quarta-feira, 27 de abril de 2016

Modinhas

     Passei  toda  a  tarde  de  hoje  em  casa.  Em  certo momento, enquanto cuidava da correspondência, pus-me a ouvir uma seleção de modinhas antigas que tenho no computador. Num tempo tão prosaico tal como o nosso, em que mataram o lirismo e em que se estabeleceu o império da baixeza, foi bom ser transportado para o século XIX no Brasil, com sua peculiar sensibilidade. Eram canções cantadas em outro tom, com uma impostação de voz com a qual não estamos acostumados. Ainda agora, enquanto escrevo, sigo ouvindo-as com prazer.
     Gosto  dos  títulos  de  algumas  modinhas,  que  lançam mão de um português hoje arcaico, derramam um sentimentalismo pitoresco e chegam a ser engraçados pelo exagero: "Quis debalde varrer-te da memória", "Vai, cruel, em braços doutros", "Prazeres que eu não sonhava", "Belas baianas", "Cozinheiro art nouveau", "Tão longe, de mim distante"...
     É  uma  pena  que,  possuindo  uma  herança  cultural  tão rica, grande parte das pessoas no Brasil não tenha acesso a ela devido ao péssimo nível de nossa educação pública, da era do entretenimento banal e do rebaixamento pós-moderno. 
     Gostaria  de  vê-lo  crescer  como  uma  pessoa  cultivada e uma mentalidade aberta. Mas que sua cultura jamais seja apenas ornamento e vaidade, mas algo vivo que faça parte essencial de sua vida numa unidade de beleza e ética. Isso fará de você um cidadão qualificado e uma pessoa melhor, proporcionando-lhe ainda um amplo repertório de imaginação e alternativas variadas para enfrentar os desafios da vida.
     Em  realidade,  acredito  que,  neste  momento,  tanto tempo já sem encontrá-lo, tenho sentido falta de compartilhar com você a leitura de um livro, a visita a um museu, um filme de Carlitos, um jogo do Galo no estádio, uma peça de teatro. Mas tudo tem seu tempo.

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