segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Vovó contra mim

     De  vez  em  quando,  ao  telefonar  para  o  Brasil ou quando estou em Divinópolis, gosto de transmitir para minha mãe uma imagem de que sou amalucado, anarquista e revolucionário ao extremo. Como ela ainda é uma das últimas pessoas que ainda se escandalizam neste mundo, prodigaliza então conselhos e reprimendas. Após dar entrevista para algum jornalista britânico ou brasileiro, conto-lhe que desanquei meio mundo, que falei mal até da rainha, que cobri de invectivas os costumes atuais, o comportamento de meus amigos ou de uma autoridade qualquer. Tudo mentira ou, no máximo, algo elevado à máxima potência. Então ela me diz que sou muito desabusado, que devia ter medo das consequências, que não sabe de onde veio a minha arrogância, que o sucesso me subiu à cabeça!
     Acho  engraçado  quando  ela alude a meu sucesso, pois constantemente me sinto um fracassado, um autêntico loser neste mundo cujos valores mais em voga se distinguem tanto dos meus.
     Lembro-me  de  que no mês passado, quando estive com ela, contei-lhe com veemência que o havia reprimido, já que você passou muito tempo sem fazer contato comigo no fim do ano passado. Inventei que você até havia chorado após meu xingamento. Como era de se esperar, ela tomou seu partido, dizendo-me que não devo fazer isso, que você é uma gracinha e que me adora, que você não se esquecerá de minhas reprimendas e se revoltará contra mim, que penso ser o dono da verdade etc. etc. Em suma, desempenhou bem seu papel de vovó protetora.

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