quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Uma queda anunciada


     Acordo  um  pouco  mais  tarde  do  que  o  normal,  por haver me deitado tarde ontem, e vou ao computador verificar o resultado das eleições para presidente dos Estados Unidos, cujos dois principais candidatos estavam praticamente empatados. Foi com desolação que soube da vitória de Donald Trump, um bárbaro que não escondeu sua grosseria durante a campanha e fez uso do populismo e do histrionismo mais reles. Este é o ápice de um ano infausto em que as forças políticas mais retrógradas, eivadas de fascismo, conseguiram manipular as massas despolitizadas através da mentira e de um discurso redentor de solução fácil de nossos problemas. Aí estiveram a grande imprensa a serviço das oligarquias para lhes dar suporte e a inconsciência das redes sociais para reverberar o vazio desses "formadores de opinião" na forma de mais um entretenimento. Embora essa loucura toda vá certamente resultar no crescimento das desigualdades, no aprofundamento do preconceito e da exclusão, na radicalização dos conflitos e aumento da violência, em mais invertebração das sociedades, criminalização da pobreza, desmoralização da educação, ataque aos direitos da cidadania, deslegitimação do passado, substituição do valor pelo preço, talvez haja no atual emburrecimento do mundo algo de positivo: o apodrecimento da velha ordem herdada do século XX deve mesmo ser necessário para que ela caia definitivamente e seja substituída por outra que ainda está por ser criada. 
     Torna-se  cada  vez  mais  claro  que  a  democracia representativa como a temos hoje é um sistema fracassado em todos os quadrantes da Terra. É preciso buscar aperfeiçoar e desenvolver as formas de democracia participativa e regulamentar os meios de comunicação, estabelecendo com clareza os seus limites.
     Penso agora na "Parábola dos cegos", de Pieter Bruegel, o Velho, que nos remete à cegueira dos que caminham, em vida, seguindo os outros e não buscando seu próprio caminho. A trajetória miserável que a inconsciência política escolheu de forma tão indubitável - da qual o Brasil é um exemplo dos mais grosseiros - representa perfeitamente um tempo em que estamos sendo guiados por cegos. Como na conclusão da parábola cristã, a queda será inevitável. Resta saber de onde cairemos, se conseguiremos nos levantar e o que faremos depois.

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