sábado, 9 de fevereiro de 2013

Da escola primária


     No fim do ano passado, num dos dias em que estive em Divinópolis, passei diante do prédio da Escola Estadual Jovelino Rabelo, onde fiz os quatro primeiros anos dos estudos primários. O prédio continua muito parecido com o que era nos anos 1970, quando fui aluno da severíssima D. Vitória, que, à parte o excessivo rigor de disciplinadora, era ótima professora.
     Quanto à escola Jovelino Rabelo, cujo homenageado não foi nosso parente, era (e ainda é) uma escola de meninos pobres onde aprendi coisas fundamentais. No meu tempo, a alfabetização ainda era feita com o uso de certa Cartilha Sodré, que vinha de gerações anteriores, dos anos 50 e 60. Mas era bem feita. Naquele tempo fiz muitos bons amigos, que foram se perdendo no turbilhão da vida. Me lembro de correrias, risos, brigas e futebol no pátio escolar. E me lembro de uma grande pedreira nos fundos da escola, onde os alunos subiam em suas brincadeiras e em sua curiosidade pelas lagartixas que lá habitavam. Dessa época me recordo ainda de uma festa junina em que me vestiram de caipira para dançar uma quadrilha. Muito tímido, me senti ridículo ao ir pelas ruas, de casa para a escola, naqueles trajes, com aquele falso bigodinho, aquela falsa falha nos dentes, aquela camisa xadrez avermelhada, a calça remendada atrás e uma botina velha...
     Hoje você está no segundo ano primário, estudando em uma boa escola particular de meninos da classe média paulistana. Vi que está escrevendo muito bem e que tem um excelente nível de linguagem. Minha única preocupação é a possibilidade de você vir a partilhar da mentalidade miserável - direitista e reacionária - da maioria esmagadora dos pais de seus colegas. Sei que é grande a possibilidade de os valores dessa corja lhe estarem sendo transmitidos. Também por isso quero estar próximo de você, acompanhar o que faz e discutir o que pensa.

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