terça-feira, 17 de maio de 2016

Marcas da fatalidade

   
     Em  meados  da  semana  passada,  no  fim  de  tarde,  eu terminava uma corrida na margem do rio quando de repente me deparei, já perto de casa, com um grande engarrafamento de carros e a polícia fechando toda uma quadra da rua. Os curiosos de sempre se juntavam pelas beiradas. Perguntei o que havia ocorrido, e me disseram que se tratava de um acidente envolvendo um motoqueiro. No dia seguinte passei pelo mesmo lugar ao fim de outra corrida e encontrei esses buquês de flores amarrados a um poste no local do acontecimento. Imediatamente parei e fiquei em silêncio como manifestação reverência e respeito, pois isso quer dizer que houve uma fatalidade no local. Ao chegar em casa, busquei obter mais detalhes nos jornais da cidade e soube que um rapaz de 37 anos ali perdeu a vida após a colisão de sua motocicleta com uma van. É estranho que algo tão grave tenha ocorrido numa rua estreita e não tão intensamente movimentada do bairro.
     Assim  os  ingleses  marcam  os  lugares  da  cidade  onde ocorreram fatalidades. Alguns deles mantém permanentemente flores, fotografias e mesmo objetos da pessoa que ali perdeu a vida, mantidos pela família. Encontro esses memoriais em vários pontos da cidade, sendo muitos deles resultado de acidentes envolvendo ciclistas.
     Lembro-me  das  cruzes  que  marcam,  nas  estradas brasileiras, os acidentes fatais. E de nossas áreas urbanas, como muitas vezes vi em São Paulo após tragédias envolvendo motoqueiros, recordo-me das velas acesas que sempre aparecem no local dessas fatalidades como uma forma anônima de compaixão.
     De  minha  parte,  busco  evitar  ao  máximo  me  expor  aos perigos do trânsito das cidades grandes. Tenho bicicleta por aqui, mas só a uso para ir à área central pela margem do rio, onde não se partilha a rota com os carros. Tenho de entrar nas ruas somente num pequeno trecho em que há uma ciclovia. Mesmo assim, mantenho sempre olhos atentos nos carros, especialmente nos caminhões, virando à esquerda. E em São Paulo nem em pesadelo eu ando de bicicleta em meio a toda aquela irresponsabilidade no trânsito. Por outro lado, em lugar nenhum do mundo eu subo sobre motocicleta, esse veículo programado para cair e que deixa as pessoas tão expostas.
     Quanto  a  você,  que  já  vai  entrando  na  adolescência, não vou lhe permitir, nem depois de adulto, que ande de bicicleta em São Paulo nem de motocicleta em lugar nenhum do mundo.

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