sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Palavras belas e palavras dissonantes

     Há  algumas  semanas,  em  São  Paulo,  ouvi  alguém dizer que sentia uma "tristura". A palavra, que até está no dicionário, embora seja muito pouco usada, me parece mais expressiva que a simples "tristeza", transmitindo algo de realmente melancólico. Também gosto da palavra na língua francesa, tristesse, que evoca uma tristeza densa, latente, funda. Há ainda uma desolação patológica chamada "tristimania", sendo essa uma interessantíssima junção de duas palavras.
     Por  falar  em  outra  língua,  sempre  gostei  de  moon, em inglês, que, com seu longo oo, me parece melhor que o nosso "lua", sendo um termo que na própria pronúncia soa descritivo da coisa.
     Eça  de  Queirós,  quando  descrevia  um  gordo, costumava escrever que se tratava de um "gordalhufo", o que instantaneamente dava uma personalidade ao personagem. E uma vez ouvi meu amigo Doc descrever uma musa gordinha que ele cortejava como uma "gordelícia", o que já era um resumo do seu lirismo.
     Palavras  de  nossa  língua  de  que  me  soam  lindamente: "libélula", "aurora", "alvorada", "benzinho", "glossário", "hipocampo". Palavras de que não gosto: "esparadrapo", "esgoto", "catarro", "espuma", "carvão".
     Às  vezes  passo  um  longo  tempo  perambulando  pelo dicionário e lendo o significado, a etimologia, os sinônimos e os antônimos das palavras, o que é um prazeroso exercício. E quando o encontro, gosto de lhe propor que pronuncie trava-línguas, parlendas ou simplesmente uma frase difícil qualquer, a fim de testar suas habilidades linguísticas e nos divertir ao mesmo tempo. Infelizmente não pudemos fazer isso nesta virada de ano que acaba de passar...

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