sábado, 30 de abril de 2016

Duas árvores


     Quando  você  nasceu,  plantei  uma  muda  de  sibipiruna numa área reservada em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. O local fica num condomínio fechado ao qual tive acesso através de um casal então amigo. A árvore de folhas de um verde intenso e flores muito amarelas deve estar hoje bastante crescida. Nunca mais a vi. Nem a verei mais. Porém me lembrei dela hoje, plantada que foi para celebrar seu nascimento.
     Por  falar  em  árvore,  tive  uma  infância  marcada  pela proximidade com muitas delas, mas uma ficou bem marcada: a jabuticabeira. Havia sempre pés de jabuticaba nas proximidades. E os meninos faziam a festa em começo de ano, quando elas frutificavam. Com o correr dos anos, à proporção que a cidade foi crescendo e "progredindo", as jabuticabeiras foram desaparecendo. Hoje elas só existem em alguns sítios e fazendas da redondeza, e os frutos, quando os encontramos para vender na cidade, são caros.
     Se  um  dia  eu  tiver  uma  casa  com  um  bom  quintal, sem dúvida ele terá uma ou duas jabuticabeiras. Imagino nós dois e outras pessoas queridas sentados debaixo delas após colher um balde de jabuticabas! Esta é uma possível concepção de um paraíso brasileiro.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Modinhas

     Passei  toda  a  tarde  de  hoje  em  casa.  Em  certo momento, enquanto cuidava da correspondência, pus-me a ouvir uma seleção de modinhas antigas que tenho no computador. Num tempo tão prosaico tal como o nosso, em que mataram o lirismo e em que se estabeleceu o império da baixeza, foi bom ser transportado para o século XIX no Brasil, com sua peculiar sensibilidade. Eram canções cantadas em outro tom, com uma impostação de voz com a qual não estamos acostumados. Ainda agora, enquanto escrevo, sigo ouvindo-as com prazer.
     Gosto  dos  títulos  de  algumas  modinhas,  que  lançam mão de um português hoje arcaico, derramam um sentimentalismo pitoresco e chegam a ser engraçados pelo exagero: "Quis debalde varrer-te da memória", "Vai, cruel, em braços doutros", "Prazeres que eu não sonhava", "Belas baianas", "Cozinheiro art nouveau", "Tão longe, de mim distante"...
     É  uma  pena  que,  possuindo  uma  herança  cultural  tão rica, grande parte das pessoas no Brasil não tenha acesso a ela devido ao péssimo nível de nossa educação pública, da era do entretenimento banal e do rebaixamento pós-moderno. 
     Gostaria  de  vê-lo  crescer  como  uma  pessoa  cultivada e uma mentalidade aberta. Mas que sua cultura jamais seja apenas ornamento e vaidade, mas algo vivo que faça parte essencial de sua vida numa unidade de beleza e ética. Isso fará de você um cidadão qualificado e uma pessoa melhor, proporcionando-lhe ainda um amplo repertório de imaginação e alternativas variadas para enfrentar os desafios da vida.
     Em  realidade,  acredito  que,  neste  momento,  tanto tempo já sem encontrá-lo, tenho sentido falta de compartilhar com você a leitura de um livro, a visita a um museu, um filme de Carlitos, um jogo do Galo no estádio, uma peça de teatro. Mas tudo tem seu tempo.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Brasil e suas lições de absurdo


     Muitas  notícias  recentes  do  Brasil  têm  rompido todos os limites do absurdo e ido muito além do que mesmo a mais estrambótica ficção pode imaginar. Perto do que temos assistido dia a dia, acordar de sonhos intranquilos pela manhã e se perceber metamorfoseado num inseto gigantesco é "fichinha", como o povo diz.
     Acabo  de  ler  nos  jornais  que,  no  Rio  de  Janeiro, uma ciclovia suspensa a grande altura diante do mar, numa área sujeita a arrebentação, desabou depois de receber o impacto de uma grande onda. Com isso, três ciclistas que passavam pelo local na ocasião perderam suas vidas. Só isso já superaria tudo o que um Kafka, um Ionesco ou um García Márquez seria capaz de imaginar. Afinal, como esses grandes escritores poderiam ser capazes de conceber o artista da engenharia que projetou essa ciclovia e que não sabia que o mar arrebenta naquela região há milhões de anos? A irresponsabilidade, a incompetência e a certeza da impunidade nos são familiares, mas também já romperam todos os limites do concebível.
     Mas  o  pior  ainda  estava  por  vir,  e  nisso nem mesmo a imaginação delirante de um Dante da Divina Comédia ou de um Hieronimus Bosch do "Jardim das delícias" seria páreo para nossa realidade. Os cadáveres de dois dos ciclistas mortos foram levados para a praia até que a ambulância do Instituto Médico Legal viesse buscá-los. E um fotojornalista que chegou rapidamente para cobrir o acontecimento capturou esta imagem para além de tudo o que se pode imaginar: os dois corpos estendidos no chão e um jogo de futebol acontecendo tranquilamente bem ao lado. Como foi que o homem cordial brasileiro pôde chegar a tal indiferença, a tal desvalorização da vida e a tal despreocupação com o próximo?
     Ao  visualizar  o  horror  mostrado  nesta  fotografia, lembrei-me de imediato da parábola do bom samaritano, contada por Cristo: um homem que viajava de Jerusalém para Jericó foi espancado e roubado por salteadores, que fugiram, deixando-o estatelado na estrada, quase morto. Um sacerdote e um levita que passaram por ali não se compadeceram do moribundo e seguiram seu caminho, indiferentes. Porém um samaritano, povo desprezado pelos judeus, aproximou-se do homem, administrou-lhe os primeiros cuidados, colocou-o sobre seu animal e levou-o para uma hospedaria. No dia seguinte, deu uma boa quantia em dinheiro ao hospedeiro, com ordens de cuidar do desconhecido e enviar-lhe a conta do que porventura viesse a gastar a mais.
     Quão  próximos  esses  peladeiros  cariocas  estão  do sacerdote e do levita da parábola cristã. Quão distantes estão do bom samaritano. Quão desumanos, quão banais. Como os ciclistas já estavam mortos nesse momento, seria ao menos catártico ver um bom samaritano pós-cristão que ali chegasse possuído de santa fúria e mandasse esses peladeiros de praia para aquele lugar. 
     Talvez  se  estranhe  que  recentemente  eu  venha tratando de temas tão pesados ao me dirigir a um menino de 11 anos. Porém não há como nos evadir dessa realidade pavorosa que é lançada em nossas caras todos os dias e que você, vivendo na selva paulistana, conhece muito bem. Por outro lado, só refletindo sobre o fundo de poço a que chegamos poderemos transformar esse estado de coisas. 
     Que  você  jamais  tenha  a  indiferença  desses  canalhas de praia em relação a qualquer ser humano.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Casa da mãe Joana

     Por diferença de fuso horário, não pude acompanhar, na noite de ontem, o fim da votação do processo de impeachment de nossa presidente na Câmara dos Deputados. Hoje, ao acordar cedinho, soube que a pior legislatura da história do congresso brasileiro decidiu pela destituição de Dilma Rousseff. Como o país está agora de cabeça para baixo, com todos os valores invertidos, bandidos de uma quadrilha foram os juízes que condenaram uma pessoa honesta.
     A sessão naquela casa de meretrício político foi um festival de palhaçadas. Nunca o nome de Deus foi tão evocado em vão. Abundaram discursinhos do nível intelectual de um sagui e de uma pieguice digna de Vicente Celestino. Corações maternos, filhos queridos, esposas adoecidas, avozinhas e netinhos, santos de devoção foram evocados. Houve até homenagem à memória de um monstro torturador do tempo da ditadura militar. Só faltou algum daqueles engravatados soltar um apoteótico "Heil Hitler" de braço estendido. Mas, independentemente das palavras desses vermes, seu próprio histrionismo fala por si. Esse é o exemplo que os brasileiros comuns recebem todos os dias por parte de quem é uma referência para a sociedade. Esses são os jagunços da elite econômica do país. Como os mesmos que furam os olhos das pessoas reclamam de sua cegueira, já já ouviremos nossa oligarquia vira-lata reclamar da falta de civilidade do cidadão comum.
     Neste  momento,  mergulhado  em frustração e vergonha após esse evidente golpe de Estado, que custará ao país uns 20 anos de instabilidade, chego a pensar se, em última instância, não precisamos realizar, também nós, uma espécie de Revolução Francesa, cortando as cabeças desses membros do Antigo Regime que tanto vampirizam o Brasil.
     Numa  verdadeira  democracia,  forças  antagônicas  da sociedade estabelecem um pacto de respeito à decisão da maioria, e os que perderam se rearticulam, aguardando um novo pleito para tentar engajar a maioria soberana dos cidadãos em seu projeto político. O que estamos assistindo agora é, mais uma vez, como em outras ocasiões de nossa história, à quebra do pacto que permite um mínimo de estabilidade e sociabilidade ao país. 
     Nossa  oligarquia  medievalesca  está muito enganada se pensa que terá paz para governar agora que usurpou o poder, pois a maioria da população não vai se submeter a um governo sem legitimidade. Essa figura insidiosa e dissimulada de vice-presidente, que, em conluio com as ratazanas do Congresso, assaltou o poder e agora assumirá a presidência não pode ser aceita. Porém, ainda mais importante que a queda desse "mordomo de filme de terror", como ele já foi muito bem definido, é uma reforma profunda de nossas instituições, que há muito já estão caindo de podres.

sábado, 16 de abril de 2016

A "democradura" brasileira

     O  escritor  uruguaio  Eduardo  Galeano  costumava  usar o termo "democradura" para definir os regimes liberais ocidentais contemporâneos, ou seja, regimes representativos em que há eleições, separação de poderes e processos formais de governabilidade. No entanto, tais regimes são, no fundo, absolutamente autoritários, já que controlados por grandes corporações e uma oligarquia bilionária que constitui o jet set mundial, pratica todas as contravenções para não pagar impostos e mantêm sua riqueza salvaguardada nas Suíças, Ilhas Cayman ou Jerseys da vida, paraísos dos grande corruptos do mundo que os países de maior peso político cinicamente nada fazem para combater.
     Nestes  últimos  anos  as  notícias  do  Brasil,  onde  com efeito jamais tivemos democracia, estão expondo a podridão de nossa "democradura". Às vezes a impressão que se tem é a de que estamos vivendo um carnaval, uma espécie de mundo às avessas. Chega a ser engraçado ver, no noticiário, as figuras mais corrompidas representando o papel de paladinos da moralidade, falando alto com a eloquência de seus dedos em riste. Enquanto isso, as pessoas comuns são as mais afetadas pela crise econômica criada por esses irresponsáveis e agravada pela atitude de grupos midiáticos da mais extrema grosseria. Há uma queda visível na qualidade de vida no país, nossas cidades estão cada vez mais desconfortáveis, nossa infraestrutura está muito aquém daquela que se espera de um país que se ufana de ser a sétima economia do mundo.
     Seria  bom  se  a  exposição de todas essas misérias, que envolvem todos os partidos e muitas figuras proeminentes da política brasileira, levasse a um debate intensivo sobre reformas como as dos sistemas político, tributário, judiciário, legislativo, previdenciário, educacional, de saúde, agrário; que se rediscutisse os privilégios da casta de políticos e se buscasse formas de se tomar decisões envolvendo a participação direta dos conjunto dos cidadãos. Mas nada disso parece estar na pauta neste momento em que o golpismo retorna irascível, neofascistas saem do armário e um partido que aglutinou esperanças de transformação do país sob sua liderança degenerou-se na prática do que há de pior na política brasileira.
     Essas  indecências  todas  estão  sendo  esfregadas  todos os dias em nossas caras, estão na televisão nos horários em que as criancinhas estão acordadas (sem sequer faixas de proibidas para menores). Através delas se transmitem os valores da esperteza, do individualismo, da ganância, do salve-se quem puder, valores abomináveis dos quais desejo vê-lo muito distante. Sempre busquei estimular em você a generosidade, a preocupação com os outros, o respeito pela dignidade de cada um e pelo patrimônio de nossa comunidade. Jamais seja cínico por que muito o são. Cresça consciente dos problemas do país, que você poderá enfrentar simplesmente realizando com honestidade aquilo a que vier a se dedicar, partilhando com os outros a sua vida e o que vier a conquistar. Tudo isso, que parece óbvio, precisa ser dito num momento em que a infâmia desfila triunfante por todo lado.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Uma estrada


     Hoje  à  tarde  eu  andava  pela  região  de  Piccadilly Circus - próximo do número 3 da Savile Row, onde fica o edifício em cujo topo os Beatles fizeram sua última apresentação -, quando uma repórter de televisão me parou e me perguntou qual de suas canções é a minha preferida e por que. Embora eu tenha todo um rol de favoritas, canções eternas como "She's leaving home", "Here, there and everywhere", "Penny Lane" ou "Here comes the sun", não pensei duas vezes para responder: "The long and winding road" é a minha preferida. E o motivo, a perfeita conjunção entre delicadeza da música e a poesia da letra, além da comoção que ela sempre me provoca. 
     Uma  vez  o  americano  Ray  Charles,  que  também  a gravou, disse que "The long and winding road" sempre o fazia chorar. Quando a ouço, sinto também uma ponta de tristeza. Agora mesmo, diante do computador, ouço-a em diversas gravações. Inundado de beleza e com um nozinho na garganta, penso em tudo o que está neste momento entre mim e essa longa e sinuosa estrada, desejando também eu percorrê-la ao encontro do que realmente importa nesta vida.

domingo, 10 de abril de 2016

Oxalá

     Tive,  hoje  pela  manhã,  um  compromisso  na  região de Fitzrovia, que é central mas que não está muito próxima daqui. Minha ideia era almoçar por lá e retornar logo para casa, pois inicialmente tinha planos de sair para correr no fim de tarde. Mas acabei mudando de ideia, não somente porque já corri como um fauno ao longo da semana passada como porque gostaria de perambular um pouco pelas ruas. Assim, decidi fazer uma longa caminhada de volta para casa. Foi bom vir vendo a cidade, as hordas de turistas em Piccadilly Circus, a movimentação das pessoas no Green Park, as novas cores e cheiros que por todo lado ressurgem neste início de primavera, o estilo de vida dos milionários que frequentam a área de Knightsbridge, a elegância urbanística do bairro de Chelsea, as águas caudalosas do Tâmisa depois de uma sequência de dias chuvosos.
     Naturalmente  me  lembrei  de  meu  rebento,  com  quem já fiz tantas caminhadas assim por Belo Horizonte, Divinópolis e São Paulo. Sentado aos meus ombros, ele me fazia mil perguntas para saber por que as coisas do mundo são como são. E eu não o deixava sem repostas, ainda que tivesse de imaginar algumas delas.
     Vim também pensando sobre se não estou desperdiçando a minha vida aqui, longe das pessoas essenciais, pessoas que verdadeiramente importam e que se importam comigo. Embora o Brasil esteja vivendo um momento débil mental de sua história, tenho considerado com seriedade a possibilidade de voltar, ainda que desempregado e sem saber o que vou fazer. Não importa. Minha vida tem se feito através de ciclos que se abrem e se fecham a cada quatro ou cinco anos, e tenho sabido renascer em outros lugares, através de outros afazeres, com outras pessoas.
     Oxalá  eu  e  meu  rebento  possamos,  ainda  neste  ano, perambular novamente pelas ruas de São Paulo, embora já não mais sobre meus ombros, pois Hércules não sou.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A besta-fera entre nós

     Ontem  pela  manhã,  logo  ao  acordar,  sentei-me  ao computador e lhe escrevi, contando-lhe sobre o duplo arco-íris que havia visto no dia anterior e fazendo humor com sua imaginada resistência em passar debaixo de um deles. Meia hora depois, ainda no espírito alegre da manhã de domingo, recebo um telefonema de minha irmã Renata, contando-me que Felipe, casado com nossa prima Priscila, havia sido assassinado na noite de sábado. Estarrecido pela notícia, em seguida recebi relatos vagos e desencontrados de pessoas da família sobre o que havia ocorrido. Um pouco mais tarde, enviaram-me o boletim de ocorrência com a narrativa oficial dos fatos por parte da Polícia.
     O  mais  espantoso  nessa  história  melancólica  é  o  motivo da atrocidade que foi cometida contra Felipe - e por engano. Num bar do bairro onde ele morava, durante um jogo de futebol transmitido pela televisão, houve uma discussão que rapidamente se desenvolveu para uma briga. Então dois monstros que lá estavam saíram do local, retornando pouco depois sobre uma motocicleta e com uma arma, atirando a esmo nas pessoas que se encontravam no bar e ferindo quatro delas sem maior gravidade. Seguiram seu caminho e, dois quarteirões adiante, passaram por Felipe, que estava encostado em sua própria motocicleta, próximo de sua casa. Confundido com uma das pessoas envolvidas na briga no bar, ele foi alvejado várias vezes, morrendo no próprio local. Enviaram-me até uma reportagem de um jornal da cidade, que teve a indelicadeza de publicar uma fotografia dele pendurado na motocicleta, esvaindo-se em sangue. Tinha 27 anos e casara-se com Priscila havia dois anos. Não bebia, era um sujeito educado, pacífico e com toda uma vida pela frente.
     Diante  de  um  acontecimento  como  esse,  penso  sempre que Deus não pode mesmo existir. Ou se existe e realmente os homens foram feitos a Sua imagem e semelhança, "somos levados à inevitável conclusão de que Deus é um covarde, um idiota e um pilantra", como escreveu Mencken.
    Chorei  ao  me  lembrar  da  última  vez  que  vi  Felipe, durante a ceia familiar do Natal de 2014. Sentados proximamente, na grande mesa que reunia várias pessoas, ficamos por algum tempo conversando justamente sobre futebol. Os tiros que o mataram agora também me atingem neste outro lado do mundo.
     Há  alguma  coisa  muito  errada  com um país em que uma barbaridade como essa já faz parte do cotidiano, um país que está perdendo parte significativa de sua juventude dessa maneira. São tantos anos de desrespeito pelos direitos da cidadania, corrupção, desvalorização da vida, impunidade que essa escória armada não pensa duas vezes para atirar e matar. Neste caso específico, o motivo dos assassinos parece muito mais um simples pretexto para dar vazão a sua bestialidade que um real motivo, se é que se pode conceber algum motivo para tirar a vida de alguém. O que aconteceu com Felipe poderia ter acontecido a qualquer um de nós.
     Leio  agora  nos  jornais  de  São  Paulo  que  ontem  à tarde, antes de um jogo entre Corinthians e Palmeiras, houve um incidente parecido, com uma bala de outro facínora tirando a vida de um senhor que passava por perto de uma briga entre facções das torcidas dos dois clubes...
     Lembro-me  de  haver  passado  minha  infância  e  minha adolescência em Divinópolis, até vinte e pouco anos atrás, quando a cidade era muito segura, com um sentido de comunidade, e um acontecimento como esse era simplesmente impensável. Tivemos de ser muito incompetentes e muito insensíveis para chegarmos no fundo do poço em que nos encontramos hoje.

domingo, 3 de abril de 2016

Um duplo arco-íris


     Ontem  à  tarde  eu  estava  correndo  ao  longo  da margem sul do Tâmisa, debaixo de um chuvisco fininho, quando se formou no céu um duplo arco-íris.  Soube que isso acontece raramente. Parei, tirei o telefone da braçadeira e o fotografei.
     Olhando  aqui  a  imagem,  penso  no  que  você  diria, caso estivéssemos andando meio sem rumo pela cidade, conversando sobre isso e aquilo, como costumamos fazer quando nos encontramos. Imagino-o parando por algum tempo, olhando maravilhado para o fenômeno e fazendo algum comentário sobre suas cores, sua grandeza e sua beleza. Porém, puxando-o pela mão, eu lhe proporia ir tirar a prova da superstição popular de que atravessar debaixo do arco-íris faz com que se mude o sexo da pessoa, fazendo com que homem vire mulher e mulher vire homem. Já o vejo recolhendo o braço, resistindo e dizendo: "Não, papai! De jeito nenhum!".