quarta-feira, 9 de março de 2016

Som e fúria

     Fui  ontem  à  noite  assistir  a  uma  montagem  da tragédia Macbeth, de Shakespeare. Para o tirano escocês, que conquistou o poder não respeitando nenhum limite ético, chegando mesmo a exterminar quem se colocava no caminho da realização de suas ambições e entrando numa interminável roda-viva de crimes, a vida é “uma estória contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”. 
     Voltei  para  casa com a essa frase ressonando na cabeça. Quantos Macbeths dominam a política de hoje em tantos países! No caso do Brasil, eles abundam nos três poderes e são, em grande parte, responsáveis pela desorganização política e a instabilidade que reinam no país nos últimos anos. Macbeth hoje se reatualiza nos Aécios, nos Gilmar Mendes, nos Sarneys e Cunhas da vida.
     Quanto  à  falta  de  significado  da  vida em seu turbilhão de som e fúria, ao me pegar longe de casa e sozinho, roído de saudade mas tendo de viver o aqui e agora, a reflexão de Macbeth faz para mim todo sentido. Tal como o Brasil, minha própria vida possui uma forte demanda por estabilidade e segurança. Mas o tempo passa e isso não acontece. Tal como o Brasil, tenho sido eu mesmo uma eterna promessa que não se realiza. Mas é preciso prosseguir e dizer sim à vida, que vale a pena, apesar de tudo.

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