Por que lhe escrevo? Talvez pela vida inteira que nos foi roubada. Talvez pela triste e enorme distância que hoje nos separa. Talvez para elaborar a raiva e a frustração que já senti, fechando definitivamente todas as feridas da alma. Talvez ainda porque a palavra escrita se mantém, e um dia, quando você for maior, poderá compreender que jamais o abandonei.
Hannah Arendt, ao tratar de um momento em que a humanidade havia dado livre curso à besta-fera que existe em nós e racionalmente cometido atos da maior brutalidade, escreve que só humanizamos o mundo quando ele se torna objeto de discurso. Portanto, só podemos humanizar o que está acontecendo no mundo e em nós mesmos quando falamos sobre isso. E é no processo de falar sobre isso que aprendemos a ser humanos, pois ao falar partilhamos o mundo com outras pessoas.
Portanto lhe escrevo para partilhar o mundo com você, para ser o pai possível nestas circunstâncias, para reforçar e estreitar nossos laços, que, a despeito de todas as adversidades que enfrentamos, jamais se partiram.
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