terça-feira, 10 de maio de 2016

Coleções

     Quando  menino,  eu  tinha  o  costume  de  colecionar coisas. Sem nunca ter feito isso com muito método nem muito esforço, cheguei a ter coleções de bolinhas de gude, de selos, de notas e moedas brasileiras e de outros países, de álbuns de figurinhas das Copas do Mundo de 1982, 1986 e 1990. Durante anos, quando eu era pequeno, meu pai comprava sempre, todo mês, a revista da National Geographic em sua versão brasileira. Eu sempre lia as reportagens e sonhava conhecer aqueles lugares exóticos, guardando as revistas e organizando-as cronologicamente. Recordo-me de uma estante cheia delas, com suas lombadas amarelas. 
     Com  o  passar  do  tempo  e  os  novos  engajamentos da adolescência, fui perdendo o interesse pelas coleções e me envolvendo com outras coisas. Hoje minha única coleção, da qual me esmero em cuidar, proteger e manter a boa qualidade, é a de meus livros. Estão agora em aproximadamente cinco mil volumes que ocupam todo um cômodo na casa de minha mãe até que eu volte a ter a minha própria casa.
     Mas  continuo  sensível  aos  colecionadores.  Tanto  que para mim uma das personagens mais fascinantes e mais comoventes da literatura é Laura Wingfield, personagem de Tennessee Williams na peça The Glass Menagerie, uma moça cuja ocupação é colecionar animais de vidro, sendo seu preferido um unicórnio que simboliza ao mesmo tempo sua autenticidade e sua fragilidade.
     Lembro-me  de  você  pequenino  montando  uma  coleção de carrinhos em miniatura que eu lhe comprava toda vez que passávamos por certas lojas de brinquedos, supermercados e até mercearias. Eram produzidos por uma empresa americana chamada Hot Wheels, e em seu quarto havia dezenas deles. Não sei se ainda os tem. Mas, nas duas últimas Copas do Mundo, sei que você completou os álbuns com as figuras dos jogadores de todas as seleções, tal como eu fazia muitos anos atrás.
     Que  as  coleções  feitas  na  infância  lhe  ensinem  a organização, a persistência e a concentração, qualidades tão importantes neste tempo em que, mais que nunca, "tudo o que é sólido desmancha no ar".

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