segunda-feira, 18 de abril de 2016

Casa da mãe Joana

     Por diferença de fuso horário, não pude acompanhar, na noite de ontem, o fim da votação do processo de impeachment de nossa presidente na Câmara dos Deputados. Hoje, ao acordar cedinho, soube que a pior legislatura da história do congresso brasileiro decidiu pela destituição de Dilma Rousseff. Como o país está agora de cabeça para baixo, com todos os valores invertidos, bandidos de uma quadrilha foram os juízes que condenaram uma pessoa honesta.
     A sessão naquela casa de meretrício político foi um festival de palhaçadas. Nunca o nome de Deus foi tão evocado em vão. Abundaram discursinhos do nível intelectual de um sagui e de uma pieguice digna de Vicente Celestino. Corações maternos, filhos queridos, esposas adoecidas, avozinhas e netinhos, santos de devoção foram evocados. Houve até homenagem à memória de um monstro torturador do tempo da ditadura militar. Só faltou algum daqueles engravatados soltar um apoteótico "Heil Hitler" de braço estendido. Mas, independentemente das palavras desses vermes, seu próprio histrionismo fala por si. Esse é o exemplo que os brasileiros comuns recebem todos os dias por parte de quem é uma referência para a sociedade. Esses são os jagunços da elite econômica do país. Como os mesmos que furam os olhos das pessoas reclamam de sua cegueira, já já ouviremos nossa oligarquia vira-lata reclamar da falta de civilidade do cidadão comum.
     Neste  momento,  mergulhado  em frustração e vergonha após esse evidente golpe de Estado, que custará ao país uns 20 anos de instabilidade, chego a pensar se, em última instância, não precisamos realizar, também nós, uma espécie de Revolução Francesa, cortando as cabeças desses membros do Antigo Regime que tanto vampirizam o Brasil.
     Numa  verdadeira  democracia,  forças  antagônicas  da sociedade estabelecem um pacto de respeito à decisão da maioria, e os que perderam se rearticulam, aguardando um novo pleito para tentar engajar a maioria soberana dos cidadãos em seu projeto político. O que estamos assistindo agora é, mais uma vez, como em outras ocasiões de nossa história, à quebra do pacto que permite um mínimo de estabilidade e sociabilidade ao país. 
     Nossa  oligarquia  medievalesca  está muito enganada se pensa que terá paz para governar agora que usurpou o poder, pois a maioria da população não vai se submeter a um governo sem legitimidade. Essa figura insidiosa e dissimulada de vice-presidente, que, em conluio com as ratazanas do Congresso, assaltou o poder e agora assumirá a presidência não pode ser aceita. Porém, ainda mais importante que a queda desse "mordomo de filme de terror", como ele já foi muito bem definido, é uma reforma profunda de nossas instituições, que há muito já estão caindo de podres.

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