Relendo Nietzsche agora há pouco, em Aurora, pensei nas muitas vezes em que o
tenho aconselhado a ser você mesmo, a preservar sua individualidade e a jamais
fazer parte de qualquer tipo de rebanho humano. No caso, o grande pensador
tratava da ideologia do trabalho como algo desumanizador. Escreve ele:
Na
glorificação do “trabalho”, nos infatigáveis discursos sobre a “bênção do trabalho”
vejo o mesmo pensamento secreto que nos louvores dirigidos aos atos impessoais
e úteis a todos: a saber, o medo de tudo o que é individual. No fundo, sentimos
hoje, perante o trabalho – queremos sempre significar com esta palavra o duro
labor do nascer ao pôr do sol –, que ele constitui o melhor dos polícias, que
segura os homens pelas rédeas e se dedica a entravar poderosamente o
desenvolvimento da razão, dos desejos, do gosto da independência. Justamente
porque consome uma quantidade extraordinária de energia nervosa e a subtrai à
reflexão, à meditação, ao sonho, aos desejos, ao amor e ao ódio, apresenta à
vista um objetivo mesquinho e assegura satisfações fáceis e regulares. Assim,
uma sociedade em que se trabalha contínua e duramente, terá maior segurança:
hoje em dia adora-se a segurança como se fosse a suprema divindade. – E depois!
Horror! O próprio “trabalhador” tornou-se perigoso! O mundo formiga de
“indivíduos perigosos”! E atrás deles o perigo dos perigos – o individuum!
Espero vê-lo, ao longo da vida, a se dedicar àquilo de que gosta, honrando seu tempo com aquilo que lhe dá prazer e que faz com amor, mesmo se o que estiver fazendo não for algo muito popular, muito útil nem muito rentável. Que inclusive não abra mão do honorável tempo de não fazer nada. Quase sempre é na lentidão, no silêncio, no intervalo de grandes agitações que as coisas mais significativas da vida acontecem. Portanto, nunca tenha medo de ser uma pessoa autêntica, o indivíduo a que se refere o filósofo.
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