Outro dia eu falava em saudade, em exílio e no sofrimento de estar longe de você e longe do Brasil. Tenho tido um percurso irregular e imprevisível neste tempos líquidos em que vivemos. Estou sempre envolvido em várias atividades diferentes, não constituí uma carreira profissional e, já tendo passado dos 40 anos há um bom tempo, não tenho nenhum problema básico resolvido. Vivi um casamento fracassado, tenho minha família e meus amigos distantes e de tempos em tempos tenho mudado de cidade, de país, de emprego e de estilo de vida. Se tudo isso me proporciona certa liberdade e oportunidades raras, pago sempre um alto preço na forma da solidão e da insegurança de não saber nunca do que está por vir.
Tenho meus compromissos financeiros com você, com minha mãe e comigo mesmo, tendo, portanto, de dar sempre o próximo passo com cuidado e responsabilidade. Tenho tido um padrão de vida modesto e busco não abandonar algumas atividades que amo: a literatura, o futebol, as viagens, por exemplo, que dão um significado mais profundo a minha vida ou simplesmente a tornam mais interessante.
É verdade que tenho sido agraciado com os lampejos da felicidade nesse percurso marcado por uma grande quantidade de sofrimento e angústia. Mas talvez nós só realmente aprendamos alguma coisa verdadeiramente quando somos confrontados com o fracasso, a dor e a perda. Então somos obrigados a nos reinventar. É o que tenho feito com uma recorrência maior do que eu desejaria. É o que tive de fazer quando fui obrigado a me separar de você e quando decidi vir viver tão longe. É o que agora parece estar tomando corpo: a necessidade de me reinventar no Brasil e perto de você mais uma vez.
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