quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Da religião e seus demônios

     Não  sei  se  ainda  há  aulas  de  Educação  Religiosa  na escola básica nem se você está sendo submetido a essa tortura espiritual. Tive de enfrentar essa aberração quando eu era menino. A tal educação religiosa não passava de um catecismo na doutrina católica do modo mais piegas e enfadonho, pleno do sentimentalismo mais vulgar que se pode imaginar. Não havia sequer um mínimo de consideração pelos alunos que vinham de famílias que praticavam as religiões afro-brasileiras, o protestantismo ou outra qualquer. Olhando retrospectivamente, não tenho dúvida de que aquelas aulas contribuíram não somente para que eu me afastasse do catolicismo como perdesse a fé por volta dos 18 anos. Se Deus é aquele asilo da ignorância, da superstição e do antropomorfismo, melhor mesmo que ele tenha morrido, como anunciou Nietzsche. Neste mundo há horrores demais, sofrimento demais, injustiça demais - e muito pouca felicidade - para que a ideia de um Deus todo-poderoso e infinitamente bom seja aceitável. 
     Não  sei  se  você  vem  sendo  levado  a  algum  antro do chamado "pentecostalismo" para assistir aos gritos histéricos de exploradores da credulidade de um rebanho de alienados. Assim que eu retornar ao Brasil, no fim deste ano, gostaria de conversar muitas vezes sobre esse assunto com você. Não pretendo, em hipótese alguma, doutriná-lo no ateísmo. Se você tiver uma fé autêntica, não há nenhum problema. Apenas há formas aceitáveis e formas inaceitáveis de vivenciar sua espiritualidade. No mínimo você precisa ter senso crítico para distingui-las. O fanatismo, a histeria, o histrionismo de palhaços de terninho e bíblia debaixo do braço, com um discursinho prêt-à-porter gritado ao som de uma bateria desafinada ao fundo para instilar o medo e uma esperança vazia são algo intragável sob qualquer ponto de vista. Mas nós teremos tempo e vagar para dialogar sobre isso.

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