Lembro-me de que, no romance A Cartuxa de Parma, um inconsolável Fabrice del Dongo, ao não mais ver sua amada Clélia todos os dias, declara: "Falta-nos um ente, e tudo se despovoa". Já houve momentos em que me senti como o personagem de Stendhal diante da ausência de meu filho. Hoje, no entanto, sinto que sua falta é que tudo povoa. Esta é uma visão talvez mais otimista ou mais madura da situação em que, há já vários anos, fomos obrigados a nos submeter. É incrível que já estejamos separados há quase dez anos e que minha ausência do Brasil já dure cinco anos. Mas espero em breve poder estar de volta a São Paulo e poder ser um pai mais presente e mais próximo agora que você inicia sua adolescência e talvez precise de uma figura de autoridade por perto. Porém desejo exercer uma autoridade flexível e negociada, embora firme. Que nossa relação seja marcada pela simplicidade, a sinceridade e alegria.
Não vejo a hora de reencontrá-lo depois de um ano e meio de uma enorme distância física entre nós. Você me conta que tem guardados três presentes para mim: do Dia dos Pais, do meu aniversário e do Natal. Estou ansioso para recebê-los juntamente com seu abraço e seu beijo. Também chegarei com algo diferente para o seu Natal, que espero poder ser passado na casa de minha mãe neste ano, se as negociações para isso não gorarem.
Quero então que meus dias sejam povoados pela sua presença.
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