sábado, 21 de junho de 2014

Alguns estabelecimentos e seus nomes


     Divinópolis é uma cidade do interior onde ainda se encontram muitas coisas típicas do Brasil profundo e bem-humorado. Algo interessante são os nomes de alguns estabelecimentos comerciais ou suas caracterizações. Perto da casa de minha mãe, por exemplo, fica o Forte Gás, com esse acento no "o" e essa pintura modernista no muro. Numa rua onde costumo correr quando estou por aqui, nas proximidades do rio Itapecerica, está o Zuiudo's Bar, com esse genitivo inglês e dois olhos enormes na decoração da casa. Quando eu vivia aqui, na adolescência, havia o Bar Sem Nome, o Bar Budo, o Bar dos Pobres e o Pingo no i. Havia ainda uma lojinha de tatuadores chamada Paranoia Tatoo, com paranoicos grafites na fachada. Uma vez, andando pela periferia da cidade, me lembro de ter visto um salão de beleza chamado Entra Feia e Sai Bonita. Nesta semana mesma passei por certo Churrasquinho Velório do Boi. E algum tempo atrás havia por estas paragens um negócio dedicado à vendia fogos de artifício chamado Bin Laden Bombas, nada politicamente correto.
     No tempo em que você vinha muito a Divinópolis e passava temporadas na casa de sua avó, costumava me pedir que eu o colocasse sentado em meus ombros para que fôssemos "ver a cidade". Muitas vezes o fizemos, passando perto de lugares assim, que tinham muito a ver com o bom humor de nossas conversas e o espírito alegre daqueles dias.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Suavidade na vida

     Acabo de ler um livrinho luminoso do filósofo francês contemporâneo Pascal Bruckner, que tem por título Le Marriage d’Amour a-t-il Échoué?. Como o título indica, trata-se de uma reflexão sobre os porquês de tantos casamentos fracassados hoje em dia, bem como das formas alternativas de viver a vida e se relacionar que estão sendo criadas nas últimas décadas. Ao final de sua exposição, numa passagem que pode ser lida para muito além dos impasses do casamento, Bruckner arremata: “O que é necessário inventar hoje em dia é um hedonismo não mercantil, que não dispense a surpresa, o equilíbrio, a ponderação e seja, antes de tudo, uma arte de viver com os outros, e não o gozo por si só. (...) As melhores armas nesse processo são a indulgência e a delicadeza: perdoemos nossas respectivas fraquezas, sem ferir aqueles a quem amamos. Agradeçamos a eles por existirem e nos aceitarem como somos. Chamo a isso suavidade na vida.”
     Tais palavras me caíram bem neste momento em que, após tantos anos de fúria e tantos conflitos desgastantes, estou em busca justamente de indulgência, delicadeza e suavidade. De sua parte, muitas vezes tenho escrito aqui sobre o quanto gostaria de vê-lo crescer com uma mentalidade que despreze os valores mercantis hoje em voga, inclusive o hedonismo associado à compra disso e daquilo, e a adequação aos estereótipos midiáticos desta época obscura. De nossa parte, em nossa relação de pai e filho, espero que possamos desenvolver a capacidade de aceitação de que fala o escritor francês, coisa que, de minha parte, em minha impulsividade e ênfase, ainda preciso trabalhar e amadurecer.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A cidade natal no fundo do poço

     Cheguei ontem a Divinópolis, após passar cerca de dez dias em São Paulo. De vez em quando passo por lugares onde há alguns anos vivemos coisas boas juntos durante as visitas que fazíamos à casa de minha mãe e nas temporadas que passamos aqui. Você era bem pequeno e gostava de perambular pelas ruas da cidade sentado no meu ombro, enquanto conversava sobre tudo, pedindo explicação para cada coisa que via.
     Ao andar pela cidade e receber notícias do que anda acontecendo por aqui, fico triste com a decadência que tenho visto. Durante a minha infância e minha adolescência, passadas aqui, Divinópolis era um lugar pacato, seguro e com boa qualidade de vida. Mas bastou que há cerca de 10 ou 12 anos ela se tornasse um entreposto do tráfico de drogas para que toda uma escória de bandidos se instalasse por aqui, gerando um batalhão de viciados vivendo no último estágio da degradação e cometendo toda sorte de crimes para adquirir a droga. Também o conflito entre gangues rivais, a corrupção da parte podre da polícia, o despreparo da parte honesta da mesma instituição, a sensação de insegurança passaram a fazer parte do cotidiano da cidade.
     Mas, se o caos costuma gerar alguma luz, tenhamos ao menos esperança de que um extensivo desejo de mudança permita que forças renovadoras e mais conscientes encontrem espaço de poder neste bastião de conservadorismo e atraso político, marcado por décadas de péssimas administrações.

domingo, 1 de junho de 2014

No estádio com o Galo pela primeira vez


     Este dia em que nos reencontramos após seis meses sem nos vermos foi muito especial. Almoçamos juntos, conversando longamente sobre o que temos feito, jogamos futebol juntos com nossas camisas da Seleção Brasileira e, por fim, fomos ao estádio do Morumbi para ver o Galo jogar contra o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro. A partida foi muito boa, e o Atlético jogou muito bem, mas duas falhas grotescas de nosso goleiro, uma delas um frango lamentável, foram determinantes para nossa derrota por 2x1. Se o Galo tivesse vencido, o que poderia perfeitamente ter acontecido, assumiria a liderança do campeonato. De todo modo, saímos felizes por ver nosso time jogar bem, com excelente toque de bola, muitas triangulações rápidas e objetividade no ataque. Jogar assim, com prazer e lealdade, é o fundamental no futebol e na vida. O mais importante, porém, é que esta foi a primeira vez que assistimos a um jogo no estádio juntos, após algumas tentativas frustradas há alguns anos. A nota curiosa foi seu comentário diante dos cabeludos palavrões gritados pelos torcedores do São Paulo a nossa volta: "Nossa, esses caras não têm educação, não! Nunca devem ter ido à escola!" Gostei dessa comprovação de sua fé no poder da cultura e do conhecimento para nos tornar pessoas melhores.
     Devemos nos encontrar novamente no próximo fim de semana. Teremos muita coisa a fazer e muitas conversas ao longo do nosso dia.