terça-feira, 28 de julho de 2015

Entre montanhas e lagos



     Em  período  de  férias,  enfim  me  decido a passar uns dias no Lake District, no norte da Inglaterra. É um lugar que vinha desejando visitar desde que vim morar aqui. 
     Tenho  passado  algumas  horas  no  topo  de  montanhas altíssimas e aproveitado algum tempo à beira de lagos de águas claras. Embora seja verão, alguns dias são frios e pode chover a qualquer momento. E o topo das montanhas, aonde se chega após duas ou três horas de árdua caminhada, é sempre muito frio.
     Como  há,  por  todo  lado,  um  batalhão  de  carneiros  e ovelhas espalhados pelas montanhas, acabei descobrindo que assustá-los, perseguindo-os, é algo muito divertido. Você iria adorar essa atividade. 
     Do  alto,  a  vista  dos  vales,  lagos,  pequenas  cidades e vilas é muito bonita. Aqui viveu William Wordsworth, o grande poeta romântico inglês que, não por acaso, escreveu muitos poemas inspirados nestas paisagens. 
     Dentro  de  mais  dez  dias,  chegarei  a  São  Paulo  para encontrá-lo, antes de ir passar algum tempo em Minas, onde está minha família e alguns amigos, e no Rio de Janeiro, onde terei um compromisso. Estou contando os dias, pois estou com muita saudade. Levarei uma surpresa para você.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Um jeito de ver as pessoas


     Tive  hoje  a  tarde  livre  e  fui  à National Gallery, onde passei cerca de três horas visitando as extensas e maravilhosas galerias dedicadas ao Renascimento. Entre tantas pinturas de cenas mitológicas, históricas, bíblicas ou hagiográficas, este "Baco e Ariadne", de Ticiano, chamou-me a atenção. No quadro, o deus do vinho, acompanhado por um séquito de músicos, sátiros, pessoas em estado de transe celebratório e animais (e pedaços de animais), surge de uma paisagem que sugere uma floresta. Apaixonado por Ariadne, ele salta de uma carruagem puxada por duas chitas e, pairando no ar, dirige-se a ela, que havia sido abandonada na ilha de Naxos por Teseu, cujo navio se vê à distância. Ariadne tem uma clara expressão de medo. Porém, como conta Ovídio nas Metamorfoses, Baco em breve a elevará aos céus, transformando-a na constelação representada sobre sua cabeça.
     Sempre  que  estou  diante  de pinturas e esculturas, vejo filmes ou peças de teatro, leio histórias, costumo fazer uma relação entre os tipos representados artisticamente e pessoas que conheço. Ainda que pertençam a épocas, circunstâncias e mundos completamente diferentes, os tipos humanos são limitados e muito recorrentes tanto nas representações artísticas quanto na vida. O Baco de Ticiano, por exemplo, com seu aspecto infantil e pleno de vida, me fez associá-lo a você. 
     Se  pensarmos na literatura, quando olho para as pessoas próximas, sempre vejo minha mãe como uma acabada personagem de Guimarães Rosa, com suas histórias de um Brasil arcaico, palavras inventadas e frases dignas de um Riobaldo ou um Manuelzão. Uma delas, que poderia perfeitamente estar em Grande Sertão: Veredas, é a recorrente "Neste mundo não há o que não haja". E ainda há as expressões como "cabelo estisicado", "zuiudo", "chatonildo da Silva".
     Minha  irmã  Renata,  com  seu  gênio  forte  e  sua perseverança, me lembra a Antígona de Sófocles. Já Kelly, minha outra irmã, é perfeitamente uma personagem do dramaturgo Tennessee Williams, algo meio Blanche Dubois, meio Laura Wingfield. Meu tio Iraci, com sua valentia teatral, é um Capitão Rodrigo de Erico Verissimo. E meu primo Paulinho, que atravessou a vida preso a seus complexos, mas que possui uma vida interior riquíssima, faz lembrar a Prima Biela de Autran Dourado, em Uma Vida em Segredo. E eu mesmo tenho sido um misto de Príncipe Mishkin, de Dostoiévski, e Holden Caulfield, de Salinger, com todo o sublime e o ridículo que eles contêm.
     Considerando  alguns  de  meus  amigos,  Doc,  em  São Paulo, é Macunaíma escrito e escarrado. Cleionário, em Divinópolis, que costumo definir, para júbilo de outros amigos, como hétero enrustido, é Quincas Borba. E tenho aqui uma amiga britânica, Florence, que é meio Capitu, de Machado de Assis, meio Albertine, de Proust.
     Havia  um  goleiro,  nos  tempos  de  futebol  na USP, que, quando chegava, alto e magrelo, com seu cabelo comprido, suas joelheiras e sua mania de esparramar-se no chão com espalhafato para tentar defender a bola, uma imagem me vinha logo à mente: D. Quixote. E me lembro de um colega de escola, na adolescência, a quem deram o apelido de Carinha de São Francisco. E realmente, diante daquele olhar santíssimo, daquela aura e daquela serenidade, minha mãe, que é uma católica dos tempos góticos, seria capaz de cair de joelhos e beijar-lhe as mãos. E quantos Quincas Berro d'Águas havia no bairro da minha infância, habitantes de um reino etílico chamado Bar do Jacó! 
     Em  São  Paulo,  antes  de  você  nascer,  por  algum tempo eu convivia esporadicamente com uma moça que era a própria imagem do bourgeois gentilhomme ou das preciosas ridículas, de Molière. E havia também muitas Mmes. Bovarys e Annas Kareninas malcasadas, algumas com destino igualmente trágico.
     Vejo,  entre  os  políticos  que  estão  dominando a cena política brasileira de hoje, alguns Simão Bacamartes, muitos Brás Cubas, muitos Castelos do conto "O homem que sabia javanês", alguns Macbeths e Reis Lears...
     Bem,  isso  talvez  nos  mostre  que  a  arte  é algo tão intrínseco à vida que podemos ler as pessoas próximas e nós mesmos com os olhos dos grandes artistas, ainda que eles tenham vivido em épocas longínquas e criado personagens com referências muito distintas.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Reinvenções

     Outro  dia  eu  falava  em  saudade,  em  exílio  e  no sofrimento de estar longe de você e longe do Brasil. Tenho tido um percurso irregular e imprevisível neste tempos líquidos em que vivemos. Estou sempre envolvido em várias atividades diferentes, não constituí uma carreira profissional e, já tendo passado dos 40 anos há um bom tempo, não tenho nenhum problema básico resolvido. Vivi um casamento fracassado, tenho minha família e meus amigos distantes e de tempos em tempos tenho mudado de cidade, de país, de emprego e de estilo de vida. Se tudo isso me proporciona certa liberdade e oportunidades raras, pago sempre um alto preço na forma da solidão e da insegurança de não saber nunca do que está por vir.
     Tenho  meus  compromissos  financeiros  com  você,  com minha mãe e comigo mesmo, tendo, portanto, de dar sempre o próximo passo com cuidado e responsabilidade. Tenho tido um padrão de vida modesto e busco não abandonar algumas atividades que amo: a literatura, o futebol, as viagens, por exemplo, que dão um significado mais profundo a minha vida ou simplesmente a tornam mais interessante.
     É  verdade  que  tenho  sido  agraciado  com  os  lampejos da felicidade nesse percurso marcado por uma grande quantidade de sofrimento e angústia. Mas talvez nós só realmente aprendamos alguma coisa verdadeiramente quando somos confrontados com o fracasso, a dor e a perda. Então somos obrigados a nos reinventar. É o que tenho feito com uma recorrência maior do que eu desejaria. É o que tive de fazer quando fui obrigado a me separar de você e quando decidi vir viver tão longe. É o que agora parece estar tomando corpo: a necessidade de me reinventar no Brasil e perto de você mais uma vez.

sábado, 18 de julho de 2015

Vontade de voltar

     Nestes  dias  de  férias,  entre  viagens  e  alguns  dias em casa, me pego sentindo muita saudade do Brasil. Faz já mais de meio ano que estou longe de nossas coisas, de nossa gente, de você. Gostaria de ter um trabalho em que viajasse, no mínimo, uma vez por mês ao Brasil. Por mais que se ganhe profissionalmente ou em termos de vivências distintas com a experiência internacional, perde-se muito em termos pessoais e afetivos. E o imigrante sofre por estar sempre com a cabeça em outro lugar.
     Esta  é  a  terceira  vez  que  saio  para  viver  no exterior, mas, em meu coração, é como se nunca tivesse deixado o Brasil, que sempre tenho carregado vivíssimo comigo aonde quer que eu vá. Por mais que tenha experimentado outros cheiros, outros sabores, outras línguas, outras paisagens e o contato enriquecedor com outras pessoas, tenho sido sempre, no bom e no mau sentido, o mesmo menino do interior de Minas, fã de Drummond, da folia de Reis, do Galo, do feijão tropeiro, da conversa fiada com os amigos.
     Nos  últimos  tempos,  tem  se  intensificado  a  vontade de voltar. Aliás, dentro de mais alguns meses meu contrato de trabalho vai expirar. A possibilidade de não o renovar tem se tornado uma realidade. Além de tudo, você está crescendo longe de mim, e já perdi grande parte de sua infância. Sinto que será importante estar mais próximo durante o seu desenvolvimento na adolescência. Vamos ver se as pressões econômicas e os compromissos com a vida prática não me forçarão a estender por mais alguns anos este exílio do outro lado do Atlântico, do qual também não serei injusto de reclamar, pois tenho vivido coisas muito boas e me relacionado com pessoas excelentes ao longo destes anos.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Uma rua chamada Literatura


     Estou  agora  no  aeroporto  de  Vilnius,  pronto  para embarcar de volta para a Inglaterra. Andei passando algum frio durante esta semana em terras muito ao norte do mundo. Quando parti, após oito meses de tempo ruim, finalmente fazia sol e calor em Londres, com temperaturas elevadas. Com isso achei que as coisas seriam assim por aqui também, já que estamos no meio do verão. Por não haver trazido uma blusa, enfrentei um frio de uns 10 a 12 graus por aqui, em especial pela manhã e à noite. Só mesmo o brasileiro tem a desfaçatez de vir a essas paragens sem blusa. Com isso, este brasileiro teve de comprar uma por aqui. Coisas de um verão frio.
     Perto  de  onde  me  hospedei,  na  área  mais  antiga da capital da Lituânia, descobri que há uma rua Literatura. Nas paredes das casas ali situadas, há poemas, trechos de narrativas, placas e objetos em homenagem a escritores do país. Eu mesmo gostaria de morar numa rua chamada Literatura. E bastaria esta rua para me fazer simpatizar com a Lituânia.
     Nestes  dias  nos  países  bálticos,  fiquei  impressionado de forma bastante positiva com a qualidade de vida dos cidadãos desses lugares pequenos, de recursos muito limitados e que passaram até há poucas décadas por guerras e dominação estrangeira. Ao testemunhar isso, penso no Brasil, com todos os seus múltiplos e transbordantes recursos e onde tantas pessoas vivem tão mal, condenadas pela miséria, a ignorância, a insegurança, a falta de perspectivas. Enquanto não atacarmos essas calamidades de frente, combatendo a extrema desigualdade entre as pessoas, reformando nossa política e qualificando nossos sistemas públicos de educação e saúde, continuaremos vítimas de nossa própria inépcia. Mas não gosto de falar mal do Brasil, em relação ao qual sou otimista. Já mudamos para melhor desde que eu era menino para cá. E o processo histórico segue em frente. Você já tem uma vida mais confortável que a minha na sua idade e viverá sua maturidade num país melhor que este de hoje.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Uma surpresa e uma expectativa em Riga


     Após  cruzar  o  mar  Báltico  e  passar  um  dia  na  Finlândia, retornei para o outro lado e estou hoje na Letônia. Estou muito surpreso com Riga, a capital do país, que é uma das cidades mais bonitas onde já estive. Tanto o centro histórico quanto as regiões modernas são muito bem cuidados. Há bastantes áreas verdes, o grande rio Daugava que cruza área urbana e o mar nas proximidades. A qualidade de vida me parece excelente. 
     Se não me engano, hoje é uma data nacional no país, e muitas crianças (bem como alguns adolescentes e adultos) estavam diante de um bonito Monumento à Liberdade, cantando e dançando canções típicas. Sei que esse costume de celebrações coletivas vem do tempo em que a Letônia era um país comunista, há poucas décadas. Mas o espetáculo me pareceu autêntico, entusiasmando de fato os participantes, algo muito diferente daquelas abomináveis festinhas juninas de nossas escolas, nas quais, quando menino, eu ficava constrangido naquelas roupas e chapéu de falso caipira, inclusive com dentes pintados de preto, para dar a ilusão de falhas.
     Sempre  penso  em  você  quando estou assim longe de casa, perambulando pelas ruas de países distantes, conversando com as pessoas locais e experimentando novos gostos, novos cheiros e novas cores. Neste momento de minha vida, tenho tido a sorte de poder fazer isso, algo com que sonhei muito durante a minha adolescência. Mas não imaginava que se daria na proporção em que está acontecendo agora. Desejo que você também tenha esta oportunidade um dia, quando for mais independente. Se possível, que ainda possa fazer isso comigo algumas vezes. Tenho muitas histórias para lhe contar acerca desses lugares.
     Mas  o  fato  é  que  estou  contando  os  dias  para o início do mês que vem, quando estarei em São Paulo e o reencontrarei após oito meses distante. Eu trocaria todos os lugares que conheço e os que ainda vou conhecer por nunca ter saído de perto de você. Porém a vida tem seus mistérios e suas crueldades, dos quais nenhum de nós escapa. O que importa é que, apesar de tudo, estamos bem e nunca deixamos de ser pai e filho, de nos amar e nos ter sempre como uma grande referência recíproca.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Um caminho na Estônia

     
     Estou  hoje  em  Tallinn,  capital  da  Estônia,  um país pequeno circundado por vizinhos grandes e fortes como a Rússia, a Finlândia e a Suécia. Logo que tive um tempo, fui hoje visitar o Museu de Arte Moderna e um palácio que pertenceu ao czar Pedro, o Grande, no século XIX, quando o país fazia parte do império russo. Ao fim dessas visitas culturais, saí meio sem rumo por este parque no entorno do palácio. De vez em quando começava um leve chuvisco, mas fui até o fim deste caminho, onde um monumento com um anjo dá de frente para o mar Báltico. Do outro lado do golfo, não muito distante, está a Finlândia, por onde também passarei nos próximos dias. 
     Ao fim deste caminho, pus-me a passear pela praia, que estava deserta. Até que em certo momento, uma fragata sobrevoou minha cabeça, piando agressivamente. Olhei em volta e vi que ela estava com filhote ali por perto. Então me afastei do seu bebê, para quem logo o macho trazia alguma coisa para comer.
     Esse  episódio  me  fez  lembrar  um  acontecimento que se deu conosco há alguns anos, no campus da USP. Estávamos jogando futebol, trocando passes longos, quando a bola passou por você e foi parar ao longe, perto de um quero-quero. Meu menino correu, lépido e fagueiro, para buscá-la e levou um tremendo susto quando mamãe quero-quero deu um voo rasante sobre sua cabeça, mostrando as garras e piando alto. Ao ouvir o grito de "Papaaaai!!!", seguido de choro, corri para protegê-lo, pegando-o no colo e tirando-o dali, onde, a poucos metros, dois ou três filhotes, com suas pernas compridas, caminhavam perto da bola. Depois coube a mim a dura missão de resgatá-la. Tive de voltar lá. E o fiz numa corrida veloz, levando voos rasantes e gritos estridentes de papai e mamãe quero-quero. Um deles chegou a tocar minha cabeça com suas garras. Mas a bola foi salva e fomos jogar bem longe dali. Desde então, por algum tempo, quando você não queria comer direito, era só ameaçar chamar o quero-quero, e lá se ia um bom prato de comida.

sábado, 4 de julho de 2015

A atual onda de racismo

     Leio  nos  jornais  brasileiros  que  uma  jornalista  de televisão, negra, recebeu ataques racistas na página da emissora na internet. No ano passado, um goleiro negro foi ofendido com gritos de "macaco" durante um jogo pela Copa do Brasil. Há alguns dias, fanáticos pentecostais atiraram pedras numa família de pessoas negras por elas praticarem o candomblé. Ainda recentemente uma madame da elite paulistana falava mal dos costumes, da música e da comida dos negros. Como dizia a canção de Haroldo Barbosa, "pra que discutir com madame"?
     Nos  últimos  anos,  temos  visto  um  recrudescimento do fascismo no mundo. Talvez só se possa explicá-lo como fruto de uma miserável ignorância, pois é sabido por quanta barbaridade e quanta infâmia ele foi responsável no decorrer do século XX. E é assustador ver políticos se elegerem com plataformas fascistas, jornalistas de extrema-direita celebrizarem-se por opiniões racistas, sexistas e homofóbicas, programas de televisão preconizarem soluções para os problemas do país que vão de encontro a toda uma tradição estabelecida a respeito dos direitos humanos.
     Quanto ao racismo em particular, talvez bastasse lembrar alguns de nossos negros que são o sal da terra: um Zumbi dos Palmares, um José do Patrocínio, um Luis Gama, um Cruz e Sousa, um Lima Barreto, um Mestre Bimba, um Pixinguinha, uma Eliseth Cardoso, um Leônidas, um Pelé e tantos outros. Mas contra a burrice não há argumentos. Esperemos a lei e o sistema jurídico simplesmente funcionem e enquadrem os imbecis.
     Vivendo  num  bairro  branquinho  de  classe média  de São Paulo, frequentando escola particular com colegas que reproduzem os valores pequeno-burgueses de seus pais, espero que você não esteja ouvindo estultices fascistas e que sua escola tenha uma postura clara contra elas. Eu ficaria muito irritado se soubesse que barbaridades dessa laia são ditas e praticadas perto de você.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Lindíssimo!

     Em  troca  de  mensagens  nesta  semana,  você  me contou que está muito bem na escola, com todas as notas acima de 7,5, que tem alguns bons amigos e que segue praticando com prazer a leitura, o futebol e o violão. Alegro-me por saber que tem tido uma vida com muitas atividades para além da conectividade à internet e dos jogos eletrônicos, ainda que também dedique algum tempo do seu dia ao mundo virtual, o que é normal e necessário. É uma alegria saber que você está bem e que, ao tudo indica, trilhará um bom caminho na vida. Como lhe disse muitas vezes, tenho orgulho de ser seu pai.
     No  começo  de  agosto,  chegarei  a  São  Paulo  para encontrá-lo e passar um fim de semana com você. Quando vou a Minas, minha mãe - que não o vê há anos - sempre me pergunta como você está e o que tem feito. E sempre dá um suspiro ao ver suas fotos, dizendo: "Mas como ele está bonito!". E eu confirmo: "Lindíssimo!".
     Como  todos  nós,  você  tem lá os seus defeitos também: uma grande impaciência (que certamente vem de mim), passagens rápidas e sem transição de uma atividade para outra (que também por certo vem de mim) e um ar de excessiva seriedade (que também vem de mim). Pelo que se vê, meu legado psicológico talvez não seja dos melhores. Mas entre meus muitos e grandes defeitos não estão o da desonestidade e o desumanidade, que tampouco farão parte, jamais, de seu caráter.