segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Paisagem do meu quintal


     Este foi mais um dia de neve. No meio da tarde ela parou, e as árvores no quintal de casa ficaram assim. Teoricamente esse frio e a escuridão que ele traz para a maior parte do dia intensificam a solidão de quem está longe de casa e longe daqueles a quem ama. No meu caso, não me sinto só, pois trago comigo a lembrança de tantas coisas boas vivenciadas com você, minha família e meus amigos. Estou aqui de passagem. Dentro de mais algum tempo, estarei de volta ao Brasil. Você estará crescido e mais independente, e isso será fundamental para que voltemos a ficar juntos. Portanto, estou bem e estou me divertindo neste frio intenso.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Pedagogo


Li hoje que a palavra “pedagogo” se referia, na Grécia antiga, ao escravo que conduzia as crianças aristocráticas até a escola. Tal escravo ia explicando para o menino o que se via pelo caminho, e este aprendia, no trânsito para a instituição, como funcionava a cidade, como as pessoas se comportavam, como se estabeleciam as relações de poder e tudo o mais. No pouco tempo em que vivemos juntos, ao colocá-lo  em meu ombro e sair caminhando com você pelas ruas da cidade, seja em Belo Horizonte, seja em Divinópolis, seja em São Paulo, também fui, para você, uma espécie de pedagogo à maneira grega. 
Na última vez que nos encontramos, há pouco mais de um mês, embora você esteja grande e pesado, não resisti a colocá-lo em meus ombros e fazer uma curta caminhada assim, conversando sobre os assuntos mais diversos.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Do calor para o frio


     Retornei a Londres há apenas três dias, após ter passado cinco semanas de muito calor no Brasil. Passei abruptamente de 32°C para -5°C. Incluindo este fim de semana, teremos aqui quatro dias seguidos de uma neve fininha caindo constantemente. Agora há pouco dei um passeio pelo parque que fica perto de minha casa. Alguns meninos tinham acabado de fazer este homem de neve. Outros guerreavam com o gelo. Pais puxavam trenós com seus filhos. Cachorros corriam e rolavam pelo chão gelado.
     Gostaria que você estivesse ali comigo. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dostoiévski e as crianças

     Lendo  hoje  o  Diário  de  um  Escritor,  de  Dostoiévski, duas passagens me chamaram muito a atenção e me fizeram pensar em você. Tenho muitas afinidades com as ideias do grande escritor russo acerca das crianças e do modo de se relacionar com elas. Desde que você era ainda muito pequeno, sempre o tratei como uma pessoa inteligente e capaz, sempre ouvi o que você pensava e tinha a dizer, sempre aprendi muito com a forma que você tem de ver o mundo.
     Em  fevereiro  de  1876,  escreveu  Dostoiévski:  "Não devemos ser arrogantes com as crianças, somos piores que elas. E se lhes ensinamos alguma coisa a fim de torná-las melhores, elas também nos ensinam muito e também nos tornam melhores já com o simples contato com elas. Elas humanizam a nossa alma com seu simples aparecimento entre nós".
     Pouco  tempo  depois,  em  maio  do  mesmo  ano,  ele escreve: "Uma criança de cinco, seis anos às vezes sabe mais a respeito de Deus ou do bem e do mal coisas tão surpreendentes e de uma profundidade tão inesperada que você conclui involuntariamente que a natureza dotou essa criança de certos recursos de aquisição de conhecimentos que nós não só desconhecemos, mas, com base na pedagogia, deveríamos quase refutar... ela possivelmente sabe sobre Deus tanto quanto você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal, sobre o que é vergonhoso ou lisonjeiro".
     São  profundas  reflexões  que  vão  de  encontro  ao senso comum, que pensa a criança como uma espécie de idiota a ser tutelado e controlado o tempo todo, apenas um imaturo a quem só se ensina as coisas e de quem nada se aprende. Para mim, que tive a sorte de ter um filho inteligente e sensível como você, as palavras de Dostoiévski são uma realidade muito palpável. Apenas espero que a mediocridade e a ganância das pessoas nunca matem a poesia, a verdade e a eternidade que hoje pulsam em você e que hoje brilham em seus olhos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Uma longa jornada

     Acabo de chegar de volta a Londres, após ter ficado por cinco semanas no Brasil. Nesse período, lamentei muito haver perdido a senha do blog, em virtude de uma formatação da memória do computador. Com isso, não pude lhe escrever durante as últimas quatro semanas.
     Estou cansado de uma longa viagem com conexão em Madri, onde cheguei bem cedinho e onde esperei outro avião por mais de duas horas. E estou com o sono e a fome desregulados, por não dormi nem um minuto e comi completamente fora dos horários a que estou acostumado. Comida de avião!
     Viajei para São Paulo no fim de semana apenas para jogar futebol na USP com meus amigos, no domingo. No entanto, após driblar dois e tentar um chute forte de longe, de pé esquerdo, chutei o chão e me machuquei de forma relativamente grave. Tive de sair do jogo de imediato e passei o resto do dia mancando e com muitas dores. Ainda estou mancando e cheguei a pensar que poderia ter quebrado algum ossinho do pé. Mas já estou tomando remédio e me tratando.
     Durante todo o tempo que passei no Brasil, fez um calor tremendo, com grande sensação de abafamento. Foi a conta de chegar a Londres para adentrar num frio terrível. Há pouco saí para ir ao supermercado e vi que todos soltam fumaça pela boca ao falar e ao  respirar. E todos estão muito encapotados. Há sinais de que nevou por estes dias.
     Amanhã mesmo já recomeço os meus cursos no King's College. Pretendo trabalhar bem e estou confiante nas potencialidades deste ano. Há inclusive a possibilidade de eu passar a dar aula de Literatura Brasileira na Universidade de Cambridge, que é a melhor da Inglaterra, caso eu seja bem sucedido num concurso que ocorrerá em breve.
     Nas vésperas de embarcar para cá, alguns amigos me perguntaram se eu estava triste ou alegre por mais uma vez sair do Brasil e ir para o exterior. Respondi-lhes que não estou triste nem alegre, que foi uma felicidade estar no Brasil, mas que também será bom estar na Inglaterra, pois tenho bons projetos para 2013, em Londres, e já estou envolvido neles. E é muito provável que eu vá ao Brasil em maio, não passando todo um ano tão longe de casa.
     Se me perguntassem qual for o melhor momento de minhas férias no Brasil, eu diria que foi a alegria de reencontrá-lo. Pena que pudemos estar juntos para apenas algumas horas, no dia 13 de dezembro. Mas aquelas foram horas intensas e eternas. 
     No decorrer de 2013, em todos os momentos, estarei pensando em você, imaginando o que você está fazendo e como se lembrará de mim. Em todos os seus momentos, portanto, seu pai estará a seu lado e do seu lado.