Há cinco anos morando em terra estrangeira, de vez em quando gosto de brincar com as pessoas daqui, inventando histórias de costumes, gente e coisas do Brasil com a finalidade específica de causar-lhes forte impressão. E quando vou ao Brasil invento histórias daqui para impressionar os brasileiros, especialmente minha mãe.
De vez em quando conto a meus alunos e meus amigos ingleses que no Brasil os rapazes, quando chega o momento de entrarem na vida adulta, têm de passar por um rito de iniciação que consiste em atravessar a nado um rio cheio de piranhas. Para dar autenticidade à história, mostro algumas cicatrizes que tenho pelo corpo, afirmando que foram mordidas do abominável peixe. Gosto de ver a cara de perplexidade que eles fazem e seus comentários. Consideram aquilo o máximo da virilidade.
Quanto a minha mãe, conto-lhe que os ingleses comem carne de cavalo e que, como estou vivendo entre eles, também o faço regularmente. Costumo mostrar-lhe os meus braços e perguntar-lhe se ela já reparou que estou ficando mais forte e meio musculoso. A explicação: é a carne de cavalo. Também gosto de ver a cara que ela faz, bem como seu comentário: "Você não tem dó, não? Um bicho tão dócil!". E também lhe conto que falei mal da rainha, numa entrevista para um jornalista, e que ela não gostou, tendo ameaçado me mandar sair do país. Olho para minha mãe, e lá vem uma cara de indignação, com ela balançando a cabeça de um lado para o outro: "Deviam cortar sua língua e jogá-la para os cachorros!".
Vou pensar em algumas histórias para lhe contar quando nos encontrarmos, em dezembro.
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