Ontem à noite estive no teatro Shakespeare's Globe, que fica bem à margem sul do rio Tâmisa, junto à área central da cidade, para assitir a uma apresentação de Oresteia, a trilogia trágica de Ésquilo. Saí de lá atordoado pela beleza da peça e impressionado com a força da interpretação dos atores e da encenação. Mesmo num tempo tão violento como o nosso, em que crimes hediondos frequentam diariamente o noticiário, a tragédia grega não perdeu sua capacidade de provocar um grande impacto sobre nossos sentimentos e de nos propor uma reflexão sobre questões fundamentais do homem, que continuam as mesmas da época da Grécia clássica.
Há relatos de que, em Atenas, por ocasião da apresentação da trilogia, durante a peça final as mulheres grávidas que estavam assisitindo ao espetáculo davam à luz quando as erínias entravam em cena para punir Orestes, que assassinara a própria mãe como vingança pela morte de Agamenon, seu pai. Se as erínias, deidades horrorosas que puniam os crimes de sangue contra membros da própria família, aterrorizavam os espectadores gregos, ontem vi ao menos duas pessoas sentindo-se mal e deixando o teatro por causa da força das imagens da peça.
Neste momento há outra montagem de Oresteia em cartaz na cidade. Vou assisti-la também e comparar com a visceralidade e o sublime do que vi na noite passada.
Uma das experiências que mais gostaria de partilhar com você é a frequência ao teatro, gênero pelo qual tenho paixão e que tenho estudado há anos em minhas pesquisas universitárias, tendo eu mesmo algumas experiências como dramaturgo. Mas um dia ainda sairemos os dois do teatro, após um espetáculo, conversando sobre tragédias gregas, comédias de Molière, peças de Shakespeare, Ibsen, Strindberg, O'Neill, Nelson Rodrigues, Tennessee Williams e tantos outros...
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