Há uma xilogravura de Hans Holbein, o Jovem, intitulada "A Morte e o Avarento", de 1523, que mostra o último momento da vida de um sovina, quando a Morte vem buscá-lo. Sozinho no interior de uma casa que é uma fortaleza, num cômodo que possui uma janela com dupla proteção de grossas grades de ferro e rodeado por baús cheios de dinheiro, o avarento abre os braços em desespero diante de uma Morte esquelética, que - horror dos horrores - recolhe um monte de suas moedas sobre sua mesa.
Imagens desse tipo, que em seu conjunto recebiam a denominação de "A Dança da Morte", foram muito recorrentes nas artes do final da Idade Média e tinham por fim lembrar a todos da universalidade da morte, que um dia chegará para todos, não importando a sua condição em vida.
A gravura de Holbein continua atualíssima, lembrando-nos de que este mistério que é a vida está passando e vai acabar, que pode acabar a qualquer momento e que não podemos nos tornar escravos das necessidades materiais ou, ainda pior, do dinheiro como um fim em si mesmo.
Mas essa obra do grande artista alemão sempre me faz pensar no contrário da avareza: a generosidade. Esta é uma das qualidades que mais valorizo nas pessoas e que busco eu mesmo praticar. Partilhar com os outros o meu mundo e as minhas coisas, ajudar a quem precisa de modo a manter a dignidade do necessitado, indo além da mera caridade, ouvir o que o outro tem a dizer, tratar a todos com cortesia e respeito, cultivar o bom humor no dia a dia, reconhecer os méritos alheios são atitudes que estão em consonância com uma vida que vale a pena ser vivida. Não lhe escrevo isso como um virtuoso que fala de cima para baixo. Estou longe de ser um modelo de virtudes. Apenas me alegraria saber que, ao longo de sua jornada por este mundo, você manterá a generosidade e a nobreza de coração como fundamentos de suas atitudes.