segunda-feira, 28 de março de 2016

Nosso endereço no mundo

     Há  uma  passagem  na  peça  Nossa  Cidade,  de Thornton Wilder, em que uma personagem conta sobre uma carta que um religioso local enviou para certa Jane Crofut, uma moça que vivia numa fazenda das imediações da cidadezinha onde morava. Sobre o envelope, no lugar do destinatário, ele escreveu: 

     "Jane Crofut
     Fazenda Crofut
     Grover's Corners
     Condado de Sutton
     New Hampshire
     Estados Unidos da América
     Continente Americano do Norte
     Hemisfério Ocidental
     Terra
     Sistema Solar
     Universo
     Mente de Deus"

     Este  sobrescrito  na  missiva  para  alguém  que  vive numa região rural e afastada de tudo chama a atenção para a universalidade das questões humanas. Por mais distante que estejamos dos lugares onde "tudo acontece", somos sempre confrontados com os eternos desafios humanos do sentido da vida, de encontrar um caminho no caos deste mundo, de nossa relação com o amor e a morte. Quando eu morava no lugar pequeno e provinciano onde nasci, tendo vivido a infância numa ruazinha chamada Passa Tempo que nem calçamento possuía, sendo um menino pobre e tendo crescido entre meninos pobres, eu assistia todos os dias, naquela mesma ruazinha de terra, aos mesmos dramas mostrados nas peças de Shakespeare ou nos romances de Machado de Assis. Todas as paixões humanas estavam ali contidas. Por isso não importa muito onde você esteja, mas a sua postura diante dos desafios da vida. Por isso sempre lhe falo da necessidade de ter amigos, refletir sobre seus problemas, respeitar os outros e fazer o que gosta, ainda que essas coisas não lhe tragam dinheiro, sucesso e popularidade. Elas o farão mais humano e lhe proporcionarão mais momentos de alegria. É isso o que vale a pena e o que fica desta nossa precária passagem por este mundo.

Nenhum comentário: