sexta-feira, 20 de maio de 2016

O pai que eu quero ser

     Acabo  ficar  bastante  tocado  pela  leitura  do  romance  O Filho de Mil Homens, do português Valter Hugo Mãe, que conta a história de um pescador que chega aos 40 anos sem filhos e que, com o tempo, constrói para si uma família não convencional, vencendo os preconceitos de um vilarejo de mentalidade tacanha e conservadora através da aceitação de figuras marginalizadas pela comunidade por possuírem alguma deformação física ou comportamental. Crisóstomo, o protagonista, encontra a felicidade por meio da compaixão e do perdão, amando as outras pessoas como elas são, pois todos temos nossa dignidade e somos parte de uma grande teia humana. Uma passagem na página 188 da edição brasileira resume bem o espírito do livro:

     O  Crisóstomo  disse  ao  Camilo:  todos  nascemos  filhos  de  mil  pais e de mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.

     Sem teorizar superficialmente à maneira da autoajuda, o escritor nos mostra que a felicidade está na aceitação do que se pode ser, o que não anula a possibilidade de nos aperfeiçoarmos. E o grande agente de transformação das pessoas é o amor, através do qual encontramos a possibilidade de pacificação conosco e com os outros, pois somos todos, ao mesmo tempo, pais e mães, filhos e filhas de uma enorme e variada família: a humanidade.
     Encontrei em Crisóstomo uma figura muito inspiradora, o homem que eu gostaria de ser. Quanto a você, quero vê-lo crescendo com o sentimento e a consciência de que, para além de ser meu filho, é também um "filho de mil pais e mil mães". Que para sempre respeite a dignidade das outras pessoas como parte de um todo a que você mesmo pertence e que será pobre e degradado se elas forem tratadas como coisas. Só assim você jamais estará sozinho.

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