sábado, 7 de setembro de 2013

Uma casa desaparecida

    Recentemente, durante os dias passados na casa de minha mãe, em Divinópolis, pude revirar pastas, álbuns e caixas que continham alguns objetos biográficos. Numa delas, encontrei este desenho que fiz há muito tempo. Eu devia ter meus doze ou treze anos quando um dia revolvi me colocar - lápis e papel na mão - diante da casa onde passei a infância e onde ainda morava. Uma casa pequena num bairro pobre de uma cidade provinciana dos confins do interior de Minas. Situava-se ela numa ruazinha significativamente chamada rua Passa Tempo, que, nos meus tempos de menino, nem calçada era, estando em consonância com nossa precaridade institucional, nosso atraso e nossa falta de política para os pobres. No entanto, ali me formei com muitas dificuldades, mas também muita liberdade. Ali adquiri os valores que sigo mantenho comigo.
     Hoje essa casa não existe mais, substituída que foi por outra melhor e mais moderna. A própria rua de minha infância está muito mudada, com sua paisagem completamente transformada, além de haver mantido poucas pessoas daquela época, em virtude de várias mortes e muitas mudanças para outros lugares. De minha parte, não tenho saudade daquele tempo nem olho para o passado com uma atitude sentimental. Mas haverei sempre de reconhecer o valor da experiência que tive ali e jamais renegarei minhas origens, sob pena de vagar à deriva neste mundo em que tudo é tão volátil.
     Talvez eu esteja escrevendo essas coisas para chamar sua atenção para a necessidade de que você sempre busque visualizar um sentido na sua história, não se perdendo nos modismos, na fluidez dos valores contemporâneos nem no complexo de vira-latas que ainda costuma nos assolar de tempos em tempos.

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