domingo, 1 de março de 2015

Dos seus bens

     Ontem  fui  assistir  a  uma  montagem  da  tragédia Antígona, com a grande atriz francesa Juliette Binoche, que, como se não bastasse o talento, ainda é muito bonita. Ao final da peça de Sófocles, saí do teatro como se estivesse andando nas nuvens, tocado por toda aquela terrível grandeza. Era como se eu já não fosse a mesma pessoa. 
     Às  vezes  penso  no  impacto  dos  bens culturais em nossas vidas. Eles sem dúvida nos ajudam a enfrentar nossos abismos e a insegurança da existência neste mundo através de nosso enriquecimento interior. Por isso gastamos no teatro um dinheiro que poderia ser utilizado na compra de mais uma roupa nova e de qualquer outro bem útil e de consumo imediato. Por isso é preciso viajar e conhecer de perto as coisas eternas que a humanidade tem criado. Por isso lhe dou sempre bons livros de presente sempre que o encontro.
     Uma  vez  ouvi  a  fala  de  um  ignorante  proclamando que para ele podiam derrubar Ouro Preto e construir lá uma cidade moderna, pois ali só tem velharia. Então eu lhe propus que também queimasse todos os retratos antigos de pessoas mortas de sua família, pois, conforme seu raciocínio, aquilo também não passava de velharia.
     Tudo  indica  que  você  será  uma  pessoa  preocupada com essas coisas, até mesmo por desde cedo estar sendo estimulado para perceber sua importância. Jamais venha a escolher sua profissão somente porque ela lhe proporcionará dinheiro e conforto pequeno-burguês. Não se preocupe em fazer carreira, escalar picos sociais e buscar reconhecimento fácil ao mesmo tempo em que se descuida de seu enriquecimento interior, de colecionar boas memórias com as pessoas que você ama, de ser capaz de enxergar este mundo para além do convencional, do massificado e até daquilo que seus mestres lhe ensinarem.

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