quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Para caminhar nas trevas


     Neste  que  é  um  dos  piores  momentos  da  história brasileira, em que o país foi tomado de assalto pelos canalhas e em que o grosso das pessoas tem exibido o mais boçal analfabetismo político, costuma-se pensar no papel transformador da cultura como antídoto à tacanhice. Por isso espero que você esteja lendo bons livros, assistindo a bons filmes, vendo boas exposições, dialogando com as pessoas, revisando e criticando aquilo em que você acredita. Uma das coisas que mais me inquietam na separação e na distância em que vivemos é não saber muito bem como você vem sendo criado, que valores tem partilhado, o que tem feito, com quem e como tem dialogado, se de fato convive com a enorme variedade de gente e culturas que caracteriza o Brasil e que se mostra de forma evidente numa megalópole como São Paulo. Assim que eu puder retornar à cidade, quero levá-lo comigo para experimentar muitas coisas para além do casulo de mediania e provincianismo das classes médias. E vamos ler juntos, conversar muito, fazer coisas juntos e juntamente com gente que pensa e faz coisas diferentes e criativas. Espero poder ter um quarto para você em minha casa, com uma estante para seus livros e uma escrivaninha onde poderá sentar-se para ler, escrever, concentrar-se. Para lá você poderá vir quando quiser e poderá permanecer por quanto tempo desejar. Então resgataremos um pouco da vida inteira que temos perdido em virtude das desilusões do passado e das necessidades do presente.

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