Passei toda a tarde de hoje em casa. Em certo momento, enquanto cuidava da correspondência, pus-me a ouvir uma seleção de modinhas antigas que tenho no computador. Num tempo tão prosaico tal como o nosso, em que mataram o lirismo e em que se estabeleceu o império da baixeza, foi bom ser transportado para o século XIX no Brasil, com sua peculiar sensibilidade. Eram canções cantadas em outro tom, com uma impostação de voz com a qual não estamos acostumados. Ainda agora, enquanto escrevo, sigo ouvindo-as com prazer.
Gosto dos títulos de algumas modinhas, que lançam mão de um português hoje arcaico, derramam um sentimentalismo pitoresco e chegam a ser engraçados pelo exagero: "Quis debalde varrer-te da memória", "Vai, cruel, em braços doutros", "Prazeres que eu não sonhava", "Belas baianas", "Cozinheiro art nouveau", "Tão longe, de mim distante"...
É uma pena que, possuindo uma herança cultural tão rica, grande parte das pessoas no Brasil não tenha acesso a ela devido ao péssimo nível de nossa educação pública, da era do entretenimento banal e do rebaixamento pós-moderno.
Gostaria de vê-lo crescer como uma pessoa cultivada e uma mentalidade aberta. Mas que sua cultura jamais seja apenas ornamento e vaidade, mas algo vivo que faça parte essencial de sua vida numa unidade de beleza e ética. Isso fará de você um cidadão qualificado e uma pessoa melhor, proporcionando-lhe ainda um amplo repertório de imaginação e alternativas variadas para enfrentar os desafios da vida.
Em realidade, acredito que, neste momento, tanto tempo já sem encontrá-lo, tenho sentido falta de compartilhar com você a leitura de um livro, a visita a um museu, um filme de Carlitos, um jogo do Galo no estádio, uma peça de teatro. Mas tudo tem seu tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário