terça-feira, 15 de março de 2016

Um país bipolar

     O  Brasil  é  um  país  bipolar.  Oscilamos  rapidamente entre a euforia e a depressão, saltamos do puro-sangue ao vira-lata e vice-versa de uma hora para outra. Tropeçamos de paroxismo em paroxismo e estamos muito longe do postulado de Aristóteles, para quem a virtude está no meio, ou seja, numa visão equilibrada das coisas e numa ação igualmente equilibrada. 
     Lembro-me  de  que,  quando  me  mudei  do  país, em 2011, só se falava no Brasil. Muitos brasileiros expatriados estavam retornando, havia uma grande onda de estrangeiros chegando para ficar, o PIB (esse termômetro dos políticos de ocasião) estava crescendo muito e havíamos nos tornado a sexta maior economia do mundo, com perspectivas de nos tornarmos a terceira em 20 ou 30 anos. Nossa presidente, a mesma que hoje é vilipendiada por essa imprensa canalha que temos, exultava com fantásticos níveis de popularidade e era incensada pela mídia internacional como "a segunda mulher mais poderosa do mundo". Estávamos com um pé no Conselho de Segurança da ONU e éramos respeitados como incontestável liderança latino-americana. O futuro enfim havia chegado para o "país do futuro".
     No  entanto,  se  todos  nós  tivéssemos  dormido durante esses quatro anos e meio e acordado agora, não acreditaríamos que se tratasse do mesmo país. De puros-sangues que éramos, nesse curtíssimo lapso de tempo histórico nos tornamos os mais desprezados vira-latas. O golpismo da mesma oligarquia criminosa que suicidou Getúlio Vargas, depôs João Goulart e possivelmente assassinou Juscelino Kubitschek criou uma enorme estabilidade no país, aprofundou uma crise econômica que resulta de fatores internacionais aliados a escolhas de um governo realmente ruim, gerou recessão e retração do PIB. Direitos da cidadania duramente conquistados nos últimos 15 anos estão se perdendo, os três poderes estão apodrecidos pela corrupção e há um clima propício à expansão da violência e à ascensão política de algum charlatão com o beneplácito das forças reacionárias e suas Folhas de S. Paulo, suas Redes Globos, suas revistinhas semanais de pseudojornalismo. Políticos e intelectuais fascistas já recebem ampla cobertura jornalística. As abomináveis redes sociais estão aí para dar vazão à cloaca mental de todos os imbecis. E nossa presidente, uma mulher de 68 anos, é referida por meio dos termos mais chulos por membros dessa classe média de cidade grande que não perde a oportunidade de exibir sua grosseria por todo lado.
     A  oligarquia  dominante,  que  sempre  vampirizou  o Brasil, sempre o considerou um país de quinta categoria. Ela, que é milionária de fato, está agora, como em outros momentos, manipulando essa classe média sadomasoquista através do aparato midiático, fazendo-a bater panela e ir para as ruas sob a crença de que o único problema do Brasil é a corrupção (e que essa corrupção é prerrogativa de um partido e de um candidato à presidência em 2018, que pretendem destruir).  
     Embora  seja  a  corrupção  de  fato  um  problema  sério, ela está longe de ser a grande responsável por nosso inferno. O descalabro em que estamos em realidade advém da vergonhosa desigualdade entre as pessoas. Nos insultos que a classe média fantoche e a imprensa cão de guarda têm expectorado, não se tem ouvido uma palavra sobre reforma de nossas esclerosadas instituições, expansão e qualificação de políticas sociais, melhoria do sistema público de educação, democracia participativa e, muito especialmente, políticas de distribuição de renda. Os próximos tempos não se apresentam como muito promissores, com a perspectiva do aprofundamento da guerra social em que vivemos e com a qual parece que já nos acostumamos.

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