quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pequeno cavaleiro

     Trabalho perto de Trafalgar Square, onde fica esta escultura de um menino em seu cavalinho de pau. Sempre que passo por lá, olho para ela e penso em você. Uma vez lhe dei um parecido com este, quando vivíamos em Belo Horizonte. E muitas vezes o segurei, enquanto seu fogoso corcel galopava. Sinto saudade dessa inocência e dessas suas pequenas grandes aventuras. Será que você ainda galopa sobre cavalinhos de pau?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Amarelos do outono

     É outono em Londres, e as folhas das árvores mudaram para várias tonalidades de amarelo e vermelho. O frio já está forte, ao menos para os padrões de um brasileiro, e tudo vai se preparando para a chegada do inverno. Ontem passeei por um parque vizinho de minha casa, o Tooting Bec Commom, onde muitas árvores trazem este amarelo vivo que Van Gogh pintaria. É belo. Porém já não vejo a hora de chegar ao Brasil após um ano inteiro a distância, me ausentando do inverno europeu durante um mês. Principalmente, preciso revê-lo e abraçá-lo, pois a saudade está me dando um aperto no coração.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Escrever é resistir

    Estive hoje na casa de Anne Frank, no centro de Amsterdã. Durante alguns anos, por ocasião da ocupação nazista, ela, sua família e alguns amigos judeus tiveram de viver escondidos ali, sem poder sair às ruas e contando com a colaboração e a proteção de amigos. Naquela casa, onde sofreu tantas privações, ela escreveu um diário que vai durar pela eternidade. Me lembro da comoção que tive ao lê-lo durante minha adolescência. Anne Frank encontrou na escrita uma forma de resistir e viver. Mas sua obra vai durar não apenas por isso, mas por haver sido escrita com beleza, testemunhando em profundidade o seu amadurecimento, a sua sede de saber, o sonho com um vida melhor que viria depois da guerra.
     Infelizmente um traidor, até hoje desconhecido, revelou aos monstros da extrema direita onde os membros da família Frank se escondiam. Eles foram presos e deportados para campos de concentração na Alemanha, em 1944, e Anne, aos 15 anos, veio a morrer de tifo sete meses depois, no campo de Bergen-Belsen, apenas um mês antes de sua liberação por tropas aliadas.
    Espero que, como Anne Frank, você utilize a sua sensibilidade para seguir em frente e sobreviver às situações difíceis que a vida lhe apresentar. Haverei sempre de conversar com você e de estimular sua sensibilidade e sua humanidade. O que conseguir realizar a partir disso, pode ter certeza, será o melhor que poderá obter da vida.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crianças que sofrem

     Estou hoje em Bruxelas e amanhã partirei para Amsterdã. São as capitais de dois países dos mais estáveis da Europa. A propósito, cresci ouvindo dizer que os países europeus eram todos ricos e, em boa parte, igualitários. Pode ser que tenha havido uma época de ouro lá pelos anos 1960 e 70. Hoje, não é o que vejo toda vez que viajo pelo continente. Sempre encontro evidentes dificuldades econômicas e muitos despossuídos mendigando pelos locais onde passa muita gente. Hoje pela manhã mesmo, após uma noite muito fria, vi, no coreto de um parque na região central de Bruxelas, umas trinta pessoas ainda deitadas após terem passado a noite ali. Sempre fico revoltado com essas injustiças e jamais me acostumarei a elas. Mas fico entre comovido e indignado sempre que crianças estão entre esses abandonados. Tive uma infância muito carente no interior de Minas e conheço as marcas que isso deixa nas pessoas para sempre. E hoje tenho um filho, que felizmente tem as suas necessidades básicas resolvidas, mas o simples fato de tê-lo é suficiente para que eu me torne ainda mais sensível e solidário a esses meninos humilhados e ofendidos, que deveriam estar brincando em suas casas, estudando em suas escolas, jogando bola após comerem adequadamente. Num tempo em que a produção atingiu níveis tão elevados, é uma prova do fracasso da humanidade - ou ao menos dos poderosos de todos os quadrantes - o fato de haver tanta gente vivendo assim em praticamente todos os países.
      Espero que você jamais se acostume com a injustiça e lute sempre contra ela onde quer que venha a atuar. E no Brasil todos sabemos o quanto temos motivo para nos indignar e para lutar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um dente-de-leão



     Já está fazendo um frio muito forte em Londres. Tudo indica que o inverno que se aproxima será bastante rigoroso. Já não vejo a hora de partir para o Brasil, o que ocorrerá no começo de dezembro. Estou com muita saudade de você, de minha família em Minas, de nossa cultura. Partirei do frio para o calor, dos dias escuros e curtos para a nossa claridade e nossa exuberância. Quero lhe dar meu abraço e meu beijo, colocá-lo no meu ombro e sair com você para passear.
     Há pouco, vagando pelo computador, vi esta foto, que foi tirada em algum lugar no campus da USP, num dia em que estávamos juntos. Logo depois você colheu esse dente-de-leão e o soprou, provocando um voo de plumas, como gosta de fazer. E como se diverte!
     Sempre me impressiono com sua visão encantada das coisas e muito aprendo com ela. Que a vida adulta e suas inevitáveis desilusões nunca matem essa poesia viva que existe em seus olhos e em seu coração de menino.