Não pude ir para o Brasil a fim de passar este Natal e o dia de Ano Novo junto com minha família e meus amigos. Depois de todos estes anos longe, é a primeira vez que isso acontece. Muito especialmente, estou triste por não poder vê-lo nestes dias, como acontece todo ano. A noite de hoje será triste, fria e solitária.
Mas penso agora num Natal que passamos juntos e rio sozinho. Era 2009 e foi a última vez que você veio passar uma breve temporada comigo. Fomos para a casa de minha mãe, em Divinópolis, onde ficamos cerca de dez dias. Você estava feliz, brincando muito, jogando futebol com os meninos da vizinhança e passeando na chuva.
No Natal propriamente, no auge dos seus quatro anos, nos preparamos com ansiedade para a vinda do Papai Noel. Na noite do dia 24 de dezembro, antes de você dormir, eu lhe disse para colocar na janela, do lado de fora, alguns biscoitinhos e um copo de água para nosso visitante noturno. Então fui colocá-lo para dormir, e ficamos especulando sobre que presentes lhe seriam trazidos.
Quando você dormiu, fui até a janela, joguei fora mais da metade da água do copo e esfarelei um pouco dos biscoitos, retirando-os de lá. Coloquei, então, seus presentes ao pé da janela. Na manhã seguinte, dia de Natal, quando você acordou, pedi-lhe que fosse até o lado de fora para ver se o Papai Noel havia vindo e se ele havia lhe deixado algum presente. Então você pulou da cama e correu para verificar o que se passara no meio da noite. Fiquei no quarto, esperando para ver qual seria sua reação. Foi quando ouvi seu grito animado e os passos apressados de sua corrida de volta até o quarto, para o deleite de minha mãe e minhas irmãs:
- Papai! Ele comeu tudo!!!
Seus presentes quase nem foram percebidos.
De vez em quando, ao lembrar essa história, algumas pessoas costumam ficar escandalizadas pelo fato de eu haver mentido a meu filho, fazendo-o acreditar na existência do Papai Noel. Ora, nem parece que todos nós estamos expostos todos os dias a grandes e descaradas mentiras por parte de políticos, jornalistas, vendedores e até de pessoas próximas em quem confiamos. A mentira sobre Papai Noel foi algo inocente que fez parte de um período de sua vida quando era realmente o tempo de acreditar nele. Abominável é privar a criança da imaginação e do sonho.
Hoje, aos dez anos e às vésperas da adolescência, você não crê mais em Papai Noel. Mas sei que, como eu, lembra-se com carinho da noite em que ele comeu todos os biscoitinhos e bebeu o copo d'água que deixamos na janela do quarto.