domingo, 8 de dezembro de 2013

Trabalho e sucesso

     Neste fim de ano, por estar tendo de me haver com dois empregos, me sinto meio irritado com a absorção de meu tempo de ler, escrever, ouvir música e praticar esportes. Felizmente entraremos num período de férias, que passarei no Brasil. Estou sentindo falta de você, das pessoas queridas e de nossas coisas.
     Essa dedicação a dois trabalhos vai terminar em breve. Dentro de alguns meses, quando terminar um de meus contratos, não vou renová-lo. Preciso de mais dinheiro por agora e acabei me sujeitando a ficar me desdobrando entre um emprego e outro, uma cidade e outra, em diferentes dias da semana. Sou radicalmente antipático ao atual culto do chamado "sucesso profissional" como parâmetro para a avaliação das pessoas, em especial como aspecto determinante da boa vontade alheia em relação a nós.
     Sempre que vou ao Brasil, sou incensado por alguns amigos me consideram um bem-sucedido por trabalhar em duas universidade importantes da Europa, publicar alguma coisa aqui e ali e ter meu nome em jornais de vez em quando. Não partilho de seu entusiasmo, apesar de saber que tenho tido uma trajetória pouco convencional. Tenho fracassado muito mais que obtido sucesso em meus empreendimentos. E minhas realizações tem sido muito pequenas. Gostaria de realizar algo bem mais significativo, possivelmente no campo da literatura. Se tenho tido algum mérito, este tem sido o da coragem de percorrer um caminho de perspectivas bastante limitadas, buscando seguir minha vocação e fazer com paixão o que gosto de fazer.
     Recentemente assisti, no teatro, a uma montagem da peça The Glass Menagerie, de Tennessee Williams, uma das minhas favoritas em toda dramaturgia mundial. Desde o primeiro contato, me apaixonei pela personagem Laura Wingfield, que passa a vida cuidando de uma coleção de bichos de cristal e cuja existência se realiza através da mais pura poesia.
     Talvez eu esteja escrevendo isto para lhe dizer que não há nada de errado com alguém que escolhe passar a vida criando os filhos, ou viajando pelo mundo, ou tocando um instrumento musical, ou escrevendo poemas. Tenho conhecido pessoas maravilhosas que vivem à margem dos costumes hoje dominantes. Jamais tenha medo de seguir contra a corrente ou de enxergar a vida de um ponto de vista diferente.

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