quarta-feira, 25 de março de 2015

Um poeta para a vida

















     De  vez  em  quando  sonho  com  poemas belíssimos, mas, ao acordar, não me lembro mais deles. Trata-se de um fenômeno estranho que acontece comigo já há muitos anos. Daria tudo para despertar e me recordar ao menos de um único daqueles textos. De vez em quando também, em estado de vigília, arrisco-me compor versos. Gosto de uns poucos poemas que escrevo, nas não da maioria deles. Da adolescência até os vinte e poucos anos, escrevi poemas com entusiasmo, porém com o tempo e os desencantos da vida fui me tornando cada vez mais prosaico. 
     Aí  está  meu  poeta  favorito,  mineiro  como  nós. Sempre que vou ao Rio de Janeiro, gosto de passar por sua estátua na praia de Copacabana, num banco onde ele costumava se sentar. Eu e meus amigos do interior de Minas, durante a adolescência, praticávamos a poesia imitando o estilo e os temas de Carlos Drummond de Andrade. Lembro-me de quando ele morreu, em agosto de 1987. Com os hormônios ferventes de meus 18 anos, ao encontrar meus amigos de literatura, todos nós com lágrimas nos olhos, abracei-os e lhes disse: "Drummond morreu!". No que fui também abraçado e consolado. Era como se tivéssemos perdido um pai ou uma pessoa muito amada qualquer.
     Tenho  em  minha  biblioteca,  que  está  na  casa  de minha mãe no Brasil, a sua obra completa. E mantenho aqui a antologia de seus poemas organizada por ele mesmo, que revisito com frequência. Além disso, tenho seus poemas declamados em áudio no meu telefone e ouço-os de vez em quando enquanto corro pelas margens do rio Tâmisa, no fim de tarde. Ao longo dos anos a poesia de Drummond tem feito parte essencial de minha vida. Se me perguntarem quais são os meus poemas favoritos em sua obra, direi: "Viagem na família", "Elegia 1938", "José", "Mãos dadas", "Confidência do itabirano", "Retrato de família", "Morte do leiteiro", "A máquina do mundo", "Menino chorando na noite", "Consolo na praia"... E tantos outros, que sei de cor.
     Lembro-me  de,  no  ano  passado,  haver lhe dado um livrinho com uma seleção de poemas infantis de Vinicius de Moraes. Em breve pretendo introduzi-lo na obra poética de Drummond, esperando que ela possa também nutrir sua sensibilidade com a beleza neste mundo em que a vulgaridade e a grosseria tem ganhado cada vez mais espaço.

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