sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Divagações sobre duas fotografias

     Estou  passando  a  tarde  de  hoje  em  meu  escritório na universidade, trabalhando sobre ensaios dos alunos a respeito do filme Olga, a militante política alemã que atuou no Brasil e que foi uma pessoa muito inspiradora. Dou uma parada para descansar e fico olhando para duas fotografias nos porta-retratos sobre minha mesa. Numa delas, tirada há uns cinco anos, em São Paulo, sou o goleiro e você está batendo um pênalti. Seu pé direito está no ar, pois acabou de dar um chute forte na bola, que viaja em direção ao gol, enquanto eu salto para tentar defendê-la. Já não me lembro se foi gol ou não. Na outra foto, tirada mais ou menos na mesma época da anterior, estamos nós dois passeando na chuva, numa rua bastante arborizada em Divinópolis. Você está sentado sobre meus ombros, e conversamos animadamente. Nossas roupas estão encharcadas, para desespero de minha mãe, que morria de medo de você adoecer nessas aventuras pluviais.
     É  inacreditável  e  é  triste  que  essas  coisas  tenham passado e que hoje eu esteja deste outro lado do mundo, a muitos milhares de quilômetros de distância. Já sofri bastante com essa situação e ainda hoje não a aceito muito bem, mas há coisas que não podemos mudar. Muito especialmente não somos capazes de mudar as outras pessoas. Mas o que importa é que nunca deixei de ser seu pai, de pensar em você com amor e zelar para que tenha um caminho melhor e menos turbulento que o meu no decurso de sua vida. E estarei para sempre com você, mesmo na ausência, tal como o sinto sempre a meu lado como uma inspiração para viver bem a vida e enxergar as coisas com alumbramento, como tenho aprendido com você.

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