quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Um conto de Natal

     Não  pude  ir  para  o  Brasil  a  fim  de  passar  este Natal e o dia de Ano Novo junto com minha família e meus amigos. Depois de todos estes anos longe, é a primeira vez que isso acontece. Muito especialmente, estou triste por não poder vê-lo nestes dias, como acontece todo ano. A noite de hoje será triste, fria e solitária.
     Mas  penso  agora  num  Natal  que  passamos  juntos  e rio sozinho. Era 2009 e foi a última vez que você veio passar uma breve temporada comigo. Fomos para a casa de minha mãe, em Divinópolis, onde ficamos cerca de dez dias. Você estava feliz, brincando muito, jogando futebol com os meninos da vizinhança e passeando na chuva.
     No  Natal  propriamente,  no  auge  dos  seus  quatro anos, nos preparamos com ansiedade para a vinda do Papai Noel. Na noite do dia 24 de dezembro, antes de você dormir, eu lhe disse para colocar na janela, do lado de fora, alguns biscoitinhos e um copo de água para nosso visitante noturno. Então fui colocá-lo para dormir, e ficamos especulando sobre que presentes lhe seriam trazidos.
     Quando  você  dormiu,  fui  até  a  janela,  joguei  fora mais da metade da água do copo e esfarelei um pouco dos biscoitos, retirando-os de lá. Coloquei, então, seus presentes ao pé da janela. Na manhã seguinte, dia de Natal, quando você acordou, pedi-lhe que fosse até o lado de fora para ver se o Papai Noel havia vindo e se ele havia lhe deixado algum presente. Então você pulou da cama e correu para verificar o que se passara no meio da noite. Fiquei no quarto, esperando para ver qual seria sua reação. Foi quando ouvi seu grito animado e os passos apressados de sua corrida de volta até o quarto, para o deleite de minha mãe e minhas irmãs:
     - Papai! Ele comeu tudo!!!
     Seus presentes quase nem foram percebidos.
     De vez em quando, ao lembrar essa história, algumas pessoas costumam ficar escandalizadas pelo fato de eu haver mentido a meu filho, fazendo-o acreditar na existência do Papai Noel. Ora, nem parece que todos nós estamos expostos todos os dias a grandes e descaradas mentiras por parte de políticos, jornalistas, vendedores e até de pessoas próximas em quem confiamos. A mentira sobre Papai Noel foi algo inocente que fez parte de um período de sua vida quando era realmente o tempo de acreditar nele. Abominável é privar a criança da imaginação e do sonho.
     Hoje,  aos  dez  anos  e  às  vésperas  da  adolescência, você não crê mais em Papai Noel. Mas sei que, como eu, lembra-se com carinho da noite em que ele comeu todos os biscoitinhos e bebeu o copo d'água que deixamos na janela do quarto.

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