sábado, 26 de setembro de 2015

Frases


     Nenhuma  sociedade  persiste  sem  grandes  frases. E todo indivíduo tem lá suas frases de efeito, própria ou alheia, que carrega consigo como se fosse um talismã. Nelson Rodrigues criou toda a ação da peça Bonitinha, mas Ordinária em torno de uma única frase, que é repetida exaustivamente e que muda a vida de todos os personagens: "O mineiro só é solidário no câncer". De Channing Pollock, outro dramaturgo, é outra frase cheia de verve: "O crítico é um homem sem pernas que nos ensina a correr". E me lembro do final do romance A Ponte de San Luis Rey, de Thornton Wilder, que termina com uma frase que funciona como uma chave de ouro: "Há uma terra dos vivos e uma terra dos mortos, e a ponte é o amor, a única sobrevivência, o único significado". Trotsky, ao ser ferido mortalmente, em seu exílio no México, por um assassino a serviço de Stálin, ainda teve tempo de dizer a seus guarda-costas, que agarraram o agressor: "Não o matem. Esse homem tem uma história para contar".
     Cresci com minha mãe dizendo frases guimarães-rosianas do tipo "Neste mundo não há o que não haja". E eu mesmo escrevi um livrinho de frases que tendem para a sátira ao edificante, ao convencional e à sabedoria de almanaque. E tenho, entre meus livros, vários dicionários de citações, de provérbios, de frases clássicas, além de colecionar alguns cartões-postais como este com a famosa frase do general e cônsul romano Júlio César.
     Me  lembro  de  uma  vez,  quando  você  devia ter uns quatro anos, em que eu organizava uma disputa entre meninos. A certa altura, disse que ganharia o ponto aquele que dissesse a frase mais difícil. Por alguns minutos, reinou o silêncio enquanto todos se punham a matutar na tal frase difícil. Até que você me veio com esta: "O doce mais doce de todos os doces é o doce de batata-doce". Não foi preciso nem esperar as frases dos outros. O ponto já era seu. "Filho de peixe..."

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