segunda-feira, 29 de julho de 2013

Homesickness e wanderlust

     Incrivelmente estamos tendo várias semanas de tempo bom em Londres. A cidade está agitada e colorida, com muita gente nas ruas e uma grande efervescência cultural. Tenho visto muitos espetáculos de teatro e dança. Alguns deles são extraordinários.
     De todo modo, minha cabeça já está no Brasil, onde espero reencontrá-lo. Após resolver um problema com minha autorização de trabalho no Reino Unido no dia 13 de agosto, viajarei para o Rio de Janeiro, onde passarei dois dias colhendo material para minha próxima pesquisa no Arquivo Nacional, e depois irei para São Paulo e Divinópolis.
     Estou bem aqui, mas de vez em quando me sinto um tanto homesick e com certo wanderlust. É nesse estado de espírito que me lembro de você e me sento para escrever estas linhas.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Galo em noite de gala

     Hoje é um dia especial para nós, atleticanos. Finalmente, após muitos anos com times ruins, montamos lentamente uma equipe excelente e, na noite de ontem, vencemos a Copa Libertadores da América. Minha geração sempre lamentou que o grande Atlético de Toninho Cerezo e Reinaldo nunca tenha ganhado nem o Campeonato Brasileiro nem a Copa Libertadores, pois foi muitas vezes roubado pelas arbitragens. De todo modo, o jogo de ontem nos resgatou dessa frustração.
     Como a partida começou às 2h00 da manhã, no horário daqui, não pude esperar para assisti-la. No entanto, acordei meio de repente, às 4h30, e acessei a internet, para verificar o que ocorrera. Fiquei sabendo que o Galo, que precisava vencer o Olimpia do Paraguai no mínimo por uma diferença de dois gols, ganhou por 2x0, com o segundo gol ocorrendo dramaticamente nos últimos minutos do jogo. Houve empate nos trinta minutos de prorrogação, e a decisão foi para os pênaltis. Justamente no momento em que se iniciavam as cobranças eu acordei. Liguei o rádio imediatamente e acompanhei nossa vitória por 4x3. Foi uma felicidade, pois há muitos anos precisávamos de um título importante como este.
     Me recordo das vezes em que assistimos juntos a alguns jogos do Galo pela televisão, vestindo a camisa. A cada gol nosso, nos abraçávamos e gritávamos: "Raçaaaaa!". 
     Eu daria tudo para ter assistido à final de ontem com você, ainda que pela tv. De todo modo, me consola saber que meu filho se lembrará de mim ao longo do dia, quando vir as reportagens sobre o jogo e ouvir os comentários na escola sobre o título do Galo.
     Após o jogo de ontem, também me lembrei de meu pai, que tantas vezes me levou ao estádio do Guarani de Divinópolis para ver o Atlético jogar, quando eu era menino. Se estivesse vivo, teria acompanhado cada detalhe dessa campanha vitoriosa em seu rádio e estaria muito feliz agora. Como estamos nós! Raçaaaaa!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Com Van Gogh em Arles


     Aqui está um jardim público pintado por Van Gogh em 1888, em Arles, no sul da França. Estive lá no domingo passado. Num outro ponto da cidade, na ponte Trinquitaille, vi o lugar onde o grande artista pintou uma ponte com suas escadarias de acesso. Ao lado das escadas ele pintou uma árvore que havia acabado de ser plantada no local. Hoje, no mesmo lugar, essa árvore está enorme após mais de um século de vida. 
     É admirável como um homem que sofreu tanto e foi tão desprezado conseguiu produzir tantas obras eternas. Por isso sempre lhe direi para acreditar nos seus sonhos e fazer o que ama, mesmo que isso não lhe traga prestígio, popularidade, dinheiro ou reconhecimento por parte dos imbecis, que sempre constituirão a maioria. A vida é muito maior, e a sua humanidade vale muito mais que tudo isso.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Um espetáculo de marionetes


     Acabei de retornar da França, após passar quinze dias entre Paris, Lyon, Marseille e várias vilas e cidades da Provence. Foi uma viagem de muitas descobertas, apesar de um pouco incômoda por causa do intenso calor que fez todos os dias. Um dos momentos marcantes foi a visita ao Museu Gadagne, em Lyon, que possui uma excelente coleção de marionetes de muitos lugares do mundo. Aí está uma delas, muito bem construída, com bela expressão facial e das mãos, assim como um figurino bem costurado. Ao andar pelo museu, me lembrei de um espetáculo de marionetes que vimos juntos em São Paulo uma vez, no parque da Água Branca. Nos sentamos entre outros meninos e seus pais e assistimos à história de Ali Babá e os quarenta ladrões. Gostei da forma como você se envolveu e conversou com os bonecos, quando solicitado.
     Em outro momento em que me lembrei de você, comprei-lhe em Paris um passarinho a corda que voa, materialização de um projeto desenhado por Leonardo da Vinci. Ele será o meu presente quando nos encontrarmos em São Paulo no fim de agosto. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Provence

     Ontem andei pelas praias do Mediterrâneo em Marseille, no extremo sudeste da França. Tomei muito sol e hoje não estive me sentindo muito bem. Definitivamente o sol não é para mim. De quebra, detesto o mar, que acho sempre um chato, talvez por eu ser muito mineiro e mais próximo das montanhas e do sertão. De todo modo, ao menos pude contemplar paisagens muito bonitas e inspiradoras nas calanques, grandes cadeias montanhosas de rocha calcárea que terminam em falésias sobre o mar, sendo que em vários pontos se formam pequenas praias.
     Agora à noite estou me sentindo melhor. Amanhã partirei para Aix-en-Provence, Lourmarin, Avingnon e Arles. Estou animado pelo que virei a conhecer, pelas descobertas, as paisagens e os encontros pelo caminho. O interior é, de fato, a minha praia.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Através da França

     Nestes anos em que estou vivendo na Europa, sempre que estou de férias ou que tenho uma folga no trabalho, gosto de viajar por aqui. Tendo muitas afinidades com a França, com certa frequência tenho viajado por esse país. Desde o fim de semana, estou girando por esta terra de tantos grandes artistas, tantos grandes pensadores e homens de ciência.
     Após passar por Paris e Lyon, estou agora em Marseille, bem ao sul do país, na costa mediterrânea. Dentro de mais alguns dias, andarei por algumas vilas da região da Provence. Tenho visto coisas muito bonitas por aqui. A comida é outro atrativo, com pratos bastante saborosos, bonitos e saudáveis. E as pessoas são, em geral, mais conversadeiras e mais depojadas que em Paris. Aliás, tenho tido a oportunidade de me desenvolver na língua francesa durante essas viagens, tendo sobre ela um melhor domínio, o que também é importante para mim.
     No fim de semana, na capital, pensei em você e lhe comprei um cartão. Infelizmente não tenho para onde enviá-lo, pois você se mudou e decidiu-se que não serei informado de onde está vivendo agora. Pretendo entregá-lo em agosto, quando o encontrar pessoalmente. Do mesmo modo lhe darei um passarinho mecânico que voa após se lhe dar corda, que também comprei por lá.
     A única coisa que está me incomodando aqui é o sol, que está muito forte. Sou, talvez, o único brasileiro que não gosta de sol. Me sinto mal após uma exposição prolongada aos raios solares. Isso aconteceu ontem em Lyon, e à noite eu não estava muito bem.
     Ao andar pelo porto de Marseille hoje à tarde, diante dos muitos pequenos barcos ali estacionados, pensei em você e em nossas aventuras possíveis. A propósito, amanhã eu mesmo farei uma breve viagem de barco até a vila de Cassis, passando por entre dois paredões de falésias de calcáreo conhecidas como calanques. Ainda a propósito, me lembro de que Alexandre Dumas, em O Conde de Monte Cristo,  colocou seu personagem Edmond Dantès como prisioneiro numa ilhota na costa de Marseille, onde fica o Château d'If. Também pretendo visitá-la e entrar em pessoa no mundo delirante daquele folhetim.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ulisses sem Ítaca

     Uma vez dei o título de "Ulisses sem Ítaca" a uma coleção de crônicas em que eu divagava ligeiramente por diversos assuntos. Era um bom título, que diz muito sobre mim. Não que eu possua a astúcia e o heroísmo do grande mito grego. Mas como ele tenho enfrentado as minhas guerras de Troia e ficado retido em terras estrangeiras durantes vários anos. Meu Posseidon são as desilusões dos tempos de Belo Horizonte, meus fracassos intelectuais, os percalços de minha trajetória profissional. Diferentemente de Ulisses, no entanto, me sinto meio sem ter para onde voltar, apesar de São Paulo ser uma forte referência. Tampouco tenho um lar a resgatar. Muito menos alguma Penélope esperando por mim ou inimigos a dizimar. Porém talvez eu tenha você, um Telêmaco junto a quem eu possa reviver no mínimo a alegria da paternidade, que é um laço que para mim nunca se rompeu, apesar de eu ser obrigado a me manter distante e de ter tido de me exilar por tempo indeterminado. 
     Ainda quero vê-lo brilhar no que quer que venha a escolher para a sua vida, o que certamente acontecerá, pois você é um menino muito inteligente, muito versátil e de muito talento. Gostaria apenas de poder impulsioná-lo com minha presença, meu suporte, minha crítica. Mas me entristeço por não saber se isso de fato ocorrerá nem, se ocorrer, como ocorrerá.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nosso Hino, com raça e amor


     Ontem ocorreu, no Maracanã, a final da Copa das Confederações, em que o Brasil venceu a Espanha por 3x0. Foi um grande jogo. Por causa do fuso horário, fiquei acordado até mais de uma hora da manhã, assistindo-o. Possivelmente você também o viu. 
     Um momento emocionante se deu logo antes da partida começar, quando jogadores e torcedores cantaram o Hino Nacional com muita força e emoção cívica nestes tempos em que há muita insatisfação com o estado de coisas no país, com muita gente ocupando as ruas e sendo reprimida pela polícia. Todos o entoaram com "raça e amor" - como diz outro hino, o do Galo -, exprimindo seguramente nosso anseio por um país mais justo e melhor.
     Me lembro de que assistimos juntos aos jogos da Copa do Mundo de 2006. Você tinha apenas um ano, mas já estava todo uniformizado (camisa, calção e meia da Seleção), para ver cada jogo. 
     Entre junho e julho do ano que vem, estarei em São Paulo. Tentarei tê-lo a meu lado durante os jogos do Brasil. Se possível, assistiremos a algumas partidas no estádio. Mas não vou contar isso como certo, pois sabemos como as coisas são um tanto difíceis quando se trata de você estar comigo.