domingo, 14 de agosto de 2016

Duas pontas

     Hoje  é  o  Dia  dos  Pais  no  Brasil.  Penso  no  meu próprio pai, que morreu em 2011, aos 71 anos. Pelo tipo de relacionamento que tivemos ao longo dos anos, nunca o abracei neste dia, assim como ele nunca me abraçou no dia de meu aniversário ou em qualquer outra ocasião. Nem tivemos, em momento algum, qualquer forma de diálogo peculiar a duas pessoas que se amam e que se importam uma com a outra. Atravessamos a vida como dois desconhecidos. Mas isso é agora passado e irreversível.
     Embora  eu  e  você  tenhamos  uma  relação  muito  mais próxima no que diz respeito à manifestação de carinho, com beijos e abraços dos dois lados, sinto que em grande parte também não nos conhecemos. Há já nove anos que não vivemos juntos, cinco dos quais com seu pai morando em outro país. Mais ou menos hoje está fazendo um ano que não nos encontramos pessoalmente. A última vez foi no fim de semana do Dia dos Pais do ano passado. Não sei muito bem o que você está fazendo, o que tem pensado, como tem se comportado. Nem você sabe muita coisa sobre o que tenho feito, o que tenho pensado e como tenho me comportado aqui.
     Talvez  eu  volte  ao  Brasil  até  o  fim  deste  ano, quando espero poder construir uma vida nova da qual você será uma parte fundamental. Ao mesmo tempo, mudamos tanto no turbilhão destes anos todos que receio pelo tipo de comunicação (ou falta de) que teremos. Retornarei mais velho e precisando me recriar no Brasil. E o reencontrarei entrando na adolescência e começando a enfrentar suas crises pessoais. Mas assim são as coisas. Que tenhamos a sabedoria e o amor necessários para reatar as duas pontas de nossas vidas.

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