Recentemente fui acusado de estar virando a cabeça de meus alunos à esquerda. Fiquei bastante irritado com isso, pois jamais fiz proselitismo de esquerda em minhas aulas. Apenas, como todo mundo, analiso as coisas pelo crivo de meus valores, de minha visão de mundo. O máximo de que posso ser acusado é de falar com paixão, o que talvez tenha lá o seu poder de influência, apesar de eu enfatizar sempre a necessidade de uma visão crítica, muito especialmente em relação às palavras.
Esse episódio soma-se a uma série de outros que vem causando um sério desgaste entre mim e a instituição onde trabalho, com a qual ando bastante insatisfeito. A ideologia neoliberal tomou conta da universidade, que agora vende educação para o mercado. Os administradores são hoje as estrelas da academia e estão cada vem mais bem remunerados e mais arrogantes. E há os meus próprios defeitos: inadaptabilidade a burocracias e outras formalidades exasperantes, impaciência com reuniões enfadonhas, reações impulsivas a decisões que não passam por discussões prévias ou que não me incluem nelas, intolerância aos excessos do politicamente correto, dificuldade de me ajustar na hierarquia do departamento.
Em meados do ano que vem, termina meu contrato, e já estou decidido a não renová-lo. Ou terei outro emprego por aqui ou retornarei ao Brasil.
Às vezes tenho uma extensiva sensação de fracasso. Não tenho construído nada de muito sólido e duradouro, minha vida profissional vem se constituindo de pequenos ciclos e curtos projetos de alguns anos, não tenho sido nenhum modelo de bom relacionamento com as pessoas que passam pela minha vida ou que permanecem nela. E estar separado de você é mais um item nessa lista nada primorosa.
Uma vez o escritor Francis Scott Fitzgerald, que morreria esquecido e desprezado, escreveu em seu caderno de notas: "Eu falo com a autoridade do fracasso". Talvez tudo o que escrevo aqui sejam também palavras que se exprimem com a autoridade do fracasso. Isso porque minhas falhas e insucessos no mínimo têm me feito me movimentar, refletir e não aceitar um apodrecimento conveniente num trabalho, num relacionamento ou num lugar que já deu o que tinha de dar, cumprindo o seu ciclo. Teorizando assim, tudo parece muito fácil e muito prático, mas a realidade é que tenho enorme dificuldade para fechar esses ciclos. Porém isso acaba sempre acontecendo por força da própria dinâmica da vida.
Quero ainda ver como você, quando adulto, vai lidar com isso.
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