quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sustos

     Recebi  hoje  uma  mensagem  de  meu  sobrinho Vinícius, perguntando por você e desejando saber como está, pois não o vê há vários anos. Respondi-lhe que meu menino está bem e me lembrei de quando você era pequeno e gostávamos de pregar peças em seu primo, fazendo-lhe medo. Saíamos os três a passear pelas ruas do bairro Sidil, em Divinópolis, onde minha mãe morava. De repente, quando Vinícius se distraía, desaparecíamos e ficávamos atrás de algum poste de iluminação ou algum muro, observando-o desesperado e sem saber o que fazer, pois ele também era pequeno e não sabia voltar para casa sozinho. Enquanto Vinícius gritava por nós, ficávamos nos divertindo com seu medo até que, poucos minutos depois, aparecíamos na rua novamente, da forma mais natural possível, para alívio do menino perdido. E de vez em quando, ao passar perto de alguma região com mato, nós o agarrávamos cada um por um braço e lhe dizíamos: "Vamos ali pegar umas cobras e uns escorpiões". Então ele se debatia e não se deixava arrastar para aquela perigosa aventura.
     Justamente  agora  estou  lendo  uma  volumosa  história de Roma antiga. Há alguns dias estava na época dos imperadores tardios, que eram autocratas com poder absoluto. Segundo a tradição, vários deles costumavam cometer as maiores excentricidades. Recordo-me de que Heliogábalo, por exemplo, que exerceu o poder por alguns anos no início do século III d.C., gostava de assustar seus amigos. Numa ocasião, durante uma farra palaciana em que eles se embriagaram e adormeceram, o imperador mandou fechar as portas e apagar as luzes, introduzindo na sala leões, leopardos e ursos. Essas feras eram domadas e inofensivas, pois haviam lhes arrancado as garras e os dentes, mas obviamente ainda eram muito assustadoras. O resultado foi que seus colegas de orgia ficavam tão aterrorizados que alguns morreram de ataque cardíaco.
     Temos  dentro  de  nós  esse  lado  cruel.  Em  nosso caso, ele era usado para nos divertirmos com nossos sustos em Vinícius, que, pelo visto, gostava de quebrar o marasmo da vida interiorana conosco.

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