terça-feira, 11 de novembro de 2014

A praça é do povo em Marrakech


     Estou passando alguns dias no Marrocos. É a primeira vez que venho à África. Hoje caminhei bastante pelas ruazinhas estreitas da parte antiga de Marrakech, um verdadeiro labirinto onde me perdi várias vezes. Até que cheguei à praça Djmeaa El-Fna, que é um lugar muito peculiar onde se aglomera, o dia todo, uma variada multidão. Além dos visitantes, há vendedores de toda sorte de comida local, encantadores de serpentes, músicos berberes, artistas de rua, contadores de história, macacos amestrados, pequenas encenações teatrais, comerciantes de bugigangas, mendigos, crianças trabalhando, cães e gatos vagabundos, camelos e toda uma ambientação muito vívida. Se uma girafa me aparecesse caminhando tranquilamente por ali, não me surpreenderia. É como se a gente voltasse a uma praça da Idade Média.
     Tenho  acordado  sempre  muito  cedo por causa de um canto de louvor a Allah e um chamado aos muçulmanos para as primeiras orações do dia. Todas as mesquitas realizam o chamado em uníssono através de um sistema de alto-falante.
     Às vezes até chegam conversando comigo em árabe, pois me pareço com eles. Ainda mais pelo fato de eu estar usando um roupão típico daqui. Gosto desse burburinho de pessoas que se encontram e de uma cultura não massificada nem padronizada pelo modo de vida americano. As cores, os sabores, os sons, os cheiros, a paisagem, tudo remete a algo original e a uma cultura muito forte. É um país pobre, com graves problemas sociais. Me toca especialmente quando vejo crianças e velhos muito desamparados. Mas é um cultura autêntica, um povo digno e orgulhoso do que é e do que possui.
     Ontem tomei um ônibus e fiz uma viagem de quase três horas até a cidade litorânea de Essaouira. No caminho, fui vendo a paisagem árida e as pequenas fazendas muito esparsas pelo caminho, com vários pequenos pastores de rebanhos de cabras e carneiros. Em Essaouira também encontrei toda uma agitação de pessoas se encontrando, conversando, trocando experiências e lutando pela vida. 
     Se você estivesse aqui, iríamos nos perder no labirinto da cidade velha de Marrakech, experimentar a comida dos árabes, caminhar pela zona portuária de Essaouira, ver os encantadores de serpente em suas peripécias com najas e cascavéis, contemplar as cordas, os sopros e as percussões da música berbere. 
     Há  alguns  dias  você  me  contou  que sua nota em Geografia, na escola, foi 96, realmente um feito impressionante que me deixou muito orgulhoso. Só falta agora completar suas lições com perambulação pelas belezas e misérias deste mundo, vivenciando a Geografia para além das páginas dos livros, o que é uma experiência ainda mais profunda.

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