domingo, 10 de abril de 2016

Oxalá

     Tive,  hoje  pela  manhã,  um  compromisso  na  região de Fitzrovia, que é central mas que não está muito próxima daqui. Minha ideia era almoçar por lá e retornar logo para casa, pois inicialmente tinha planos de sair para correr no fim de tarde. Mas acabei mudando de ideia, não somente porque já corri como um fauno ao longo da semana passada como porque gostaria de perambular um pouco pelas ruas. Assim, decidi fazer uma longa caminhada de volta para casa. Foi bom vir vendo a cidade, as hordas de turistas em Piccadilly Circus, a movimentação das pessoas no Green Park, as novas cores e cheiros que por todo lado ressurgem neste início de primavera, o estilo de vida dos milionários que frequentam a área de Knightsbridge, a elegância urbanística do bairro de Chelsea, as águas caudalosas do Tâmisa depois de uma sequência de dias chuvosos.
     Naturalmente  me  lembrei  de  meu  rebento,  com  quem já fiz tantas caminhadas assim por Belo Horizonte, Divinópolis e São Paulo. Sentado aos meus ombros, ele me fazia mil perguntas para saber por que as coisas do mundo são como são. E eu não o deixava sem repostas, ainda que tivesse de imaginar algumas delas.
     Vim também pensando sobre se não estou desperdiçando a minha vida aqui, longe das pessoas essenciais, pessoas que verdadeiramente importam e que se importam comigo. Embora o Brasil esteja vivendo um momento débil mental de sua história, tenho considerado com seriedade a possibilidade de voltar, ainda que desempregado e sem saber o que vou fazer. Não importa. Minha vida tem se feito através de ciclos que se abrem e se fecham a cada quatro ou cinco anos, e tenho sabido renascer em outros lugares, através de outros afazeres, com outras pessoas.
     Oxalá  eu  e  meu  rebento  possamos,  ainda  neste  ano, perambular novamente pelas ruas de São Paulo, embora já não mais sobre meus ombros, pois Hércules não sou.

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