domingo, 23 de setembro de 2012

Dias de chuva

     Este é um domingo de chuva em Londres. Eu iria sair e fazer alguma coisa pelo centro da cidade, mas quando abri a porta vi que seria muito incômodo enfrentar uma chuvinha fina e um friozinho chato que durariam o dia todo. Diante disso resolvi ficar em casa com meus livros, alguma música e um filme.  E eu mesmo fiz o meu almoço sem pressa, uma boa experiência.
     Neste fim de tarde, penso em você e sinto saudade. E me vem à mente uma história em sua companhia num dia de chuva. Uma vez, em São Paulo, saímos para almoçar numa segunda-feira chuvosa de dezembro. Peguei-o no colo e saímos debaixo de um velho guarda-chuva. Íamos conversando e parando para olhar os ônibus que passavam sobre poças e atiravam longe a água ali acumulada, coisa com a qual você se divertia. E também parando para olhar a enxurrada adentrar pelos bueiros. De repente, veio um vento forte e virou nosso guarda-chuva pelo avesso. Além disso, ele escapou de minha mão e correu longe. Não sei se por causa do susto ou pela surpresa de se ver subitamente na chuva, você disparou a chorar. Corri para debaixo de uma marquise, acalmei-o e fui pegar o guarda-chuva de volta. E seguimos nosso caminho até o restaurante, com você no meu colo, falando bastante e me contando sobre sua visão das coisas. E sempre fascinado pelo que via pelo caminho.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Seu caderno


     Hoje me lembrei de um caderno que mantive em São Paulo, que era uma espécie de diário de nosso relacionamento durante o pouco tempo em que pudemos partilhar uma convivência esporádica depois que fomos afastados um do outro. Nele eu falava da nossos encontros, do que havíamos feito juntos, de suas frases para a eternidade, de suas descobertas e suas pequenas grandes aventuras. Há até mesmo uma mecha de seu cabelo colocada num saquinho de plástico e grampeada numa das páginas. E me lembrei também desta canção de Chico Buarque, aqui interpretada por Toquinho. Os dois captaram poeticamente a relação de uma menina com o caderno em que ela escreve sobre sua experiência. 
     Em seu caderno, que um dia espero lhe dar, tentei captar um pouco da alegria e da variedade de nossa convivência por algum tempo. Pena que mais da metade de suas páginas ficaram em branco. Elas representam, como diz um de nossos maiores poetas, "a vida inteira que podia ter sido e que não foi".

sábado, 8 de setembro de 2012

Você no teatro

     Sou uma pessoa próxima do teatro e tenho estado bem junto dele recentemente. Nestas duas últimas semanas, venho acompanhando um festival de teatro latino-americano, tendo a oportunidade de assistir a peças vindas do Brasil, do México, da Argentina e do Chile. Estou organizando um evento em Londres sobre nosso grande Nelson Rodrigues, que completaria 100 anos em 2012, caso estivesse vivo. E também tenho ajudado na produção de uma peça dele por uma companhia inglesa.
     Me lembro de uma vez em que o levei ao teatro, para assistir a uma montagem de O Médico e o Monstro, no Teatro do SESI, na Avenida Paulista. Sempre que o Dr. Henry Jekill se transformava no monstro e entrava uma música de suspense e efeitos de iluminação, você pulava para o meu colo e se abraçava a mim. Se isso incomodou um pouco os espectadores vizinhos, ao menos a peça teve um interessante efeito catártico sobre meu filho. E eu adorei protegê-lo em seu momento de medo e insegurança.

domingo, 2 de setembro de 2012

Solidão


     Este é um domingo de fim de primavera. Já começa a chegar um friozinho, que deve ir aumentando gradualmente até o ápice do inverno, que costuma ser no mês de janeiro. Andei hoje pela área de Portobello Road e do Kensington Gardens, ao norte da área central da cidade. A certa altura me sentei num banco do parque e fiquei olhando uns meninos dando comida aos patos e pássaros que habitam o local. Naturalmente pensei em você, que gosta de fazer esse tipo de coisa. No resto do dia, senti um aperto no coração. Às vezes me bate uma forte sensação de solidão aqui. É o que está me assolando hoje. Além disso, há a saudade do Brasil e dos nossos dias mais coloridos, mais ensolarados. Mas é preciso resistir à tristeza e seguir em frente.
     A propósito, aí vai esta foto de dois passarinhos que tomavam banho perto de mim.