Quando me exercitava em alongamentos num parque perto de casa, hoje pela manhã, depois de correr, vi alguns meninos pequenos que por ali estavam com suas mães e seus brinquedos. Ao terminar os exercícios, enquanto voltava para casa, fiquei me lembrando de você e de algumas histórias engraçadas do tempo em que tinha 3 ou 4 anos, mais ou menos a mesma idade das crianças que brincavam no parque. Como daqui a pouco você já vai entrar na adolescência, costuma sentir uma pontinha de vergonha quando as conto. Mas vamos lá.
Uma vez, quando estava aprendendo a contar, você recitava: "...dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, dezedez"!
Numa outra ocasião, levei-o a um circo. No começo do espetáculo, um casal com pernas de pau cobertas por uma longa calça colorida veio caminhando para o nosso lado. Você os olhou de alto a baixo, virou-se para mim e me fez duas perguntas: "Por que eles são tão grandes assim?" e "Por que eles não têm pé?"
O destino fez com que no mesmo dia estivéssemos brincando perto de uma fonte, na região do Teatro Municipal de São Paulo, quando um anão parou perto de nós. Você o olhou intrigado, tentando entender o que era aquilo, e comentou: "Que meninão pequeno!" Todos em volta, inclusive o próprio anão, começaram a rir.
Um dia você me pediu que o levasse à sauna do condomínio onde eu morava. Decidi então levá-lo para ficar cinco minutos. Mas logo ao entrar, sentindo o calor intenso, você esbravejou: "Não, papai, isso aqui é quente demais! É um deserto!" E a experiência não durou nem dez segundos.
Ao ver um carro vermelho passar velozmente pela rua, comentei: "É o Relâmpago McQueen!". Ao que você respondeu, com sua entonação peculiar: "Mas ele não tem boca!"
Uma vez levei-o para me ver jogar futebol no time de minha faculdade, na USP. O jogo era contra o time da Faculdade de Engenharia, nosso rival. Sentei-o junto com nossos jogadores reservas. Por volta dos dez minutos de partida, fiz um gol de cabeça e corri para o banco, a fim de abraçá-lo. Você me abraçou e me beijou, mas se agarrou a meu pescoço e pediu, ou melhor, exigiu colo, querendo que eu voltasse para o jogo com você nos braços... Tive de ser substituído.
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