutos da babá que veio trazê-lo, fiquei pensando no que aconteceria quando nos víssemos após dois anos inteiros distantes. Quando chegou, eu, que pensava não ter mais lágrimas após ter passado por tantas coisas atrozes, simplesmente o abracei e ficamos ali por alguns minutos, sem falar nada, apenas chorando.
     Tenho buscado não ter uma atitude sentimental diante da vida, que é muito cruenta e indiferente a nossos dramas. Mas simplesmente não contive minha emoção ao revê-lo. Só eu sei o que tenho passado após ter sido exilado de você, de haverem buscado reduzir judicialmente meu papel de pai ao de um idiota a lhe entreter a cada dois fins de semana, a ser servo de um procedimento da burocracia mais burra. Só eu sei o quanto penso em você. Só eu sei da angústia que sinto por não saber o que você tem feito, o que tem pensado, se tem valorizado coisas que estão muito além da banalidade pequeno-burguesa.
     Me surpreendi com sua altura e com as janelinhas nos seus dentes. Os novos, que estão nascendo, são de serrinhas, como os meus. Você disse haver se surpreendido com meu cabelo, que está bem curto. 
     Entreguei-lhe os presentinhos que trouxe da Inglaterra e recebi dois de seus presentes, preparados na escola para o Dia dos Pais e guardados até que nos encontrássemos.
     Fiquei sabendo que você está jogando futebol. Vi até duas medalhas de campeão que me deixaram orgulhoso. Outra surpresa foi saber que você tem jogado de lateral direito. Eu gostaria de vê-lo como atacante ou meio-campo. Mas tudo bem. Sou centroavante, mas meu pai, seu avô, era zagueiro. Apesar de jogar na defesa, fiquei sabendo que você faz muitos gols e que é excelente cobrador de pênaltis. Também gostei de ouvir suas opiniões firmes sobre os melhores jogadores do mundo. Você me contou que Messi é o melhor jogador, mas que gosta mais de Ronaldinho. Eu, que gosto dos dois, vi que estava diante de um já profundo conhecedor do beautiful game.
     Almoçamos juntos e, após brincarmos de joguinhos numa loja de eletrônicos de alta tecnologia, fomos ver um filme em 3D, A Origem dos Guardiões. Essas foram, para mim, experiências novas, pois não estou acostumado a esse tipo de entretenimento. 


     Por fim, antes que sua babá viesse buscá-lo, nos sentamos numa mesa para tomar um refrigerante neste de dia de forte calor, bem como para continuar a conversar sobre nossas vidas. Contei-lhe muitas coisas da Europa, e lembramos muitas coisas de alguns anos atrás. Ouvi suas histórias da escola e sua declaração de que sente muita falta de mim.
     Ao retornar para casa, enquanto enfrentava o caos paulistano de fim de tarde, atravessei um pedaço da cidade com um aperto no coração, pois sei que demoraremos muito tempo até nos encontrarmos de novo. E fui acossado por um forte sentimento de raiva, uma revolta que remexe minha cabeça e me faz pensar na violência dessa situação e na violência que um dia estive prestes a cometer. Mas felizmente me restabeleci e segui minha vida com dignidade. Será que a vida, ou Deus, ou o Diabo, ou o câncer, o que quer que seja, um dia punirão essa harpia?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um reencontro necessário


     Aí está uma típica paisagem paulistana, localizada no caminho do centro da cidade para minha casa, na zona oeste.
     Cheguei a São Paulo há dois dias, tendo saído de um frio de 3°C em Londres - com um céu cinzento e neve na semana passada - para um calor de mais de 30°C e um sol glorioso. Depois de passar um ano inteiro longe do Brasil, estou emocionado por reencontrar nossa gente e nossas coisas. E revoltado ao reencontrar alguns de nossos graves problemas também.
     Depois de muito esforço e muitos telefonemas para sua atual babá e para uma de suas ex-babás, consegui fazer com que nos encontremos na próxima quinta-feira. Estou ansioso por esse encontro, que não acontece há muito tempo e vem sendo muito aguardado. Quero lhe contar de minha vida e ouvir da sua. Escrevi-lhe uma cartinha, que deixarei para você juntamente com seus presentinhos. E desta vez vou lhe dar também um telefone celular, para que me ligue toda vez que desejar falar comigo, caso não o impeçam de fazer isso. Imediatamente eu retornarei a ligação e conversaremos tudo o que desejarmos. Veremos se isso vai realmente ocorrer.
     Estou feliz por estar prestes a revê-lo, por estar no Brasil, por poder me realimentar de nossa seiva mestiça. Você não tem ideia do quanto eu precisava disso!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma volta

     Estou às vésperas de viajar para o Brasil após um ano inteiro distante. Não vejo a hora de encontrá-lo e conversar longamente com você, saber o que tem feito e como está sua vida, ao mesmo tempo em que lhe contarei sobre muitas coisas interessantes que tenho feito. Meu coração baterá mais forte quando o avião se aproximar do aeroporto de Guarulhos, e eu vir nosso relevo lá de cima. É sempre bom retornar ao país de Garrincha e Carmen Miranda, de Machado de Assis e Macunaíma, de Santos Dumont e Aleijadinho. Sei que não vai ser fácil voltar para cá em meados de janeiro, mas assim é a vida.