quinta-feira, 30 de maio de 2013

Primavera em Paris

     Acabo de retornar de Paris, onde passei os últimos quatro dias. Gosto da capital francesa e, se tivesse uma oportunidade, viveria lá, onde há sempre uma efervescência cultural muito intensa. Além disso, admiro a cultura francesa e gosto de usar a língua de Molière.
     No fim do ano passado, entre outros livrinhos, lhe dei um exemplar em francês de Le Petit Prince, de Saint-Exupéry, como um desafio para que você se interesse pelo idioma e venha a estudá-lo em breve. Isso lhe abrirá as portas de um mundo maravilhoso, fazendo com que tenha acesso direto a grandes criações da humanidade.
     Quando você for um pouco maior e mais independente, quero rodar Paris com você e lhe mostrar muitas coisas admiráveis que tenho visto por lá.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Dicionário das crianças

     Uma colega da área de Espanhol do departamento onde trabalho, na universidade, me passou, nesta semana, um livrinho muito interessante. Trata-se de Casa das Estrelas: O Universo Contado pelas Crianças. A obra consiste numa espécie de dicionário infantil, em que meninos de cinco a doze anos do interior da Colômbia dão definições muito poéticas para algumas palavras muito presentes no dia a dia. Aí vão alguns exemplos:

Água: Transparência que se pode tomar.
Céu: De onde sai o dia.
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus.
Paz: Quando a pessoa se perdoa.
Tempo: Coisa que passa para se lembrar.

    Como se vê, as crianças de sua faixa etária veem o mundo de outra perspectiva, com olhos e coração de poeta. Eu mesmo anotei muitas de suas definições desse tipo num caderno que deixei no Brasil. Me lembro de duas delas: "Vovó é uma delícia" e "O vento limpa a gente". Aliás, suas frases durante nossas conversas, muitas delas caminhando sem rumo certo, com você sentado sobre meus ombros, são das coisas de que mais sinto falta nestes anos de exílio.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Negócios do espírito

     Tenho aproveitado bem a oferta cultural de Londres nestes anos em que estou vivendo aqui. No último fim de semana, por exemplo, fiquei muito impressionado com uma adaptação para o balé moderno de O Grande Gatsby, o extraordinário romance de Francis Scott Fitzgerald. Os bailarinos recontaram a história com muita sensibilidade e uma técnica perfeita. Saí do teatro embriagado pela beleza do espetáculo e refletindo sobre os descaminhos da vida.
    Gostaria muito de vê-lo como uma pessoa cultivada, interessada nas artes e nas humanidades, com uma conversação variada e interessante. Nunca tenha pena de gastar seu dinheiro com bons livros, bons espetáculos, boas viagens, bons cursos, boas visitas a museus e galerias, bons jogos de futebol. Essas coisas não só lhe darão muito prazer como o ajudarão a compreender melhor este mundo e a transitar com mais sabedoria pela vida. Ainda desejo fazer muitas coisas assim com você.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Falta

     Tenho procurado viver bem a minha vida nesta etapa em que tenho de ficar longe do Brasil. Pratico esportes, vou ao teatro e a museus, viajo, leio bons livros, participo do debate intelectual do meu campo de atuação, me relaciono bem com algumas pessoas que estão se tornando próximas de mim, busco aproveitar as muitas coisas boas que uma cidade como Londres oferece. Apesar de algumas contrariedades, estou muito bem aqui. No entanto, sempre me assalta uma sensação de falta. Sou um desses brasileiros incorrigíveis que todos os dias morrem de saudade das nossas coisas quando está no exterior. Em especial, morro de saudade de você, a quem tenho visto muito brevemente apenas uma vez por ano. Sempre me pergunto o que tem feito, o que tem pensado, que valores tem cultivado, se ainda pensa em mim.
     Provavelmente o reencontrarei apenas em dezembro. Até lá, quanta vontade terei de conversar e brincar com você, de abraçá-lo, de rodar a cidade a seu lado, de simplesmente exercer meus direitos de pai.

domingo, 12 de maio de 2013

Um momento da eternidade

     Tenho aqui um vídeo de seu primeiro dia neste mundo, feito pela câmera do berçário do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte. Você está deitado, mexendo pernas e braços com certa descoordenação. Os olhos são grandes e muito marcantes. Quando chega uma enfermeira para tratar de seu umbigo, medir sua temperatura e colher impressões de seu pezinho, você chora vigorosamente.
     Me lembro bem daquele 13 de fevereiro de 2005, um domingo de sol na capital de Minas. Como eu estava nervoso sentado num canto da sala de parto! Quando o recebi nos braços, após o nascimento, não pude conter as lágrimas. Choro de pai. Todo um universo de coisas desconhecidas se movimentava dentro de mim. Eu estava ansioso, mas principalmente estava feliz ao lhe dar as boas-vindas. Nem sonhava com o que teria de enfrentar pouco tempo depois. Hoje, à distância de mais de oito anos, tenho uma noção muito clara de que aquele foi um momento da eternidade.

domingo, 5 de maio de 2013

Primaveras

     Estamos em plena primavera hemisfério norte. Esta é minha época favorita do ano em Londres, pois a cidade se transfigura em muitas cores e muitos cheiros. Mas é também a minha época favorita no Brasil. Como se vê nesta foto tirada em nosso cerrado, os trópicos também se transfiguram e inundam os campos de beleza. E há ainda esse céu de um azul inefável.
     Desejo muito que ainda possamos adentrar juntos pelo interior do Brasil e também de correr mundo descobrindo coisas e experimentando novos ares, novos sabores, novas formas de organizar a vida. Se minhas viagens e minhas mudanças de lugar possuem um lado triste e sofrido, em compensação têm me ensinado a ser flexível e a compreender pessoas e costumes muito diferentes, além de me colocar em contato com uma grande variedade de coisas belas e algumas pessoas extraordinárias. Gostaria muito que você também tivesse oportunidades como essas, mas que seus caminhos fossem um pouco mais fáceis que os meus, pois já enfrentei muita solidão, muito frio e muita saudade. Curiosamente nunca fui vítima de algo que é constante entre os que passam muito tempo longe de seu lugar de formação: o desenraizamento. A despeito de ter desenvolvido um espírito cosmopolita, tenho uma identidade brasileira e mineira muito forte e estou bastante enraizado nela. Por isso muitas vezes lhe chamo a atenção para a necessidade de não perder suas raízes e honrar suas origens.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Um descanso na loucura

    Numa passagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, o ex-jagunço Riobaldo diz que "qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura". Lembrei dessa frase hoje ao pensar em você. Nos últimos anos, minha vida passou por um turbilhão de mudanças, frustrações, perdas e algumas conquistas. A instabilidade tem sido a marca maior de minha trajetória, que culminou com esta distância do Brasil e este exílio de você.
     Tive de ser forte para suportar muito mau-caratismo, desfavorecimento em decisões judiciais, depressão, fúria, solidão, falta de dinheiro e de perspectivas. Mas tenho enfrentado esses demônios e tentado reconstruir a minha vida a cada dia. Se tenho mantido um pouquinho de saúde e se não me entreguei à loucura, em grande parte devo isso ao amor que tenho por você e por algumas outras pessoas essenciais. Após me distanciar e deixar o tempo correr, vejo até que estou bem descansado na loucura e tenho a expectativa de um tempo que virá, quando estaremos bem mais próximos do que hoje podemos imaginar.