Nestes dias na casa de minha mãe, imerso no provincianismo
do interior de Minas, tenho tido um sentimento de haver me tornado um estranho
em minha terra natal, onde vivi até os 23 anos, sendo também obviamente um
estranho na terra estrangeira onde tenho hoje meu endereço. Mudei eu, mudou
minha terra natal. Mas prefiro pensar como os antigos latinos: Ubi bene ibi patria.
Este foi um ano de muitas viagens para lugares distantes em várias partes do mundo, com muitas descobertas de novos estilos de vida e diferentes formas de
organizar a vida. Mas pude ver que por todo lado essas grandes variações são
coisas relativamente superficiais, pois nossos sonhos, nossos planos, nossas
expectativas são muito parecidos. Em essência, o ser humano
é o mesmo em todos os lugares.
Dentro de mais alguns dias, retornarei a Londres, a minhas
corridas às margens do Tâmisa, ao frio de janeiro, ao convívio com meus alunos.
E voltarei também a meus planos de viagens para 2015: Índia, Mongólia, Irã,
China, Eslovênia, Letônia, Tunísia... O mundo está sempre nos chamando.
Quando chego a um novo país, a um lugar diferente, quando me relaciono com as idiossincrasias de pessoas de culturas diversas, uma de minhas primeiras preocupações é comprar um cartão-postal e lhe enviar, a fim de
compartilhar com você um pouco de minhas descobertas e experiências na terra
nova. Gostaria que chegasse logo o tempo de sua independência, para que
possamos fazer algumas viagens juntos. Isso será a conjugação de dois prazeres,
o da própria viagem e o de estar juntos, tal como no tempo em que vivíamos juntos e
viajávamos pelos limites do bairro e das ruas próximas com você sentado sobre
meus ombros. Aquele foi um tempo de grandes descobertas e de conversas
memoráveis.