terça-feira, 24 de maio de 2016

Uma cidade partida


     Desde  ontem  estou  na  Irlanda  do  Norte.  Sua capital não é muito grande, mas é uma cidade partida. No Brasil, nossas cidades também costumam ser partidas por regiões. Entre o centro e a periferia, vive a classe média, com alguns enclaves da classe alta. O centro geralmente está povoado por mendigos, dependentes de drogas e moradores de rua. Na periferia vivem os pobres abandonados pelo Estado e expostos a toda sorte de insegurança. 
     Aqui,  no  entanto,  a  separação  é  entre  católicos  e protestantes, numa atitude nada cristã. O centro da cidade é o lugar onde muitos trabalham e todos se misturam. Mas os bairros são muito claramente divididos entre católicos e republicanos pró-Irlanda de um lado, protestantes e monarquistas unionistas britânicos de outro. As ruas de cada uma dessas regiões, que ainda são separadas por um muro, são povoadas pela bandeira da Irlanda, de um lado, e do Reino Unido, do outro. Murais ingênuos, com uma estética triunfalista e provinciana, decoram cada um dos lados, exaltando a maravilha de se fazer parte de um lado ou de outro. Essa é a grande realização da religião neste país, que até um passado recente assistiu a conflitos gravíssimos entre católicos e protestantes, com muitas mortes. Ainda hoje, em certa época do ano, há marchas em que um lado passeia pelo território do outro com bandeiras, símbolos religiosos e músicas marciais, num ato de clara provocação.
     Mas  não  vou  registrar  aqui  somente  esse  lado ridículo do ser humano, que está presente em todos os lugares. Os conflitos entre torcedores de futebol no Brasil, por exemplo, não ficam atrás do que ocorre aqui em desrespeito e estupidez. Embora sem muitos atrativos, Belfast é uma cidade bem cuidada, sem muita disparidade social entre seus moradores e com boa qualidade de vida. As regiões rurais e parques montanhosos em seu entorno são espetaculares. Hoje caminhei muito, visitei museus, experimentei da comida típica da região de Ulster, onde fica Belfast. E as pessoas com quem tenho conversado, não me importando nada se são católicos ou protestantes, têm sido sempre muito simpáticas comigo. Aliás, o modo como falam inglês é bastante peculiar. Meu ouvido reconhece claramente algo bastante diferente dos sotaques londrinos e americanos, com os quais estou acostumado. Às vezes não entendo alguma palavra ou frase e tenho de pedir para repetir. O mundo é realmente cheio de novidades e está sempre a nos proporcionar descobertas.

Nenhum comentário: