quarta-feira, 6 de julho de 2016

Uma Pérola de alto valor


     Minhas  irmãs  me  enviam  uma  foto  de  Pérola  em  que ela está sorridente e feliz, como é peculiar a seu estilo de vida. Quando vou à casa de minha mãe, ela passa os dias me acompanhando aonde quer que eu vá. De tanto ficar comigo na biblioteca da casa, enquanto estou lendo ou escrevendo, dizem que é minha secretária. Mas seu momento preferido é o fim de tarde, quando saímos juntos para um longo passeio. Os meninos que encontramos pelo caminho sempre querem passar-lhe a mão na cabeça e sentir a textura de seus pelos, o que ela permite de bom grado. É o cachorro mais dócil que já conheci em toda a minha vida, dona de uma alegria autêntica e de uma paz de espírito verdadeiramente budista.
     Na  última  vez  que  o  encontrei,  você  me  disse  que havia passado alguns dias em Minas, pedindo que o levassem a Divinópolis numa tarde de sábado para visitar a casa de sua avó. E que, ao entrar, foi recebido por Pérola com uma lambida na perna. Ela o farejou, talvez se recordando de que gostava de sentar-se a seu lado, quando você era bebê, e ficar velando por sua segurança, embora ela mesma fosse ainda muito jovem. Lembro-me de que você gostava de me ver lutando com ela, que se lançava sobre mim rosnando mas tomando todo cuidado para não me machucar com suas mordidas de brincadeira. Com isso geralmente eu a imobilizava no chão, para logo depois soltá-la e me levantar com pose de pai herói. 
     Hoje  em  dia,  quando  minha  mãe  está  aposentada  e passa muitos dias sozinha em casa, Pérola é sua grande companhia, de uma fidelidade talvez maior que a dos próprios filhos. Como o tempo passa muito rapidamente para os cachorros, sempre que a revejo, quando vou ao Brasil, ela está com mais pelos brancos em torno da boca e alguns problemas de saúde. Lamento muito não poder conviver com Pérola mais frequentemente. Como agora você já é um rapazinho alto e forte, também gostaria de vê-lo enfrentando-a numa luta.

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