quarta-feira, 12 de junho de 2013

O legado da nossa miséria

    Brás Cubas, o protagonista do grande romance de Machado de Assis, termina o relato de suas lamentáveis memórias com a seguinte frase: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria". De minha parte, tenho um filho a quem transmiti esse famigerado legado que um dia eu mesmo recebi. Mas tenho orgulho de tê-lo tido, pois o que importa é o que fazemos durante a vida com essa herança de fraquezas, incompreensão, ignorância, egoísmo e estupidez que infelizmente constitui a realidade humana. Brás Cubas apenas patinou pela vida em sua banalidade, que é também a de sua classe social. De minha parte, orgulhosamente tenho um filho que desejo ver se formar como um homem feliz e uma pessoa de bem, a despeito do sofrimento, das crises e das frustrações que também fazem parte da vida e que são uma das dimensões desse legado de que fala Brás Cubas. E que seus valores, sua filosofia e sua atitude sejam muito diferentes daqueles do personagem machadiano.

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